Lottie, Francês e Outras Coisas Lindas ᝰ lottienat

décimo terceiro.

JACKIE, CHEIRO DE CHUVA NA TERRA, E OUTRAS SENSAÇÕES DE LAR | natalie scatorccio point of view.

Ao contrário do restante da família, Jackie é a única que não desencoraja minhas ambições de ser atleta. Minha mãe acha que sou muito displicente, que escolhi isso porque não quero estudar de verdade; meu pai não entende do assunto, porque não tem a ver com nada que envolva negócios. Meus tios acham que ser esportista é para aqueles que sonham acordados e para competições esporádicas na televisão, não é coisa da 'vida real'. Em suma, ninguém acha que posso ser uma corredora profissional no futuro, exceto pela minha irmã.

Dos dois anos que passei sem ela na Tailândia, foram os piores da minha vida. Em busca de sair debaixo das asas frias de nossos pais, ela partiu seu caminho para cá, e lutou até o último segundo para que eu viesse junto.

Eu quis. Inferno, eu quis. Mas minha vontade, nossa vontade, não valia nada quando comparadas ao que eles impunham. Nossos pais, em suma, são negligenciadores, desatenciosos, e acham que o dinheiro pode substituir amor e carinho familiar. Além de sempre parecer que não sabemos de várias coisas sobre nossa própria vida, porque sempre tinha essa nuvem cinza indicando o clima pesado que ficava estabelecido toda vez que sentávamos pra jantar.

Resumindo, nossos pais são ausentes.

Ela, não. Ela sempre disse abertamente o que pensa sobre mim e sobre minhas escolhas, e sempre fez questão de que eu sentisse seu apoio. Frequentemente no oriente escutamos que que educar um filho é como construir um prédio. Jackie, de fato, foi a base emocional da minha vida inteira. Não só comigo, mas com tudo em volta: ela é o pilar para tudo se consolide ao seu redor.

"Eu pedi para que você viesse para cá, e estou sempre fora de casa. Nunca quis que fosse assim. É que este será meu último ano no colegial, e eu não aguentava mais viver sem você enchendo meu saco." Ela ri, do outro lado da mesa, e então enrola mais uns fios de noodles em seu garfo os colocando na boca.

É a primeira vez desde que cheguei - há duas semana, mais ou menos - que estamos 'jantando' juntas ao anoitecer. Quarta-feira é um dia mais folgado em termos de aulas e treinos para ambas de nós duas, então apenas nos encontramos no corredor e viemos para casa, famintas.

"Não se preocupe com isso." Digo gesticulando com a mão desleixadamente, soprando o macarrão instantâneo enrolado em meu garfo. "Como estão os ensaios?"

"Extremamente cansativos, como tudo o que envolve aquele colégio." Diz, terminando de mastigar, então olha para mim. "E os treinos? Vou tirar um tempo para ver sua próxima prova."

"Estou quase pedindo penico e decidindo seguir carreira de palhaça de circo profissional." Desgostosa, lambo meus lábios e trago o copo de suco à minha boca. "A próxima prova é sexta. As três primeiras colocadas vão ter a chance de representar o time no triatlo intercolegial."

Jax abre bem os olhos para mim. "Intercolegial? O que passa na televisão local e tudo?"

"Uhum." Digo, ainda incerta sobre toda a coisa.

Posso tentar ganhar a prova, participar do triatlo e perdê-lo; posso tentar ganhar a prova, participar do triatlo, ganhá-lo e ser odiada por todas as garotas do time; e posso perder a prova de vez, deixar Shauna representar o triatlo, e... continuar sendo odiada, porque elas já me odeiam.

Certo, não tentar ganhar nada faz absolutamente zero sentido, e bastou três segundos de raciocínio para que eu concluísse isto.

"Essas suas colegas de equipe estão sendo umas idiotas. Esta tarde, as encontrei em grupo na cafeteira da cantina e..."

"Por favor." Corto logo de cara. "Por favor, diga que você não pediu para elas pegarem leve comigo." Ela ergue as sobrancelhas e com a mão que não segura o garfo, pega o copo de vidro e o leva até a boca, desviando os olhos dos meus com a maior cara de pau do mundo. "Ah, Deus do céu, Jackie."