Jimin
Eu odiava tudo relacionado ao baile — os vestidos, os smokings com cheiro de mofo, a música lenta, as flores. Odiava como tudo era artificial e clichê, como tudo parecia falso, mas, acima de tudo, odiava o fato de não poder ir a um baile porque estudei em casa. Também odiava o fato de Seokjin estar no segundo ano e ir ao seu segundo baile de formatura.
— Tipo, você não poderia ir com ele mesmo, não é? E não faz sentido ele ir sozinho, sabe? — Seokjin estourou a bola de chiclete várias vezes em frente à minha penteadeira e aplicou a décima quinta camada de sombra nos olhos. Eu estava na cama, com um livro sobre o peito, enquanto meu irmão enchia meus ouvidos.
Ele tirou a sombra preta e colocou um tom marrom-escuro. O que pra mim parecia cor de lama de esgoto. Quando terminou, sorriu para si mesmo, como se estivesse muito orgulhoso de sua beleza — como se ele mesmo fosse responsável por aquilo, não a genética. Seu cabelo estava sedoso e balançava cada vez que Seokjin mexia a cabeça, o que ele fazia com bastante frequência.
— Além disso — ele deu um sorriso maldoso —, acho que ele tem uma quedinha por mim.
Ri por dentro.
Não tem, não.
Ele se virou para me olhar e comprimiu os lábios.
— O que acha? Essa cor? Ou o preto? — Ele franziu o cenho. — Não sei por que estou perguntando. Você não sabe nada sobre maquiagem. Talvez soubesse mais se a sua cara não estivesse sempre enfiada em um livro. — Ele correu na minha direção e se sentou na minha cama. Segurei o meu livro com mais força junto ao peito, mas ele o arrancou de mim e o jogou no chão.
Minha nossa. Isso deveria ser algum tipo de violência, não? Ele tinha literalmente batido em dezenas de personagens — dezenas de amigos meus. Tirar o livro da minha mão era grosseiro, mas jogá-lo no chão era o suficiente para romper os nossos laços familiares.
— Sério, Jimin. Você já é estranho por não falar e não sair de casa. Quer mesmo ser conhecido como o garoto que só lê? Isso é meio bizarro.
Seu rosto é meio bizarro.
Eu simplesmente sorri e dei de ombros.
Ele jogou o cabelo para o lado.
— Vamos voltar ao que importa. Tipo, eu tenho quase certeza de que ele está chateado porque a Seulgi terminou com ele antes do baile. Além disso, sei o quanto você gosta dele, então me ofereci para acompanhá-lo. Afinal, você não ia querer que ele deixasse de ir a um lugar que ele queria ir. Só estou fazendo isso por você, Jimin.
Que gesto nobre.
Precisei me esforçar muito para não revirar os olhos para o meu irmão. Irmão — eu usava o termo com sarcasmo agora.
— De qualquer forma, falei com o Jungkook que você tinha apoiado meu convite, então, valeu pela ajuda. — Ele me deu um sorriso falso e jogou o cabelo para o lado de novo. — Acho que o Taehyung e a Jieun vão se encontrar com a gente no jardim para tirarmos fotos e coisas assim em dez minutos. Então, e aí, qual sombra?
Apontei para o marrom porque queria que ele ficasse horrível.
Ele escolheu o preto e ficou maravilhoso.
— Perfeito! — Ele se levantou da cama, alisou o belíssimo smoking e dançou na frente do espelho uma última vez antes de sair. — É melhor eu ir logo. Jungkook deve estar me esperando. — E saiu rebolando do meu quarto.
No instante em que desapareceu da minha vista, corri até o meu livro, peguei-o e passei a mão pela capa. Sinto muito, amigos. Abracei o exemplar, fui até a janela que dava para o jardim e olhei para o meu irmão e a namorada, rindo e se abraçando com suas roupas elegantes para o baile. Taehyung tinha um jeito de fazer Jieun rir que o som chegava até mim. As mãos dela estavam sempre apoiadas no peito dele, e os olhos de Taehyung estavam sempre nela. Eu ficava imaginando como seria ser visto por olhos cheios de amor.
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O Silêncio Das Águas | jikook version
RomancePark Jimin vê sua vida mudar por completo quando, aos 10 anos de idade, presencia uma aterrorizante cena à margem de um rio. O alegre e falante Park sofre um trauma tão grande que acaba perdendo a voz. Sem saber como lidar com o problema, sua famíli...