Jimin
Eu tinha que ir ao tribunal, mas os meus pés não se moviam.
Eu usava um terno completamente preto. Meu cabelo tinha algumas ondas, e um pouco de maquiagem no rosto, graças a Seokjin.
— Você tem que estar apresentável no tribunal, Jimin. Sempre há câmeras por lá, principalmente na saída. Com uma história tão importante como essa, jornalistas com certeza estarão lá — explicou ele ao enrolar as mechas do meu cabelo.
Depois que Seokjin terminou de me tornar apresentável para as câmeras, fui até o espelho de corpo inteiro e fiquei me olhando. Todos estavam preocupados comigo depois do que tinha acontecido na loja de Doyoon. Eles acharam que eu voltaria a ficar com medo, que voltaria ao silêncio — o que era verdade, de certa forma. Não falei muito depois que o homem foi preso. Não disse uma palavra sobre o que eu testemunhei naquela floresta, mas, mesmo assim, eles sabiam o quanto tinha sido horrível ver aquela mulher ser assassinada e acreditar que eu seria a próxima vítima.
Quando fui convocado para ser testemunha de acusação, rapidamente aceitei. Eu sabia como a minha versão da história seria importante. Sabia como seria importante finalmente falar, não apenas por mim, mas por Minji. Por Yejun.
Eu estava pronto. Estava pronto para ir ao tribunal. Só havia um problema: meus pés não se moviam.
Jungkook apareceu e ficou parado na porta do meu quarto. Estava de terno azul-marinho e gravata xadrez azul-clara. Seu sorriso me fez sorrir também. Ele não disse nada, mas eu sabia o que estava pensando.
— Estou bem — sussurrei, voltando a alisar o terno.
— Mentiroso — brincou, caminhando em minha direção. Ele ficou atrás de mim e me abraçou. Ficamos nos olhando pelo espelho, e Jungkook apoiou o queixo no meu ombro. — Diga, qual é o problema. O que está se passando nessa cabecinha?
— É só que... vou ter que ficar frente a frente com ele hoje. Vou ter que me sentar ali, sabendo o que aquele homem fez, e me esforçar para não reagir. Quando eu o vi na loja, tudo aconteceu muito rápido. Foi um borrão. Mas agora eu realmente vou ter que enfrentá-lo. Foi ele que me deixou daquele jeito. Foi ele que roubou a minha voz. Como posso lidar com isso? Como posso ficar diante do homem que roubou a minha voz há tantos anos, e como eu posso pedir a ele que me devolva?
— Você não precisa pedir. Você pega. Pega tudo que ele te roubou sem pedir permissão. Sem culpa. É seu. A única maneira de conseguir isso é contando a sua história. Você tem voz, Jimin-ssi. Sempre teve. Agora chegou a hora do resto do mundo ouvi-lo.
— Podemos ouvir uma música juntos? — pedi, ainda nervoso.
— Sempre. — Ele pegou o celular e me entregou um dos fones de ouvido. — O que quer ouvir?
— Toque alguma coisa que me faça submergir — sussurrei.
Então, ele tocou a nossa música. A versão da letra feita para mim.
— Eu gosto mais dessa versão — disse ele, dando-me um beijo na testa.
* * *
Contei a minha história. Cada detalhe, cada parte, cada cicatriz. Minha família ficou no tribunal, ouvindo. Minha mãe chorou, e meu pai enxugou suas lágrimas. Seokjin e Taehyung não desviaram os olhos de mim nem por um segundo. Eu não sabia se teria sido capaz de falar em alto e bom som se não fosse pelo apoio silencioso que eles me deram.
Quando terminei, encontrei a minha família no corredor, e eles disseram que eu era muito forte por ter passado por tudo aquilo. As portas do tribunal se abriram, e Yejun saiu. Seus olhos estavam pesados, e eu consegui ver o peso do mundo nos seus ombros. Ele veio na minha direção e me deu um sorriso, que logo se desfez. As mãos estavam enfiadas nos bolsos da calça.
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O Silêncio Das Águas | jikook version
RomancePark Jimin vê sua vida mudar por completo quando, aos 10 anos de idade, presencia uma aterrorizante cena à margem de um rio. O alegre e falante Park sofre um trauma tão grande que acaba perdendo a voz. Sem saber como lidar com o problema, sua famíli...