Capítulo 8

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Jimin


Todos os dias, às cinco da tarde, eu tomava um longo banho. Eu me sentava na banheira com um livro e lia por quarenta e cinco minutos. Depois, deixava o livro de lado e me lavava por dez minutos. Meus dedos ficavam enrugados como passas. Fechava os olhos e passava o sabonete de lavanda pelo corpo. Eu amava o cheiro de lavanda quase tanto quanto amava gardênias. Gardênia era a minha flor favorita. Toda quarta-feira, meu pai ia ao mercado de produtores locais e comprava um buquê de flores recém-colhidas para colocar na minha janela.

Ele percebeu que gardênias eram minhas flores preferidas na primeira vez que as comprou.

Talvez pelo meu sorriso, talvez pelo número de vezes que meneei a cabeça enquanto as cheirava, ou, quem sabe, talvez porque ele simplesmente aprendeu a entender o meu silêncio.

Meu pai sabia quase tudo sobre mim com base nos meus pequenos gestos e movimentos. O que ele não sabia era que todos os dias, no fim do banho, quando a água quente já havia esfriado, eu afundava a cabeça e ficava embaixo d’água por cinco minutos.

Nesse tempo, eu me lembrava do que havia acontecido comigo. Para mim, era importante fazer isso — me lembrar do diabo, de como ele era. Como era senti-lo. Se não me lembrasse dele, eu me culparia pelo que havia acontecido, me esqueceria de que tinha sido uma vítima naquela noite. Quando me lembrava dele, não era tão difícil respirar. Eu pensava melhor quando estava embaixo d’água. Eu perdoava todos os meus sentimentos de culpa quando estava submerso.

Ela não conseguia respirar.

Minha garganta se fechava, como se os dedos do diabo estivessem apertando o meu pescoço em vez do da mulher.

O diabo.

Ele era o diabo, pelo menos para mim.
“Corra! Corra, Jimin!”, gritava minha mente, mas eu fiquei parado, sem conseguir desviar os olhos do horror diante de mim.

— Jimin!

Emergi ao ouvir meu nome e soltei o ar antes de inspirar profundamente.

— Jimin, a Sra. Soojin está aqui para te ver — gritou meu pai lá de baixo.

Eu me levantei da banheira e abri o ralo para a água descer pelo encanamento. Meu cabelo estava tingido de loiro, uma ideia que eu tive uns dias atrás, minha pele continuava fantasmagoricamente pálida.

Meus olhos consultaram o relógio na parede.

Seis e um da tarde.

A Sra. Soojin estava atrasada. Atrasada mesmo.

Anos atrás, quando soube do meu trauma, ela perguntou se podia vir me ver todos os dias para que eu pudesse interagir com alguém. Eu achava que ela fazia isso para fugir da própria solidão, mas não me importava. Quando duas almas solitárias se encontravam, elas se apoiavam uma na outra, não importava o que acontecesse. Ainda não sabia se isso era bom ou ruim. Talvez as pessoas pensassem que, quando dois seres solitários se encontram, era igual a regra dos sinais: menos com menos dá mais. Mas esse não era o caso. Os dois sinais negativos pareciam aumentar ainda mais a solidão, e os seres solitários adoravam mergulhar ainda mais nela.

A Sra. Soojin costumava trazer a sua gata, Muffins, com ela para me distrair no almoço. Ela sempre vinha ao meio-dia, e nós nos sentávamos à sala de jantar para comer sanduíches e tomar chá. Eu odiava chá, e a Sra. Soojin sabia disso, mas, mesmo assim, todos os dias, ela me trazia um chá feito na confeitaria local.

— Você é jovem, o que significa que é burro, então não compreende os benefícios do chá. Vai começar a gostar — prometeu. Aquela promessa era uma mentira. Nunca gostei de chá. Na verdade, eu o odiava mais a cada dia.

O Silêncio Das Águas | jikook version Onde histórias criam vida. Descubra agora