Capítulo seis.

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Havia um borrão naquela sala mal iluminada, todas as luzes indicavam estar acesas, mas o local em si estava tão apagado, os olhos verdes mal conseguiam se situar ou identificar o dono daqueles mirantes mais verdes que os seus. Um sorriso maligno projetou-se à sombra de silhueta familiar, logo os lábios começaram a se mover minuciosamente, os falares lentos causavam-o calafrios.

— Você acha que poderia chegar onde eu cheguei? Ou que poderia brilhar como eu no meu próprio país? Acorda, Sae. Eu estava me forçando a ir mal, só pra você colher esse sonho e se iludir com a chance de vitória, porque minha intenção sempre foi te destruir. Desde o início.

Os passos não haviam som, não havia nenhum barulho senão aquela outra voz, moldada pela boca que um dia o fez sentir-se tão especial. Quando próximos finalmente, o Itoshi sentiu-se andando para trás, o pânico foi aumentando a cada passo recuado. Não deveria recuar assim.

— Volte para aquele seu país de merda e nunca pise em um campo de futebol outra vez, você não vai querer que o seu time perca com um atacante metido a meio que nunca aceita a realidade. Você é o mesmo que merda, olhar para você me dá nojo, eu nunca quis ser próximo de você, você nunca foi especial.

Antes que o vulto avançasse contra si, pisou em falso devido ao temor, e então ouviu apenas um som intenso de um rasgar junto de um baque.

Sae despertou em imediato. Seus olhos normalmente inexpressivos brilhavam em terror enquanto seu corpo imóvel lutava contra sua mente para não se mover, e se sentia tão quente que estava transpirando por todo e cada poro de seu corpo encharcado de suor. Estava tão atordoado que mal havia se lembrado de respirar, quase cedeu ao inconsciente, mas bastou mover a mão para que tomasse controle de todo o resto é se jogasse para fora da cama, com isso, despertando daquele alarme de pânico de sua própria cabeça.

Xingou o além em um grito qual rasgou a sua garganta, um grito cheio de agonia, voltando aos seus sentidos quando sentiu o rosto molhado respingar uma mistura de lágrimas e suor no carpete claro, ofegando e fungando agora que desperto.

Havia tanto tempo desde que viveu esse pesadelo, as memórias ainda buscam o assustar mesmo assim, e sempre conseguem ter o mesmo efeito desesperador como se nunca tivesse lembrado de nada antes em definitivamente todas as vezes. Precisou de um prazo longo de minutos para se recompor o suficiente a se pôr de pé, encarando as próprias mãos trêmulas enquanto consolava a si mesmo, sozinho, no quarto tão escuro e agora tão frio.

Era um dia da semana, deveria ter tido mais algumas horas de descanso antes de ir até o banheiro, mas desde que acordou, ficou imóvel sentado na cama, respirando fundo, em completo silêncio, até que o alarme tocou e foi imediatamente desligado. As obrigações o obrigaram a levantar e, com muita força de vontade, pôde tomar um banho quente, escovar os dentes e umedecer a garganta seca, dolorida com a própria água da pia, não ligava para muita coisa. Imerso em pensamentos desconexos, vestiu seu terno preto, alcançando o coturno de plataforma baixa e passando gel no cabelo para deixar seu topete para cima.

Quando despertou do transe indesejado, já estava na porta de casa, ouvindo seu nome sendo chamado.

— ...san! Já falei pra você não usar os sapatos dentro de casa, ainda mais o seu coturno que você nunca lava e nunca usa. — A voz emburrada de seu irmão se fez presente logo cedo, junto da imagem bagunçada do tal. — Ah, você tá uma bagunça. Não dormiu bem hoje?

Então os esverdeados se viraram para baixo. O cinto estava mal posicionado na calça social um pouco amassada, o paletó estava com os botões encaixados nos buracos errados e, ainda por cima, estava com seu par de botas surradas qual havia jurado lavar algum dia. Nem queria se olhar no espelho para não se assustar com a imagem que possivelmente encontraria de seu cabelo no pior estado possível, além do bafo por ter escovado os dentes de forma preguiçosa.

𝐑𝐎𝐂𝐊 𝐓𝐇𝐀𝐓 𝐒𝐇𝐗𝐗 𝐃𝐎𝐖𝐍!, 𝘀𝗵𝗶𝗱𝗼𝘂 𝘅 𝘀𝗮𝗲.Onde histórias criam vida. Descubra agora