Capítulo quatro.

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Dois dias haviam se passado após o trágico ocorrido com sua paixão temporária. Shidou se admirou quando havia sido realmente bloqueado – havia testado a sorte e enviado mais vinte mensagens que nunca chegaram ao destinatário para tirar prova –, mas em nada se abalou, afinal, dois dias depois teria um outro show a fazer e mais músicas a produzir. Não se perderia por um único rapaz que havia encontrado em um dos seus milhares de shows furrecos que garantiam sua sobrevivência como artista crescente.

Pelo menos achava isso.

No momento, estava no bairro de Raichi, a vizinhança não era muito amigável com alguns em específico, mas o bairro em si não era ruim para dar algumas voltas, ainda mais quando em busca de inspiração. Precisava entregar algo bom, afinal, também ajudaria na produção do som e a empresa estava cobrando, o que era um saco para a mente que não funcionava bem sob pressão.

Por instantes, pegou-se pensando na noite catastrófica do show em Shibuya, na energia vibrante daquele pequeno espaço e da apresentação realizada naquele palco ridículo de tão minúsculo, das vozes que rasgavam as gargantas de todos que faziam barulho para a banda e seus membros, o movimento da multidão.

Por instantes, pegou-se pensando na noite catastrófica do show em Shibuya, da emoção raivosa estampada na face do sujeito que ameaçava um rapaz muito mais ameaçador que ele com uma garrafa de cerveja quebrada, na determinação em defender a si mesmo e a quem seria seu irmão, na falta de emoção durante todo o processo que houve quando se conheceram.

Não poderia negar que os mais difíceis lhe atraíam mais que qualquer outro, sentia-se como um Ethan em busca de alguém tão difícil quanto sua amada Lena Duchannes, e enfrentaria muito mais que Dezenove Luas caso a encontrasse em alguém.

Apenas seguiu tal linha de raciocínio minuciosamente, prendeu-se muito bem a vários dos detalhes dos momentos curtos, então respirou fundo antes que sua caneta mental começasse a trabalhar. Foi colhendo ideias e mais ideias no caminho de volta até a casa de Jingo, um caminho curto, onde pôde agarrar firmemente a caneta preta de pigmentação admirável e transferir sua tinta escura para um pedaço vazio de papel branco. Rabiscou até tornar aquela folha um caos, mas um caos artístico, cheio de linhas tortas e letras desconexas que foram todas interligadas quando pegou seu celular, transferindo a ideia base da letra de uma das músicas para o bloco de notas, mas ainda não era suficiente.

A maioria dos garotos estavam ocupados com seus próprios passeios e assuntos, o estúdio estava vazio, mas tudo ali estava montado. Alertou a Raichi mais velha na casa sobre o possível barulho, indo se acomodar no setup bem montado e rever a letra vezes o suficiente para finalmente criar um ritmo em cima, usando o bpm de uma música famosa nos Estados Unidos como base.

Apenas parou para pensar quando havia gastado seu tempo armando toda uma música inspirado em um único rapaz qual havia conhecido e sido descartado pelo tal tão rápido quanto fez aquele som. Surpreso, sorriu pequeno, retornando aos trabalhos para não perder aquela onda criativa que saciava todas as suas vontades de escrita.

Do outro lado, no centro de Tóquio, Sae ocupava sua mente quando voltado ao trabalho. Atolado em sua mesa naquela sala vazia do escritório, não descansava um segundo ao encarar e rever planilhas, números enormes pediam por sua atenção, além de arquivos ainda não revisados, fora a pilha desorganizada de documentos que estava contando com para futuras reuniões. A "Itoshi co." –, companhia diretamente dirigida por seus pais – estava crescendo gradativamente país à fora, o ex-jogador tomou para si a oportunidade de ingressar no mercado empresarial quando sentiu a escuridão lhe tomar.

Haviam quatro dias desde que havia retomado sua paz após bloquear um certo alguém que conseguiu lhe encher o saco mais rápido que o esperado, também haviam quatro dias desde que passou a evitar com força o Oliver Aiku, dizendo estar muito ocupado e muito focado no próprio emprego, o que não era totalmente uma mentira – e nem uma verdade. Encarando o monitor com o olhar distante, parou para que pudesse pensar um pouco, tirando proveito do silêncio breve, sendo cortado apenas pelo som do suspirar pesado escapado dos avermelhados um tanto finos do ruivo, seguido do som da bagunça de sua mente, mas não expressando aquilo.

𝐑𝐎𝐂𝐊 𝐓𝐇𝐀𝐓 𝐒𝐇𝐗𝐗 𝐃𝐎𝐖𝐍!, 𝘀𝗵𝗶𝗱𝗼𝘂 𝘅 𝘀𝗮𝗲.Onde histórias criam vida. Descubra agora