Pedro's pov;
São Paulo, 2019.João entrou em turnê. Hoje é seu último show. Tudo ocorre bem, pelo menos até agora.
Amanhã é seu aniversário. E eu fico nervoso ao pensar. Eu não poderia fazer nada. Eu mal tenho interações normais com o garoto.
É claro, é totalmente desconfortável conviver com meu ex. Porque apesar de tudo, eu ainda amo muito ele. E eu não sei se eu deveria amar.
Tudo dói, é recente. Não sei se estamos prontos para algo novamente. Mas eu quero o João Vitor, meu melhor amigo, de volta. Não o João namorado, o João melhor amigo.
Talvez era para não ser, ou era para ser é nós soubemos lidar. Ou é para ser ainda. Eu simplesmente não sei.
Todas aquelas cartas de amor. Que eu tanto sonho em entregá-las um dia, continuam guardadas. Me arrependo de não ter entregado antes. Me arrependo por não ter falado antes.
Estou em uma parte específica dos bastidores do show. Neguei direcionar o espetáculo. Acho que não consigo olhar para a cara do João o dia todo. Por isso escolhi algo mais leve. Mas mesmo assim consigo ouvir e ver o show.
Ouvir sua voz naquele palco, de músicas que obviamente é sobre nós. Prendi muitas lágrimas enquanto ele cantava "essa eu fiz pro nosso amor". Era uma música de declaração. Mas o tempo a tornou sobre o fim.
É bonita, mas dolorosa.
Foram se passando as músicas. Não pude manter o sorriso enquanto observava ele cantar Louquinho. A música que ele riu da minha cara quando mostrei a letra.
E mais músicas. Enquanto me beija; percebi sua voz embargada.
Agora, a mais temida.
- Bom, como vocês sabem, eu vivi um relacionamento nesses últimos anos, e eu sinto que eu fiz algo que eu não deveria ter feito. Eu senti as coisas mais bonitas, e agora ando sentindo as mais dolorosas. E eu não queria cantar ela na turnê.
Ele solta um risinho falso e continua.- Mas eu quero ser honesto com todos vocês. E acho que vale a tentativa. E isso também é um pedido de desculpas, meu amor.
Ao ouvir o tal apelido, meus olhos se enchem. É tão difícil, tão complicado.
Até metade da música estava tudo bem. Eu me perdi olhando todos aqueles celulares com o flash aceso. Era o seu céu, seu único céu.
- Me desculpa, Pedro.
Meu peito ardeu. Sai o mais rápido possível do local. Esbarrando por várias pessoas no caminho. Até esbarrar com Maria Luísa.
- Pepeu, está tudo bem?
Ela segura meu braço, eu prendia muitas lágrimas. Eu não poderia chorar ali.- Pedro?
Ela diz mais uma vez, eu apenas a abraço, desabando.- O que aconteceu? Pedro, fala comigo.
- A gente pode sair daqui?
- Podemos, vamos no camarim.
- Não! O Jão vai chegar lá, não! Ele não pode me ver, ele nunca mais pode me ver.
- Pedro, o que aconteceu?
Ela repetia a mesma pergunta milhares de vezes no caminho. Ao chegar no camarim, ela me entrega um copo d'água, e se senta ao meu lado no sofá.- O Jão, pediu desculpas.
Digo isso em meio de soluços.- Pedro! Isso é muito bom! Mas por que esse desespero todo?
- Não! Não é bom! Ele me pediu desculpas no meio de um show. Ele me pediu desculpas com meu próprio nome.
Malu fica boquiaberta, ela também não acreditava.
- Eu vou pedir para te levarem para casa, você não pode ficar aqui nesse estado.
Ela diz preocupada, acariciando minhas costas.- Eu agradeceria.
Sorrio frouxo._________________________________________
- Tem certeza que vai ficar bem?
Malu pergunta, enquanto entro no uber.- Tenho, fica tranquila. Beijos loirinha, te amo.
- Também te amo Peu, fica bem!
Observo a cidade. Cada luz entra pelo meu olho. Pessoas com insônia de tantos sonhos. Meus olhos lacrimejavam, doía muito.
Pago o uber e subo para meu apartamento. Observo o horário.
- Já deve ter acabado o show.
Tomo um banho gelado para afastar os sentimentos ruins; Mas parece que não adiantou muito. Coloco uma roupa confortável e sento em meu sofá. Segurando o choro como sempre.
O Twitter e o instagram. Cheios de mensagens horríveis sobre mim. Cheios de ameaças. Isso parece me decair mais ainda.
Observo os posts com atenção. Até ver uma notificação brilhar na tela.
Meu peito arde ao ver. A tal notificação me faz decair agora, totalmente.
"WhatsApp: 23:30
João: me desculpa Pedro, por favor. eu não deveria mesmo ter falado nada no show. eu fui um imbecil fazendo tudo isso. eu sinto sua falta, sinto falta de todo o nosso caos, mas por que dói tanto? eu não sei, eu também não sei o que passou na minha cabeça naquela noite. eu só quero uma chance, uma chance de conversa. eu te amo muito, e não quero te perder assim.
e de novo, me desculpa."
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𝐃𝐄𝐒𝐓𝐈𝐍𝐘, pejão.
Lãng mạne o destino nos mostra que um amor alinhado nunca é rompido, pode haver barreiras, mas nunca chega ao fim.