Conversa na beira da piscina

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Uma curiosidade sobre Ramón, Richarlyson e Empanada: os três vão encontrar uma piscina onde quer que estejam, e não vão parar de fazer olhos pidões até conseguirem convencer os pais ou tios a os levarem até a água.

Foi assim que, no sábado, logo depois de se verem pela primeira vez, Pac e Fit se reencontraram na piscina do condomínio, enquanto as crianças gritavam animadas correndo para escolher um lugar para deixar os chinelos e bermudas.

Pac estava tentando equilibrar as toalhas, os dois óculos de natação, a bolsa térmica com água e lanchinhos e manter os olhos nos sobrinhos para que eles não se metessem em confusão; portanto, não prestou atenção a sua volta, e se surpreendeu quando alguém ficou parelho ao seu ombro e uma voz grossa soou:

— Quer ajuda?

O cientista virou para ver Fit do lado dele, já sem camiseta, os ombros largos ligeiramente vermelhos de sol. Pac não pôde deixar de notar pequenas sardas ali, quase sumindo na vermelhidão, e também não impediu os olhos de correrem pelo peitoral desnudo, notando, pela primeira vez, que o vizinho não tinha um dos braços: o esquerdo terminava logo na altura do ombro, com uma cicatriz fina e bem clara na parte de baixo.

— Não quero atrapalhar — respondeu. Mesmo assim, aceitou de bom grado quando o peso da bolsa térmica foi retirado de seus ombros. — Veio pegar sol com o Ramón?

— É. Às vezes ele faz uns olhos de gato do Shrek que simplesmente não dá pra falar "não" — Fit brincou, entrando na área da piscina com Pac. Os dois se dirigiram até algumas cadeiras vazias, onde o cientista decidiu ficar. Continuaram a conversa enquanto espalhavam os pertences nas espreguiçadeiras:

— Sei como é. Os meus sobrinhos gêmeos fazem isso também. São aqueles ali. — Apontou para Richarlyson e Empanada, nadando no canto raso da piscina, para onde Ramón se aproximava de forma tímida.

De início, Fit não reconheceu as crianças, embora percebesse algo familiar nelas. Mas quando o menino baixinho saiu da água, com os cachos volumosos caindo sobre os olhos e a prótese de natação recheada de gotas cristalinas, a mente do professor deu um estalo.

— Espera! Acho que eles são meus alunos!

— Sério? — Pac franziu a sobrancelha, sentando-se em uma das cadeiras. Fit sentou na cadeira do lado, onde Ramón havia deixado o chinelo antes de correr para se jogar na piscina gelada.

— Acho que sim. Richarlyson e Empanada, não é?

— Aham! Então você é professor? Achei que era cozinheiro.

Esperando a resposta do vizinho, Pac tirou a blusa que usava, sem se importar com as cicatrizes ao redor do tronco: há muito já havia se acostumado com elas. Faziam parte de quem era. Duas delas, em especial, logo abaixo dos mamilos, eram até motivo de felicidade e orgulho quando se olhava no espelho.

Fit não pode deixar de notar as cicatrizes, mas não perguntou nada para evitar ser invasivo. Ele sabia que duas das cicatrizes eram de mastectomia, bem parecidas com as que Philza tinha, porém deixaria que Pac falasse sobre aquilo se quisesse - especialmente porque não tinham intimidade suficiente para tal. Ele observou o corpo do vizinho mais um pouco, com as bochechas vermelhas: Pac era lindo. Também notou algo que não havia registrado no dia anterior: o vizinho usava prótese na perna direita.

— Não, cozinhar é hobby de família. Dou aulas de Educação Física e de Ciências pro Fundamental na parte da tarde — continuou a conversa. — De manhã ainda não faço nada. Quer dizer, tomo conta do Ramón e da casa no período da manhã, e é quando cozinho também. Mas tô planejando começar a dar algumas aulas de violão, de forma online talvez.

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