Um presente inesperado

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O primeiro movimento foi de Pac.

Ele soube, pelo síndico – tão fofoqueiro quanto ele -, que o novo morador do 8º andar, futuro vizinho de porta, era pai solteiro. E, pelo visto, estava fazendo a mudança praticamente sozinho, apenas com um amigo para ajudar a subir os móveis e as caixas cheias de tralhas.

Pac observou-os enquanto andava pelo prédio naquela semana, vendo o homem careca parecer desesperado tentando arrumar tudo e ainda tomar conta do filho que não parava quieto. Em um dos dias, ouviu o homem reclamar em uma ligação sobre como a companhia de mudanças havia simplesmente sumido com seus móveis e eletrodomésticos. O novo morador era muito bonito - alto, musculoso, a pele branca com algumas poucas sardas nos ombros sempre expostos em camisetas regatas. Mas o que chamou atenção de Pac foram olhos castanhos, rodeados por olheiras profundas.

Era visível: o homem estava exausto.

Por isso, Pac decidiu fazer um agrado, uma forma de recepcioná-lo no condomínio de Quesadilha e também tentar ajudá-lo da forma que podia. Nunca entendeu o que o fez fazer aquilo: foi simplesmente um impulso desenfreado. Depois de passar no mercado para comprar os ingredientes, foi para a cozinha e começou a preparar o famoso frango com batatas que Bagi o ensinou a fazer.

O cheiro do frango, junto com os temperos, a salada, o feijão fresco e o arroz cozinhando lentamente na panela encheu todo o 8⁰ andar. Da casa nova, Fit e Ramón se entreolharam enquanto comiam pizza gelada do dia anterior; o menino sinalizando que estava com fome de "comida de verdade!", e o pai sinalizou de volta, prometendo que cozinharia algo assim que o fogão novo chegasse. O que ainda levaria alguns dias por causa do atraso no caminhão de mudanças.

Já era noite quando Pac terminou de cozinhar, então colocou um pouco no próprio prato e o restante dividiu em dois: um pote pequeno, suficiente para uma janta, e o restante em um pirex grande, com tampa, que deixaria na porta do vizinho assim que o dia amanhecesse.

*

Na manhã seguinte, Fit desceu até a padaria na esquina para comprar pão e frios, e, aproveitando que era sábado e Ramón não tinha aula, passou também no mercado para comprar uma lasanha congelada para almoçarem. Ele tinha consciência que não estava sendo um pai muito responsável nos últimos dias, mas estava tão cansado, exausto tanto fisicamente quanto mentalmente, que não conseguia forças o suficiente para cozinhar para o filho. Isso mudaria com o tempo, ele esperava, e, enquanto isso, contaria com as belezas das comidas congeladas.

Voltou pra casa rapidamente, equilibrando as sacolas de compras no braço protético enquanto mandava mensagem para Philza, contanto o que havia acontecido nos dias anteriores. Ele e o amigo moravam juntos há anos, e era estranho não compartilharem o mesmo teto, então tentavam compensar a distância com longas conversas, áudios e ligações. Phil era quase um irmão pra ele, um conselheiro e um confidente.

Ao chegar no andar do apartamento novo, Fit estancou, vendo uma sacola grande com algo dentro apoiado na mesinha que ficava do lado de fora - supostamente era para ter um vaso de flores ali, mas o homem não havia se preocupado em comprar um, tendo em vista seu histórico de matar plantas.

Guardou o celular no bolso e se aproximou mais, notando um pedaço de papel colado com durex na sacola. Arrancou-o e leu o bilhete:


Bem-vindos ao prédio!

Se precisarem de algo, não hesitem em tocar a campainha!

Espero que gostem de frango com batatas, é a minha especialidade XD

- Seu vizinho de porta

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