Capítulo Seis

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A semana passou em um piscar de olhos, já que passou a sair sempre mais tarde que o normal, por estudar o caso e os prontuários dos seus pacientes.
A sua dedicação e esforço, acabaria com qualquer possibilidade de falhas. Estava certa disso.

Yunah mal teve tempo de se organizar, quando notou que faltavam poucos minutos para o horário do seu próximo paciente: Min Yoongi.

Não conseguiu evitar revirar os olhos, em derrota, sabendo o que estava por vir. Naquele dia, escolheu usar um sapato novo que estava matando seus pés, se tivesse se lembrado que precisaria andar o hospital todo para resgatar um paciente, teria escolhido um mais confortável. Mas como não tinha escolhas, respirou fundo e seguiu para procurá-lo.

Alguns minutos depois, o encontrou na sala de instrumentos.
Estava novamente concentrado nas páginas do livro que parecia sempre estar a seu alcance. dessa vez, conseguiu se aproximar o bastante para ser o nome na capa, "Amêndoas".

- Sobre o que fala?

Yoongi se assustou com a abordagem repentina, soltando um palavrão, já que não havia visto a mulher entrando no ambiente.

- Isso foi um palavrão ou a resposta sobre o tema do livro? - Tentou introduzir uma conversa mais leve, mesmo ainda não tendo se livrado da sensação de que, em poucos minutos, ele faria tudo desandar. - Espero que não seja o tema do livro, seria um tanto estranho um hospital com esse tipo de material disponível.

- Nesse hospital tem coisas muito mais estranhas do que isso, se quer saber, doutora. - Assistiu a morena se acomodar na pequena cadeira da bateria, que ficava disposta ao lado do piano onde ele estava sentado.

- E então? Sobre o que fala o livro? - Yoongi estranhou o fato de que não foi solicitado para que ele a acompanhasse até o consultório, como sempre era feito com a médica anterior. Então esperou mais alguns minutos antes de responder, vendo a médica cruzar as pernas e ajustar os sapatos que, pela ferida que pôde notar, estavam machucando seu tornozelo.

- Sobre um cara que não tem a capacidade de ter ou perceber as emoções, por causa de uma condição neurológica. Até que a família dele morre e ele tem que se virar sozinho. - Solta uma risada amarga. - Conhece alguém parecido, doutora?

- Não. - Por impulso, responderia que não, pois só conhecia quem havia matado a família. Entretanto, seu profissionalismo falou mais alto antes de concluir sua linha de raciocínio em voz alta. - Conheço apenas os que conseguiram se virar tendo minha ajuda. Devia querer conhecer alguém assim. Seu 'eu' do futuro, talvez...

A frase foi deixada no ar, mas uma fagulha minúscula se acendeu rapidamente no peito de Yoongi. Logo foi apagada, mas, por um segundo, ele pensou em um 'eu' do futuro menos fodido. Talvez mais livre e, com toda certeza, mais feliz. Isso jamais seria possível de novo.

- Meu 'eu' do futuro deve estar pendurado pelo pescoço em alguma das árvores do pátio por ter perdido a paciência de viver essa merda todos os dias. - Disse rindo, mas seu sorriso não chegou aos olhos e Yunah percebeu o fundo de verdade dentro da brincadeira.

- Você tem pensamentos suicidas? - Ele a olhou nos olhos e bufou, em escárnio.

- Sempre chega a hora dessa pergunta. Vocês só passam na faculdade se aprenderem a questionar sobre isso?

- E você sempre responde uma pergunta com outra? - Zombou de volta.

- Claro que não. Se fizer a pergunta certa, a resposta será apenas "sim".

- E qual seria essa pergunta? - Perguntou sem realmente entender a intenção dele por trás do comentário. Mas o sorriso completamente malicioso que recebeu na sequência, respondeu todas as suas perguntas.

- Nem queira saber, doutora... Não queira.


"Respira fundo, não deixa ele te estressar." Repetiu o mantra que passaria a usar em todos os dias de sessões com Min Yoongi.

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