cinco

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𝒔𝒆𝒖𝒏𝒈𝒎𝒊𝒏

A chuva estava caindo de forma intensa lá fora, e algo dentro de mim gritava de forma vigorosa. Essa voz me dizia para sair e correr sem uma direção, apenas seguindo meu coração descompassado e confuso.


Tentei me distrair o máximo possível para me livrar desse pensamento intrusivo, fiz tudo que pude e nada ajudou, então decidi sair.

Peguei meu casaco e um capa de chuva, as chaves de casa e deixei o meu celular sobre a mesa da cozinha, não queria ter que atender mais ninguém para explicar sobre o quão miserável está sendo a minha vida sem o meu amor.

A chuva encharcou meu sapato assim que eu pisei fora de casa, talvez a força da água que caia levasse junto consigo o lado mais impuro e solitário da minha alma.

Andei por duas ruas, encarando o céu e vendo pessoas se divertindo. De um lado da rua, havia um casal correndo para não se molhar mais, e do outro, um homem sentado em um banco.

Parecia imóvel, talvez morto por dentro. Uma definição forte para um desconhecido, mas sua inexpressividade me fazia declarar isso.

As lágrimas sem parar se misturavam com a água da chuva e eu me praguejei. Não sei em qual momento ponderei ser uma boa ideia sair assim. O conforto da minha casa estava melhor para afogar as minhas mágoas.

Atravessei a rua para voltar para casa e passei pelo rapaz que estava chorando. Seu soluço estava muito alto, mas parecia que ainda havia algo preso em sua garganta, é como se chorar por horas ainda não fosse o suficiente para se livrar de tanta dor.

Me aproximei e coloquei a mão sob o ombro do rapaz. O corpo alheio se estremeceu com o toque, e eu me estremeci mais ainda quando reconheci aquele olhar.

— Você sempre me acha quando eu tento fugir. — ele disse, com um olhar vago. Agora tento entender metade do vazio que ele carrega.

Jeongin me ensinou que amar de cabeça é mergulhar em um vasto mar, talvez mergulhar em mim tenha secado a água do mar que ele carregava em si mesmo

— Você está bêbado? — me sentei ao seu lado, meio desajeitado e sem saber como me aproximar.

— Bebi só um pouco. — riu, fazendo o sinal representativo com os dedos.

— Me desculpa.

— Por quê? — Jeongin me encarou e tudo em mim doía.

Os lábios ressecados e machucados, as olheiras escuras e fundas, os olhos e nariz vermelhos. Toda a felicidade que ele tinha em si parecia ter sido drenada.

— Por não perceber que você estava sofrendo também, por ter feito tudo ser sobre mim, por ter excluído a sua dor. Meu amor, me perdoa.

— Eu só precisava de um tempo, juro que iria voltar. — sua voz quase não foi ouvida por mim, a chuva só aumentava. — Não foi você que excluiu a minha dor, foi eu mesmo. Não achei que era válida comparada ao que você sofreu.

— Jeongin, por Deus. Tudo que você sente, pensa ou fala me importa. Eu não sou forte o suficiente para seguir em frente sem você. Eu te amo e perceber que você não confiou em mim para dividir isso me matou por dentro. Você não precisava ter ido embora, nós deveríamos ter conversado.

— Não sei como contaria para você o que está acontecendo se não sei dizer o que sinto.

Puxei seu corpo gélido para mim e o abracei, senti o choro desesperado dele recair sobre a minha nuca e o apertei o máximo que pude.

— Eu te amo muito. Você é a pessoa que mais me importa nessa vida toda, você não tem noção do quanto eu sinto muito por tudo isso que está acontecendo. Por onde você esteve?

— Dormindo em quartos de hotéis de procedência duvidosa. — riu baixo. — Na verdade, não dormi. Não consigo adormecer se você não estiver comigo.

— Promete que não vai mais fazer isso? Por favor, não foge mais de mim. Eu posso apresentar soluções para tentar amenizar sua dor, posso cuidar de você como você cuida de mim, posso te provar meu amor todos os dias, mas não posso aguentar viver sem você.

— Eu pensei muito em tudo, vou voltar para a terapia.

— E para casa?

— Também. Se você ainda me quiser. — ele disse com a voz trêmula.

— Eu nunca deixei de querer.

all again - seunginOnde histórias criam vida. Descubra agora