CAPÍTULO 1

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O Beijo do Cowboy

LUCIANO

NÃO SABERIA DIZER como tudo começou caso alguém perguntasse. Tudo o que me lembro era de ter bebido um pouco e dito que seria legal beijar meu amigo.

Na verdade, acho que não foi bem assim.

Faziam 100 dias desde que havíamos nos encontrado pela primeira vez. Inácio, Antônio, Daniel e eu fomos contratados para cuidar dessa grande fazenda de café de uma família rica da capital. Desde então, deixamos nossos parentes e amigos para trás e viajamos para esse lugar distante e desolado a 27 km do povoado mais próximo.

Era nosso dever cuidar da casa grande, dos animais e principalmente da plantação. O lugar tinha regras explícitas: não eram aceitos visitantes e deveríamos impedir qualquer possível invasão a todo custo. Esse era o nosso dever, foi para isso que fomos contratados, fazíamos o serviço e cuidávamos da propriedade. O trabalho era árduo, mas recebíamos um bom salário, podíamos buscar suprimentos duas vezes ao mês no povoado, possuíamos nossos próprios quartos em um alojamento feito especialmente para nós - embora muitas vezes Antônio preferisse dormir no celeiro - e podíamos nos comunicar com nossas famílias por cartas já que não tínhamos acesso a meios de comunicação mais modernos.

E cumprimos nosso papel solenemente dia após dia, lutando contra a saudade de casa e lidando com as diferenças de cada um. Um vínculo de amizade se formou desde então, pois pelo o que parece, aprendemos que precisamos uns dos outros para manter isso de pé.

Naquele dia em especial tínhamos comprado bebidas e comidas especiais, tínhamos vestido nossas melhores vestes e estávamos a comemorar nosso centésimo dias juntos.

Havia uma música de fundo e Daniel e Inácio tinham dançado juntos, arrancando sorrisos. Parecíamos felizes por termos uns aos outros, isso era uma coisa muito legal de viver. É claro que preferíamos estar com nossos entes queridos - em especial o Dan que tem três filhos e o Inácio que deixou uma noiva grávida -, mas era bom que nos déssemos bem ainda que na maior parte do tempo discordássemos uns dos outros.

E naquele momento o sorriso de Inácio me deixou constrangido. Não sei porque eu tinha falado aquilo, talvez eu tivesse bebido vinho demais ou só estava alegre por finalmente ter um momento legal que não fosse só trabalho e que pudéssemos relaxar de verdade, mas foi como se simplesmente tivesse saltado da minha boca para fora. Foi estranho.

Eu não diria isto em um dia normal, em momento algum, para ser sincero. Tinha total confiança na minha masculinidade, o que me fez pensar se não fora somente a carência falando mais alto. Talvez eu não devesse me preocupar tanto, tinha falado e não poderia desfazer, e além do mais era coisa de bêbado, algo sem importância.

- Acabaram os limões para a margarita - ele disse, deixando o copo na mesinha. Os outros dois estavam conversando tão alto que podiam cobrir o som da música. - Luciano, você me ajuda a buscar?

Os dois pararam de conversar.

- Por que precisa que o Luciano vá junto? - Daniel perguntou, brincalhão. - Tá com medo de se perder?

Antônio sorriu, dando uma tragada em seu tão querido charuto.

- Não tá vendo que eu quero ter um momento a sós com meu amigão? - Inácio deu uma tapinha no meu ombro, entrando na brincadeira.

- Tudo bem, leve o homem. Mas juízo, rapazes! - disse Toni.

- Pode deixar, capitão. - Falei a ele enquanto voltamos para o alojamento. A música mudou para um som de vaqueiro do grupo Fronteira e Antônio foi novamente arriscar uns passos de dança.

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