Amigos, Amigos... Interesses À Parte
ANTONIO
ESSE ERA O Dani que todos conheciam: um rapaz mau encarado, com um comportamento que podia ser classificado como bipolar, pois ora estava sorridente e simpático e ora estava fechado em seus próprios pensamentos; um trabalhador dos grandes, sempre acordando cedo e fazendo suas atividades com rapidez e com eficiência; um daqueles caras que nos faz perguntar "como diabos ele veio parar aqui?"
O mais jovem de todos era também o mais responsável, e também o mais atraente. Daniel sempre ficava encarregado de pastorar as ovelhas nas montanhas, e eu geralmente o observava voltar lá pelo meio dia, em seu cavalo negro, sem camisa e com os cabelos grudados na testa, mirando seus olhos verde-mar para todas as direções.
Era inegável, o cara era bonito como um galã. Um garanhão literalmente com apenas vinte e seis anos; casado com uma moça da capital, já com três filhos e muitas responsabilidades para quem viveu tão pouco.
Se por fora ele era um Cowboy raiz, por dentro ele era um menino da capital, apenas tentando ganhar a vida de um jeito diferente do que fez em outras épocas.
E como sei de tudo isso? Simples. Quando o vi pela primeira vez soube que havia algo de especial nele, um talento único para o serviço, um cara inteligente que estava desperdiçando a vida por conta de suas obrigações. Eu sabia que era com ele que deveria colar, andar, trabalhar e unir forças. Conquistei sua confiança muito rápido, e, uma amizade agradável se formou entre nós. Só que aí aconteceu aquilo.
Sabia desde o início que ele iria ceder em algum momento, afinal eu sempre consigo o que quero; quer dizer, eu não sou de longe o mais bonito por aqui, e além de tudo, sou também o mais velho com meus trinta e seis anos, mas isso não quer dizer que eu não tenha minhas qualidades. Eu gostava mesmo do Dani como um amigo ou até mesmo como um irmão mais novo, mas depois que ele descobriu o meu segredo, me senti na obrigação de virar o jogo, deixar as coisas equilibradas e isso, tenho que admitir, mexeu um pouco com o ego dele.
Ele já não me via com os mesmos olhos de quando nos conhecemos, e dou a ele toda a razão para preferir me ter apenas como mais um companheiro de trabalho. Mas é verdade que eu adorava dele. Daniel Castro é um cara com uma aura especial, o tipo gente difícil de se encontrar por aí, e eu o tinha bem aqui nessa fazenda abastada.
Bom... tinha e não tinha.Na noite anterior, durante a festa, enquanto bebíamos e comemorávamos nosso centésimo dia na fazenda, ele sentou-se ao meu lado, comeu comigo, conversou e até dançou; ele sorriu das minhas piadas, ajudou-me a provocar os rapazes e beijou minha bochecha antes de começar a chorar por conta da saudade da família e literalmente apagar de tão bêbado.
Agora ele estava amarrando Pégaso na cerca e vindo até mim, que estava apoiado na outra extremidade da cerca, olhando fixamente para ele.
- Como foi? - perguntei.
- Hm, normal. As ovelhas daqui são muito fáceis de pastorar.
- Vai deixá-las na montanha esta noite?
- Não tenho muita escolha, precisamos avançar nessa droga de plantação. Sabe dizer se o Inácio já conseguiu concertar o sistema de irrigação?
- Perfeitamente. Embora ele estivesse meio detonado de ressaca.
- Ótimo, assim podemos começar logo.
- Bom, temos aí duas horas até voltar ao trabalho. O Fernandez está fazendo alguma coisa pro almoço.
- Deus seja louvado - ele tirou uma mecha ele cabelo da frente dos olhos. - Não me recuperei ainda da fritada de Inácio.
Dei uma risadinha.
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O Segredo Deles
RomanceEm uma fazenda de café abastada, quatro peões compartilham a saudade de casa e da família e seus segredos e desejos mais profundos. Mas com a chegada de um novo companheiro de equipe, as coisas começam a fugir do controle. "Tive a curiosidade de fic...