capítulo I

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Boa leitura!

- Eu cheguei primeiro - Eu disse quando apenas um olhar de reprovação não foi o suficiente para expulsá-lo do elevador naquela manhã.

Ele riu em escárnio com a minha fala, é um grande babaca! Quando Enzo se tornou meu vizinho, eu não pensei que o odiaria tanto, mas ele tinha esse ar de superioridade e parece que isso só acontece comigo.

- Garoto, você acha que é dono do prédio para ditar quem pode ou não pode entrar no elevador? É tudo no seu horário?

- Como você é um senhor de idade, eu vou desenhar para você. Isso aqui é uma linha (movimento as mãos em linha reta para representar) e nós não passamos para o campo um do outro. Ou seja, eu cheguei primeiro, você vai de escada ou espera o elevador voltar.

Enzo parecia desacreditado com o que eu havia dito, ficou parado olhando para mim enquanto eu entrava no elevador e apertava o botão para fechá-lo. Contudo, para a minha infelicidade, ele entrou como se não tivesse escutado nada do que eu falei, sabia que não seria tão fácil. O Vogrincic não era fácil de lidar, muito pelo contrário, era muito difícil! Ele é tudo o que mais me irrita, o fato de que eu não tenho uma boa convivência com o mesmo me irrita ainda mais.

Lembro-me quando o moreno chegou à vizinhança, eu ainda não tinha o visto, mas uma senhora muito simpática do andar abaixo do meu disse que eu ia ter um vizinho bonito para olhar. Fiquei curioso e corri para saber quem era, queria que ele gostasse de mim tal como todos os outros vizinhos. Entretanto, ele me odiou no primeiro olhar.

- A porta abriu, você não tá vendo? Vai ficar subindo e descendo sem parar?

Olho para a Enzo que estava segurando a porta e me olhando com a maior cara de tédio. Mas eu só consegui dar uma risadinha com a sua fala, apesar de estar me tornando professor, ainda me sinto aquele menino com piadinhas do quinto ano escolar. Acho que é esse o motivo de seu ódio por mim, ele me acha uma criança.

- Você pode parar com isso? 

- Parar com o que, Enzo?

- Com isso! Você passou por mim e não falou um "obrigado" por eu ter segurado a porta, ainda é cheio de gracinhas, você não tem educação?

- Obrigado por ter segurado a porta, satisfeito agora? Sinto em informar, mas você vai ter que conviver com as minhas gracinhas mais vezes. Mas se está incomodado, arrume outro lugar para morar. E para a sua informação, eu tenho muita educação, você é quem não sabe aproveitá-la.

Falei e virei as costas tomando o meu caminho, esse homem sabia me tirar do sério, além de tudo o diabo era bonito. Deus, como ele é bonito! Eu o odeio de todas as formas possíveis por isso.

《...》

Olhar o rostinho dessas crianças aquece o meu coração, tenho certeza da profissão que escolhi para mim. Quando decidi me tornar professor, eu era apenas um menino, gosto de ver que eu estou realizando aos poucos esse desejo.

Me despeço de todas as crianças com um beijinho no rosto, pois teria aulas da tarde na faculdade. Infelizmente eu não tenho um emprego fixo que pague um bom salário, apenas um estágio que falta um mês para o contrato acabar, ou seja, apenas mais um mês de salário. Falei para Enzo se mudar, mas parece que quem vai fazer isso sou eu.

Caminhando para a faculdade eu penso em como ganhar dinheiro para continuar morando no lugar que amo viver, não vou conseguir manter todas as despesas, já é difícil com o salário de estagiário, sem ele fica impossível.

Saio dos meus devaneios quando um carro passa por cima de uma poça de água e me molha por inteiro, o dia não poderia ficar melhor! 

Enquanto vejo o estado das minhas roupas, escuto risadas sem parar e quando olho não acredito no que vejo, Enzo está escorado no carro rindo como se tivesse visto a coisa mais engraçada do mundo. Claro que é ele, é sempre ele!

- Garoto, você é mais burro do que eu pensava, como pode não desviar? - ele veio andando bonito na minha direção, enquanto batia palmas rindo.

- O que? Eu deveria desviar? Você que deveria ter mais respeito pelas pessoas, aposto que fez de propósito. Você não cansa? Você vive essa sua vida de herdeiro que não trabalha e ainda atrapalha a vida dos outros.

Ele não pareceu afetado com nada do que eu falei, muito pelo contrário, agora o homem me olhava desafiador.

- Vida de herdeiro? Você ao menos me conhece para falar algo assim, tampinha. Eu trabalho, sabia? É claro que não sabia, você passa os seus dias ocupado em fazer amigos pelo prédio. Inclusive, para que isso?

- Sim, vida de herdeiro, você não aparenta trabalhar. Eu gosto de ter uma boa convivência com as pessoas, o que deveria te agradar também. E não me chame de tampinha.

- Não me agrada ter amizades com pessoas como você.

- Como eu? E como eu sou? Olha o que vai falar, posso te denunciar por preconceito. Já tenho todo o plano, você vai preso e eu vendo o seu apartamento pra ficar com a grana.

- Você é uma criança mimada que fica com raiva se as pessoas não gostam de você.

Aquilo me atingiu como um soco na face, as vezes nossas discussões iam para além do imaginado. Eu não era uma criança mimada, mas meu falecido pai me disse uma vez que devemos ser agradáveis com todos, principalmente com quem está ali do nosso lado. Mas parece que nem todos apreciam gentileza ou sabem o conceito de educação.

- Você é o mal na Terra.

- Mal na Terra? Vamos lá, você já me ofendeu de formas melhores, Chiquito.

Apenas respirei fundo e comecei a andar para longe dele, precisava chegar na aula o quanto antes e escutar risadinhas dos meus amigos por eu estar naquele estado. Mas parei quando Enzo me puxou pelo braço e perguntou se eu não iria para casa.

- Eu tenho aula agora, Enzo.

-Você vai nesse estado? Eu te levo em casa rapidinho e você se troca.

Pensei bem em sua proposta e fiquei surpreso por ele fazê-la, mas não podia voltar para casa, sabia que não iria querer sair depois.

- Não, obrigado. Se eu for para casa, vou ter preguiça de sair novamente e também não quero entrar no seu carro.

- Depois eu sou o encostado e eu não vou te morder se você entrar no meu carro.

- Você não cansa de me irritar, Vogrincic?

- Você tem que falar meu nome tão bonito? Mierda...

Ele sussurrou tão baixo que por um pouco eu não escutava, resolvi deixar para lá, estava cansado de soltar farpas naquele dia. Eu preciso pensar na minha situação atual e ela não tem nada a ver com Enzo Vogrincic.

Oi, gente! Como vocês estão? Esses dois ainda vão brigar muito por aqui.

A maioria dos capítulos é na visão do Matías, mas vão ter alguns na visão do Enzo.
É isso, espero que gostem!

same wall | Enzo Vogrincic e Matías Recalt Onde histórias criam vida. Descubra agora