Capítulo X

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Boa leitura!

Hoje foi o meu último dia de estágio, após muitas lágrimas e despedidas difíceis, eu voltei para casa. Quando comecei nesse estágio, eu não pensei que me apegaria tanto a todas as crianças, mas foi tão difícil não amar cada rostinho fofo, foi tão bom enquanto durou, mas agora preciso lidar com a parte da despedida que foi o momento mais complicado de todos esses meses. O fato de que eu não sei lidar com despedidas deixa tudo pior.

Os alunos trouxeram um bolo e comemoramos o tempo que estivemos juntos, comemorar parecia a melhor ideia para não fazer doer tanto. Acredito que estou assim não apenas pelo fim do estágio, mas também porque amanhã faz dois anos que o meu pai se foi. É disso que vem a minha péssima falta de controle quando tenho que me despedir de alguém, eu nunca sei quando vai ser a última vez. Com o meu pai eu costumava flutuar, agora parece que eu afundo cada vez mais.

Passei grande parte dessa semana sozinho, o que tornou tudo pior, Enzo trabalhou todos os dias e todas as noites. Gosto dos meus momentos de solidão, mas não queria ficar sozinho logo agora, torci todos os dias para que ele voltasse para casa. Já tem um tempo que eu moro no apartamento dele, sinto que sou um peso morto na maior parte do tempo, mesmo ajudando no que eu posso, gostaria de retribuir tudo o que ele faz por mim.

Eu arrumei o apartamento, arrumei de novo e arrumei novamente, coloquei as roupas para lavar e passei uma por uma, tomei banho várias vezes. Então percebi que não adianta me encher de ocupações porque o vazio está dentro de mim, ele me segue até em momentos de muita agitação. Eu costumo ficar assim nessa época do ano, é melancólico e solitário, a minha mãe se esconde durante todo esse dia, não posso julgá-la, faço o mesmo. Mas talvez, só talvez eu não quisesse ficar sozinho hoje, não quero dormir essa noite e quero fingir que o amanhã não existe. Fingir que o amanhã não vai chegar e eu vou ter voltar para aquele momento, aquele dia onde parece que a minha vida terminou.

Me convenci a parar de pensar sobre tal assunto, não quero mais pensar nisso apesar de parecer inevitável. Eu coloquei Lana del Rey para tocar em um volume consideravelmente alto e comecei a rodopiar pela sala, dançando de uma maneira que me sentisse livre, tentando esquecer por um momento toda essa fase ruim. O vento entrava forte pela janela, as cortinas balançavam, a voz da Lana estava perfeita como sempre e eu dançava me sentindo um profissional. Quando pulou para a próxima música, eu abri os olhos e me deparei ele me olhando, parado na porta, fiquei pensando se estava ali a muito tempo e eu não percebi.

- Você dança bem pra quem parece ter dois pés esquerdos.

- Isso é algo gentil de se falar, Enzo.

Eu não gostei do silêncio que ficou após a minha resposta, ele continuou parado me olhando e eu continuei parado no meio da sala, meio encurralado como uma presa fácil. Acredito que tenha passado bons minutos, a música trocou e agora tocava "sad girl" e eu posso dizer com propriedade que não é a música ideal para a ocasião, pois só deixa ele mais bonito.

- Vamos dançar.

Eu não tive tempo de responder, ele veio caminhando até onde eu estava, Lana cantava que o homem dela tinha fogo e demonstrava isso ao andar, eu senti, eu realmente senti porque posso dizer o mesmo. Ele pegou na minha cintura, colou nossos corpos, bem perto e balançamos no ritmo da música.

He's got the fire
And he walks with it

Um beijo no pescoço

He's got the fire
And he talks with it

Um cheiro no cabelo

His Bonnie on the side, Bonnie on the side
Makes me a sad, sad girl

same wall | Enzo Vogrincic e Matías Recalt Onde histórias criam vida. Descubra agora