Acordei-me com os sons de batidas na porta do meu quarto, uma leve dor de cabeça me atingiu imediatamente ao me erguer na cama, o corpo ainda meio enfraquecido. Resmunguei ao sentir mais uma pontada na cabeça, fazendo-me escorar no suporte da cama.
Agora, sentada enquanto tentava achar minha voz para falar um: "pode entrar", já imaginava quem seria. Então, as batidas na porta se repetiram. Dessa vez, acompanhadas de uma voz.— Ella? Está acordada?
Inspirei profundamente deixando o ar sair devagar, enquanto meu coração batia acelerado ao pensar que, provavelmente, Léon deveria querer falar sobre o aconteceu a noite.. e sobre o dia de hoje.
O que, consequentemente, poderia levar ele a querer conversar sobre tudo aquilo que estamos evitando desde que eu cheguei.E eu sei que não posso mais fugir disso. Por mais que eu queira.
— sim, estou.
— posso entrar? - indagou, me fazendo ponderar por um momento.
— pode.
Assim que eu terminei de falar, ele adentrou o quarto, demonstrando que a sua serenidade estava levemente misturada com nervosismo enquanto ele caminhava em minha direção, cumprimentando-me com um beijo no topo da minha cabeça e, em seguida, se sentando ao meu lado. Admiti para mim mesma que aquele pequeno afeto era o que eu precisava... na verdade, acho que ainda vou precisar de muito mais.
— como está, querida? - perguntou, cuidadoso. Analisando meu rosto. — parece que chorou bastante - concluiu após sua inspeção. Fingi neutralidade, pensando no que eu responderia.
Responder que eu estou bem não é uma opção, e que eu estou mal também não.
Respira fundo, Ella.
Precisava por meus pensamentos em ordem, eu não queria mentir e, além do mais, havia falado para mim mesma que o deixaria se aproximar. Ali estava a ocasião para isso. Por mais difícil que fosse.
— não sei, acho que "menos" pior do que estava antes - respondi, o mais sincera que consegui.
Então, ele concordou com a cabeça. Tentando compreender o que eu havia dito. Alguns segundos de silêncio foram precisos para isso, parecia estar procurando as palavras certas para me dizer.
— vou ser sincero, querida... não sei o que te falar sobre tudo isso - confessou, transparecendo seus sentimen- tos. E acho que, em parte, isso já ajudou um pouco. — só sei que sinto muito por você ter perdido a sua mãe, a Bel era uma mulher incrível... inexplicável - suspirou, engoli seco. Lutando contra as lágrimas que, mais uma vez, brigavam para serem libertas.
Minha mãe era realmente uma mulher que é incapaz de alguém conseguir descrever com alguns simples adjetivos e eu a amava — e ainda amo — mais do que tudo, por mais que depois que ela se converteu insistisse que não deveria ser assim, eu deveria amar a Deus sobre todas as coisas e não uma pessoa "comum". Era nesses momentos que se tornava complicado controlar minha língua e não gerar uma pequena discussão. Pois, apesar dos pesares, eu e mamãe tínhamos nossas diferenças.
Não é de agora meu jeito "complicado" de pensar, sentir e ser.
— eu sei que é difícil, Ella.. mas devemos falar sobre as coisas que estamos evitando - falou, me fazendo respirar fundo. — sobre a sua mãe, dos seus sentimentos, dos familiares que você ainda não conhece e...
— do porquê você nunca apareceu antes.
Eu havia dito. Minha voz envolta da amargura que ainda vive em mim.
Agora não era o momento, não era mesmo o assunto mais importante que deveríamos falar. Tinha coisas mais sérias a serem ditas e tratadas, mas eu deixei a raiva e a emoção falarem mais alto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Deixa a Luz Entrar
RomanceIr morar na Espanha, com um pai que Antonella mal sabia que tinha, deveria ser um sonho se realizando. Mas, na verdade, era um pesadelo... Já que o motivo para estar saindo do Brasil era a perda da pessoa mais importante de sua vida. Com isso, sua...