Antonella López
Acordei com alguém me chamando, meu cérebro mal estava racionando direito, muito menos para saber de onde vinha os berros, apenas se perguntava: Que horas são? E quem está nesses gritos? E por que não me deixam dormir?
— Ella! Ella! Acorda!
— o quê? - resmunguei ainda de costas para a porta, com os olhos fechados e cobertor por cima da cabeça, foi aí que me liguei que estava mais um dia viva. Obriguei-me a suspirar e tentar não me sentir ainda pior por ter esses pensamentos.
— você tem aula, na Sant - Miguel disse como se fosse o óbvio, fechei os olhos ainda mais forte.
Por favor, que seja brincadeira. Por favor.
— hoje? - resmunguei outra vez antes de tirar o cobertor de cima de mim e me obrigar a ficar sentada na cama, com a cara completamente amassada por ter dormido um bom pouco depois de jantar e olhar novamente outra partida de futebol entre os meus irmãos contra o Juan.
Pois é, três contra um, talvez não fosse muito justo levando em conta aos números de pessoas, mas nas palavras dos meus irmãos "é injusto alguém jogar com o Ju, ele é o melhor e joga no profissional, ele vai sempre ganhar mesmo que a outra pessoa não faça nada e só estorve."
Então, eu estava apenas olhando, dando a minha opinião, às vezes como "técnica" dos pequenos e às vezes como "juíza" das partidas.
Conversei o básico com Pasión, já que eu não estava me sentindo muito confortável quando fui praticamente obrigada a me sentar do lado dele por conta da falta de lugares na mesa escolhida para jantarmos — ainda acho que fizeram isso de propósito —, provavelmente porque sinto que ele sabe que eu queria jogar ou que sou uma fresca e porque ele deve ter pego uma má impressão de mim por ter mentido para Léon e Rebeca, então, segundo minha conclusão — por conta dos fatores ocorridos —, Juan está apenas me tratando bem por educação.
— papá disse que vai levar você no colégio - Mig disse me trazendo de volta para a realidade, fiz uma careta por ter que levantar da cama enquanto tentava acalmar o turbilhão em meu peito por saber que iria passar mais um tempo com Léon, convencendo a mim mesma a abaixar minhas expectativas o máximo que pudesse para não me decepcionar de novo.
O fato de lembrar-me que ele nunca esteve presente em minha vida — ou que nunca precisei dele antes — ajuda bastante nesse processo. O problema era o lado do meu cérebro que queria acreditar e seguir a ideia do meu coração bobo, de pensar que Léon realmente não sabia da minha existência — como Juan deixou escapar na noite que nos conhecemos — e que se soubesse, teria ido atrás para estar presente em minha vida, então, agora que finalmente teve a oportunidade de estar comigo, eu deixar ele realmente fazer parte da minha vida e ele demonstrar seu amor por mim.
A grande falha do plano do cérebro+coração é que eu não sei se é verídico que Léon realmente não fazia ideia de que tinha uma filha e que além disso, essa filha é extremamente fechada e não sabe quase nada de futebol — que aparenta ser aquilo que ele mais ama — ou qualquer outro esporte. Léon me conhece agora.. como ele poderia me amar sendo alguém tão diferente dele?
Sendo bastante sincera, odeio me importar com isso.
— vou me arrumar e já vou lá - respondi, me virando vendo o garoto de 7 anos com um sorriso banguela no rosto.
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Deixa a Luz Entrar
RomanceIr morar na Espanha, com um pai que Antonella mal sabia que tinha, deveria ser um sonho se realizando. Mas, na verdade, era um pesadelo... Já que o motivo para estar saindo do Brasil era a perda da pessoa mais importante de sua vida. Com isso, sua...