Medo

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Eu acordei às sete da manhã. Me levantei da cama à contragosto. Tirei meu pijama e me vesti com roupas sociais. Eu não havia conseguido dormir direito. Meus pensamentos todos me levavam a Kate. Eu queria vê-la novamente e queria tê-la entre meus braços também. A sensação de beijá-la era única e inesquecível. Eu a queria muito. Como eu queria! Eu precisava ir até a madrasta dela para pedi-la em casamento. Não podia mais adiar isso. No entanto, eu precisava comunicar Kate antes para que ela não fosse pega de surpresa.

Eu respirei fundo, abri a porta do meu quarto e me dirigi até o aposento da mulher que era dona dos meus pensamentos.

Quando eu me acerquei do local que eu teria que adentrar para conversar com minha futura esposa, eu senti meu coração se acelerar e minhas mãos tremerem. Somente Kate me fazia me sentir assim. E eu a amava e a odiava por isso.

Eu balancei a cabeça negativamente e suspirei pesadamente. Em seguida, mesmo receoso, eu bati na porta do quarto de Kate e em poucos instantes fui atendido por ela.

-Lorde Bridgerton, o que faz aqui? - Ela indagou, entredentes, pondo sua mão sobre seu tórax.

-Precisamos conversar, Kate. - Eu enunciei convicto, adentrando seu aposento, mesmo sem ela ter me convidado.

-Nós não temos o que falar. Por favor, retire-se. - Ela proferiu, nervosa, pondo sua mão sobre meu braço e me puxando para perto da porta de seu quarto como se estivesse me expulsando. Eu toquei sua mão, segurei-a e a acariciei logo em seguida. Depois, eu olhei em seus olhos castanhos que me hipnotizavam e encontrei receio e fascínio neles. Eu me aproximei dela, partindo a distância entre nós e toquei e fiz carinho em sua bela face. Ela, por sua vez, cerrou suas vistas e suspirou.

Rapidamente e ao mesmo tempo lentamente, nossos narizes se tocaram. E como se fossem dois imãs que se atraíam nossos lábios se uniram e apressadamente tornaram intenso o beijo que começou ameno.

Minhas mãos pousaram sobre a cintura de Kate e a enlaçaram. Minha futura esposa abraçou meu pescoço e me trouxe para mais perto dela.

Numa questão de segundos, nós conduzimos um ao outro até um canto estreito do quarto de Kate. Lá havia uma mesinha e minha noiva sentou-se sobre ela.

Eu fiquei entre as pernas de Kate. Em seguida, eu toquei, apertei e acariciei suas coxas. A garota suspirou enquanto correspondia ao meu beijo ávido.

De repente, a porta do aposento foi aberta completamente e fez um barulho que nos surpreendeu. Nós cessamos o que estávamos fazendo no mesmo instante. Mary, a madrasta de Kate, foi quem a abriu. Os olhos dela estavam arregalados.

-Kate, o que está fazendo? - Ela indagou, retoricamente, nervosa.

Minha futura esposa me empurrou e se levantou, exasperada.

-Mary, por favor, não pense mal de mim...- Ela pediu com a voz embargada, se aproximando de sua madrasta, que se afastou dela.

-Kate, o que você espera que eu pense de você? Eu a flagrei numa situação comprometedora com um homem que estava cortejando minha filha que é sua irmã! - A mais velha enunciou, pondo sua mão sobre sua têmpora. Em seguida, ela balançou a cabeça negativamente e uma lágrima escapou de sua vista.

-Milady, eu e Kate iremos nos casar em breve. Eu pretendia falar com a senhora ainda hoje sobre isso.

-Depois que você a desonrasse? - A mulher indagou, indignada. Eu desviei o olhar, envergonhado.

-Eu não pretendo desonrar sua enteada. O problema é que quando nós dois estamos perto um do outro, o desejo que nós sentimos um pelo outro parece falar mais alto que a razão. Eu prometo me conter...- Eu proferi com a voz quase falhando. Mary aquiesceu à contragosto.

-Por favor, meu jovem, retire-se do quarto de Kate. Quanto ao casamento de vocês, eu abençoo. Vocês precisam urgentemente se casar! - Ela disse com o rosto ruborizado. Eu assenti e saí do aposento. A madrasta de minha noiva saiu também e se dirigiu até o quarto de minha mãe.

Após Anthony e Mary se retirarem, eu permiti que as lágrimas que estavam se formando em meus olhos saíssem. Meu coração se apertou ao ver a reação de minha madrasta quando ela soube do meu casamento com Anthony.

Eu precisava ficar longe daquela mansão por alguns instantes. Então eu saí do meu aposento, me dirigi até o quintal dali, montei em um cavalo e me direcionei para onde se localizava um casebre que eu costumava frequentar quando meu pai estava vivo.

Após uma meia hora, eu me acerquei do local. Eu olhei para o céu e notei o quanto ele estava escuro, mostrando que em breve começaria um temporal.

Eu me alarmei e fiquei com muito medo. Eu não devia ter saído da mansão dos Bridgerton. Assim que eu desci do cavalo e fiz menção de adentrar o casebre, um barulho de trovão se fez presente e me fez ficar parada. Eu não conseguia me mover. Meus pensamentos me levaram a noite de tempestade que meu pai morreu. Eu recordei e passei a ter as mesmas sensações negativas que eu tive naquele dia. Minhas vistas se encheram de lágrimas. Eu senti meu coração doer como se alguém estivesse o golpeando. Eu precisava sair daquele estado, mas eu não sabia como. 

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