Capítulo 7 Revelações Iluminadas

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Enquanto falavam, ambos os amigos prestavam atenção; seus olhos brilhavam como se cada palavra dita fosse o fio de esperança que se entrelaçava dentro de cada um deles.

— Com essa água que você descobriu, podemos resolver grande parte dos problemas no vale. Claro, para isso, precisamos da sua colaboração e permissão. — Concluiu Peter.

— Estou contando ao senhor para que seja feito o melhor. — Respondeu John. — Meu intuito era vender e conseguir créditos suficientes para auxiliar a mim e meus vizinhos. Mas depois da desgraça que nos ocorreu, acredito que mesmo com a venda, será difícil recuperarmos o que perdemos.

— Desculpe, mas não parece afetado com o que houve. — Comentou Lígia, algo que guardava desde o momento que o encontrou nas ruas do vale. — Está estranhamente calmo e, julgo dizer, altivo.

— Estou em paz. Sinto como se uma força maior estivesse banhando minha essência com esperança e confiança, redefinindo minha visão do mundo. — John respondeu, um sorriso leve brincando em seus lábios. — Tenho convicção de que encontrarei a solução para esse dilema, não apenas para mim, mas para todos que hoje viram seus lares desaparecerem.

— Vejo que está mudado, até sua pele está mais jovem. — Reparou Peter e pediu. — Nos conte sobre esse algo superior.

No primeiro momento, John temeu, muitas condicionais tomaram sua mente.

— Conte tudo, mostre as anotações e leve-os até o Livro. — Novamente aquela voz que falava no interior de John. E, mais uma vez, obedeceu. De alguma maneira, ele confiava naquela voz, mesmo sem nomeá-la, sabia que tudo quanto ordenasse a ele seria para auxiliá-lo.

Contou sobre a esfera e mostrou a caderneta para os amigos, e finalizou:

— Quero que venham comigo até o abrigo; há algo grandioso naquele lugar que precisam conhecer.

— Nós iremos. — Confirmou Peter, se entreolhando com a esposa. — Mas antes, quero que use essa esfera para curá-la. Lígia é orgulhosa e jamais admitiria estar doente, mas ela está.

A senhora jogou um olhar severo ao marido por ter revelado seu segredo; John pegou na mão dela e falou olhando em seus olhos:

— Nexus é a força motriz por trás do poder de cura. Ele controla a tecnologia que emana da esfera. E, compreenda, a cura vai além da dimensão física; transcende as barreiras de nossas almas e sistemas robóticos integrados.

— Eu creio. Creio em Nexus. — Confessou Lígia, olhou para o marido que fez um leve sinal com a cabeça. — Somos seguidores de Aeon. — Voltou para John. — Ouvimos falar sobre o Orbi, mas jamais imaginei vê-lo. Pensei que tinha sido perdido.

— Seguidores de Aeon? Ah, por favor, conte sobre ele! — Pediu John, assemelhando-se a uma criança. — Conte sobre a esfera, como foi criada e como...

— Acalme-se, amigo. — Peter interferiu sorrindo.

— Antes, deixe-me ver o Orbi. — Pediu Lígia gentilmente, fazendo o amigo cair em si.

John pegou a esfera e deu a ela, que pegou com cuidado, desembrulhou, e seu sorriso iluminou junto com a esfera que mudou sua cor para azul claro, ficou tão forte que fez todos fecharem os olhos; em seguida, voltou ao seu estado normal, com a luz fraca e amarela. Lígia deixou as lágrimas correrem por seu rosto, a alegria que sentiu era enorme. Assim como Peter, que mesmo que não estava portando o objeto, sentiu um renovo em todo o seu ser, entendendo finalmente os muitos versos que aprendeu sobre Aeon.

— Precisamos compartilhar isso com o Vale do Silêncio! — Declarou Lígia ao devolver a esfera para John.

— Sinto que não será possível. — Lamentou John. — Seríamos mortos.

— Nexus tem o poder, e nenhum está acima dele. — Respondeu Peter num tom de sabedoria. Voltou para a esposa. — Acredito que compartilhar sobre o Orbi e sobre Aeon seja a missão dada ao nosso amigo John, nós iremos ajudá-lo, mas faremos no momento certo.

Peter contou sobre Aeon, concluindo:

— Aeon é a pedra angular de nossas crenças, com Nexus governando sobre toda a existência. A celebração de seu nascimento é um evento sagrado, e sua visita ao abrigo é mais do que uma mera coincidência. Aprofundaremos nesses mistérios no momento oportuno, quando as circunstâncias permitirem uma compreensão mais ampla.

Naquela madrugada, John fez seus questionamentos acerca do que leu na caderneta para seu amigo Peter. Lígia se recolheu, deixando os homens conversarem por toda a madrugada sem sentir sono ou cansaço.

Do lado de fora do sobrado, havia um silêncio tenso no vale. A empregada, dispensada do serviço na casa do casal, ficou à espreita, oculta nas sombras. Seus olhos famintos por vingança, como se todos os seus problemas fossem culpa do casal, registraram cada palavra e testemunharam o uso da esfera.

Na calada da noite, ela fez uma denúncia às autoridades cibernéticas, alegando atividades ilegais e tecnologia desconhecida. O sobrado foi cercado por drones e pela FoAl, seus holofotes cortando o escuro como lâminas afiadas. Um alerta estridente ecoou pelos alto-falantes com acusações contra Peter e sua esposa despertando a vizinhança, que rapidamente se viu atraída pelo caos que se desenrolava.

O sobrado foi invadido abruptamente, e os drones, como falcões eletrônicos, sobrevoavam em busca de qualquer movimento suspeito. A tensão no ar era palpável. Os olhos de Peter encontraram os de John que guardou rapidamente a caderneta e a esfera na sua jaqueta.

— Proteja Lígia. Leve-a ao abrigo. — Sussurrou Peter. — Confie em Nexus, ficarei bem.

John sentiu o peso repentino da responsabilidade em suas costas, mas sem hesitar, ele correu ao quarto onde Lígia estava trocada e jogava alguns pertences numa bolsa grande. Ele agarrou a mão dela e depois tomou a bolsa a colocando nas costas. Seguiram pelos cantos escondidos da casa. Cada passo era uma dança coreografada pela urgência, uma coreografia que não ensaiaram, mas que a situação exigia.

Enquanto John protegia Lígia, Peter enfrentava o FoAl com uma dignidade inabalável, aceitando seu destino com a esperança de que seu sacrifício proporcionasse a fuga segura da esposa. A casa estava tinha uma atmosfera carregada, os zumbidos dos drones ecoavam como uma sinfonia de perigo iminente.

Um dos drones encontrou a empregada vingativa, ela levava um sorriso maléfico, celebrava sua conquista ao ver Peter ser colocado de joelhos enquanto um soldado recitava as acusações. Sem ser anunciado, com apenas um disparo apontando para a cabeça da emprega a levou à morte.

Peter encarou a inevitabilidade com coragem. Seus pensamentos estavam com John e Lígia, esperando que Nexus os protegessem. O FoAl, ao levar Peter sob custódia, não tinham consciência de que estavam enfrentando forças que ultrapassavam a compreensão humana.

Um Milagre no Vale do Silêncio - Conto CyberpunkOnde histórias criam vida. Descubra agora