Capítulo 02

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- Isso é culpa sua, Enrico! Você sempre foi muito leniente com o garoto! - A voz estridente de sua mãe o atingiu como um raio, ecoando nas paredes do carro.

- Carina, por favor! - implorou Enrico, com a voz carregada de exaustão e frustração.

Dante estava preso em um pesadelo recorrente, uma repetição cruel do dia mais trágico de sua vida. Sentado no banco traseiro do carro, ele se via novamente como uma testemunha impotente do prelúdio de sua pior memória. A discussão entre seus pais, as palavras afiadas como lâminas, a tensão palpável no ar, tudo isso era uma tortura constante em sua mente.

A sensação de impotência era avassaladora. Ele queria gritar, queria intervir, mas o sonho o mantinha mudo e imóvel. Ele podia ver o desastre se aproximando, mas não podia fazer nada para impedir. Era como assistir a um filme de terror, sabendo exatamente quando o monstro iria aparecer, mas ainda assim sendo pego de surpresa.

O medo e a ansiedade se misturavam em seu peito, formando um nó apertado que dificultava a respiração. A cada noite, o mesmo pesadelo o arrastava de volta para aquele carro, para aquele momento, e a cada manhã o gosto amargo da perda parecia fresco em sua boca.

- Não, Enrico! Você sempre foi permissivo demais, e agora veja! Pagamos uma fortuna pelo colégio e ele ainda repete o ano! - A voz de Carina era como uma faca, cortando o silêncio da noite.

- Carina, chega! Não é o fim do mundo! - Enrico expressou seu descontentamento.

'Você não deveria ter tirado os olhos da estrada pai..., estava tão irritado com os gritos da mãe que não percebeu quando mudou de pista, não é?'

Uma luz ofuscante invadiu sua visão, tão intensa que parecia queimar suas retinas. O som estridente de uma buzina rasgou o silêncio, com um aviso tardio da tragédia iminente. O coração de Dante disparou, batendo como um tambor selvagem em seu peito. O medo o inundou, frio e paralisante.

'Me perdoem'

Ele pensou, com as palavras formando uma prece silenciosa em sua mente. Era um pedido desesperado, uma súplica final antes do inevitável. Podia sentir o carro deslizando, com a gravidade puxando-o em direção ao desastre.

E então veio o impacto. Ele podia sentir cada fibra do carro vibrando com a força da colisão, o mundo girando em um turbilhão de luz e som. O grito de metal contra metal era ensurdecedor, uma sinfonia de destruição que preenchia seus ouvidos.

O pesadelo de Dante era uma recriação cruel do dia em que seus pais morreram. Cada detalhe, cada sensação, era uma lembrança vívida do acidente.

O garoto acordou com uma mão quente em sua testa. O céu noturno brilhante foi substituído por um teto de cerâmica branca, adornado com desenhos intricados. Agora havia algo macio sob seu corpo, um contraste bem-vindo com o chão duro de antes.

O garoto alegre de momentos atrás, encarava-o sorrindo.

- Que bom que acordou, estava ficando preocupado - suspirou, aliviado.

- Quem é você? - perguntou Dante, ainda meio sonolento.

- Assim, que deselegância minha. Me chamo Petrônio Collalto - Se apresentou com um sorriso amigável.

Ele tentou se levantar, mas seu corpo inteiro doía, sendo obrigado voltar a deitar.

- Onde estou?

- Na minha casa, encontramos você desmaiado na entrada da cidade - Petrônio se levantou do banco onde estava sentado e encheu um copo prata com água. - De onde você é? Não parece ser daqui.

Pompéia: Amor Entre CinzasOnde histórias criam vida. Descubra agora