II - Perseguidor de sorrisos

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  Era uma da tarde e o senhor Cristopher estava me levando outra vez pela casa, mostrando as coisas e falando muito, a esse ponto eu já tinha conseguido ajustar minha atenção para ligar meus ouvidos só quando tinha tom de pergunta.

  Ele falou sobre meu pai também, isso me deixou interessado e quentinho por dentro. Foi engraçado ver como o senhor Cristopher tinha uma queda por ele, mas foi tristemente rejeitado com um simples "não quero".

  Aquele homem carregava um pedaço da história dos meus pais que eu ainda não conhecia.

  Fomos tomar bebidas geladas perto das duas e meia, eu já sentia minha energia decaindo preocupantemente e as possibilidades de fuga já estavam sendo analisadas quando o alfa quieto apareceu na sala.

- Faz quatro horas que vejo você o arrastando por aí. Vamos dar uma pausa? - Murmurou pegando um copo de limonada.

- Oh, me desculpa, Nik. Faz tanto tempo que não tenho um garoto tão amável por perto, desculpe te encher com esses papos chatos. -

- Uau, na frente do próprio sobrinho... -

- Não tem problema, não. Eu me diverti também. - Um sorriso educado, era só isso que precisava, estava acabando.

- Ah, como você é um anjinho. Bem que J sempre te chamou assim... Isso me faz lembrar da primeira vez que te vi, você era só uma criancinha... -

- Ok, chega. Eu estou indo à cidade, quer vir comigo? - Matthew olhou para mim, mas não sei se tinha alguma emoção ali.

- Claro, eu quero conhecê-la. - Talvez meu desespero para sair dali tenha ficado muito claro, o senhor Cristopher riu.

- Se divirtam então, crianças. E não vai derrubar ele. - Mandou para Matthew.

- Quando que eu cai da minha moto? Venha, espero que você não tenha medo de motos. - Ele foi na frente, sem nem despedir, e eu corri para acompanhá-lo.

  Na frente da casa tinha essa moto bem grande e bonita, eu não entendia nada de veículos, mas ela parecia aerodinâmica como uma de corrida. Ele pegou um capacete todo preto e me entregou sem muita cerimônia antes de colocar o seu.

  Eu gostava de como aquele cara era simples.

  Uma vez prontos, ele subiu na moto e eu o imitei. Sem problemas. Mas na hora de me segurar naquelas coisinhas do lado de segurar, não achei...

- Não tem alça, pode se segurar em mim. - Ele não fez grande caso disso, já havia ligado o motor.

- ... - Como eu esqueci que andar de moto com alguém envolvia tocar em alguém? Ainda mais naquela moto estranha onde não tinha espaço para eu ficar minimamente afastado.

- Vamos? - Ele virou um pouco o rosto e por puro impulso eu passei meus braços pela cintura dele...

  Sim, tinha como eu me apoiar em seu ombro, alguma coisa mais discreta, até mesmo ele notou isso porque paralisou por um segundo longo demais, foi suficiente para me fazer cogitar pular da dali e correr, mas então Matthew deu partida e sem rodeios acelerou.

  Meu coração estava mais acelerado que a moto sem razão alguma, uma sensação ruim.

  E, confesso, eu realmente tinha agonia de tocar em pessoas, desde de pequeno eu nunca fui no colo de quem eu não conhecia e chorava se alguém segurava minha mão para me puxar. Até hoje em dia um simples aperto de mão era suficiente para me fazer suar, mas... não foi tão ruim com Matthew.

  Talvez por a visão bonita daqueles campos de árvores extensos e o vento me refrescando de um dia tão quente. Talvez por Matthew ser parecido comigo e não ter forçado o contado. Talvez por eu só já gostar dele mesmo... Não sei, mas abraçá-lo não foi ruim.

Um acaso curiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora