XIX - Reconciliação

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Já passava das duas da manhã.

Eu estava um pouco bêbado, mas continuava bebendo, e Matt deitou a cabeça sobre os braços e há cinco minutos estava assim, quieto.

O nosso silêncio ainda era profundo e pesado, eu precisava de mais álcool, mais dopamina, qualquer coisa que fizesse minha mente acalmar dos pensamentos frenéticos e incessantes.

Por acaso acabei me lembrando que a casa pertencia a um fumante em recuperação. Pelo menos para o meu pai fumar sempre o ajudou a acalmar em momentos de fúria, talvez funcionasse comigo em momentos de depressão.

Quando levantei para procurar os cigarros nos armários Matt se levantou também e silenciosamente começou a limpar o balcão.

Eu achei uns charutos e fui para perto da janela para acende-lo. Matt pegou a dúzia de latas e jogou fora.

Uma tragada profunda me fez ficar incomodado com o gosto, mas me forcei a continuar inalando a fumaça, assistindo Matt lavar a louça.

Talvez mais por efeito placebo do que por qualquer coisa eu fui me acalmando e conseguindo pensar em palavras.

- Nada do que eu disse mudou, Matt, eu acredito cegamente em você e estou do deu lado até o fim. Você pode confiar em mim para a gente resolver isso juntos? Ou é tarde para eu pedir desculpas por ser egoísta? - Na minha opinião me expressei muito bem, só que Matt riu.

Não de um jeito leve, não de um jeito feliz. Ele foi amargo e sarcástico quando gargalhou baixinho, apenas esfregando casualmente um copo sujo.

- Acredita cegamente em mim? E se ele está certo? - Matt ligou a torneira e deixou o silêncio pairar enquanto enxaguava tudo.

- Como? -

- Você realmente não tem nenhuma dúvida sobre tudo que o Jack te disse? - Ele riu novamente.

- Digo, você mesmo viu que eu tenho uma personalidade explosiva e fico violento quando irritado, você sabe que eu curto umas coisas bizarras na cama e, agora, sabe que o Ben entrou em depressão e tentou se matar um monte de vez por minha culpa. - Matt terminou de ajeitar a louça no escorredor.

- Jack estava certo em tudo que disse. -

- Não, ele não está. - Eu não aguentei aquele frio.

- Posso não te conhecer a muito tempo, mas até agora você só me mostrou uma personalidade resiliente, atenciosa e altruísta. Você é respeitoso em todos os momentos, até mesmo bêbado, e nunca, nem por um momento, me deixou desconfortável seja na cama ou fora dela. -

Eu puxei Matt pelo ombro e olhando nos olhos dele, disse:

- Eu não admiti Jack falando mal de você e o mesmo vale para você mesmo, não ouse dizer mentiras sobre si mesmo, eu vou ficar irritado se continuar sendo teimoso... - Antes de eu terminar o sermão todo o ar do meu pulmão sumiu quando ele me apertou em um abraço abrupto.

Ele era tão bonzinho que às vezes eu me esquecia que não era um garotinho necessitado de ajuda e sim um homem bem forte e bravo.

Eu envolvi seus ombros e o apertei de volta, enterrando meu rosto em seu pescoço e respirando fundo, finalmente tranquilo.

- Desculpa fazer drama... - Murmurou baixinho, todo tímido e envergonhado. Meu coração derreteu.

- Tudo bem, desde que você não diga coisas ruins de si mesmo porque eu não aturo ver pessoas mal dizendo quem eu amo. - Eu me afastei um pouco para olhar em seu rosto.

Todo vermelhinho, que fofo! Lhe dei um beijo nos lábios e imediatamente apoiei minha testa na dele.

- Eu te amo, Matt, não duvide disso nunca, tudo bem? -

Um acaso curiosoOnde histórias criam vida. Descubra agora