VII - Vulto

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Era quase seis horas da tarde e eu estava fechando o escritório.

Aquele foi o primeiro dia em que trabalhei de verdade. Durante todo o dia cuidei da Linda que tinha vários ferimentos de estresse, maus tratos ou apenas heranças das suas fugas contra cercas de arame farpado. No geral ela ficaria bem desde que parasse de ser rebelde.

O senhor Cristopher também arrumou um casal de coelhos brancos, eu passei algum tempo examinando-os, mas o antigo dono os tratavam bem, então foquei em organizar uma maneira de sempre ter comida e água disponível no castelo deles.

Enquanto tudo isso, Sombra corria atrás de mim, brincando com os bichos ou correndo atrás de pássaros aleatórios. Ele era muito ativo e bonitinho, me fazia sorrir toda hora.

Seis e meia, já estava bem escuro, guardei minhas coisas, chamei Sombra, que agora estava aprendendo que seu nome era esse, e voltamos para a casa.

O senhor Cristopher havia saído com alguns amigos para beber e Matt estava desde cedo enfurnadado no ateliê, ele acordou extremamente inspirado, disse que precisava desenhar, por isso não o vi o dia todo.

Claro, eu estava morrendo de saudade, só queria ficar perto dele, mas antes fui na cozinha preparar algo para a gente comer.

Eu não era o melhor cozinheiro do mundo, mas sabia fazer uma coisa ou outra, então optei por bolinhos que era rápido e gostoso, devia servir por enquanto para matar a fome até o jantar.

Montei os pratos bonitinhos, dei um biscoitinho para o Sombra e, intimamente orgulhoso, me preparei para subir. Eu podia jurar que aquele cara tinha até esquecido de se alimentar durante o dia.

Mas algo me fez parar no meio do passo. Um sentimento ruim, um arrepio.

Instintivamente eu olhei pela janela grande atrás da pia, a que dava a uma vista linda do jardim e da floresta, mas que àquelas horas, com tudo um breu, só podia parecer assustadora.

E já seria o bastante se eu não tivesse visto um vulto parado a uns cinquenta metros de distância, olhando para mim assim como eu olhava para ele.

Era impossível dizer quem era, se era homem ou mulher, realmente parecia apenas um vulto, mas eu nunca acreditei em assombrações, por isso alcancei uma faca e me preparei para lutar contra aquele humano.

Por um segundo continuei fixamente o olhando assim como ele. Meu punho estava apertado ao redor da faca e minha pele completamente arrepiada. Era minha primeira vez diante perigo real e mesmo assim eu podia reconhecê-lo perfeitamente.

Devia estar escrito no meu DNA ou algo assim, mas minha família tinha o poder de atrair problema.

Mas então, sem nenhum motivo aparente, aquele vulto se moveu.

Ele deu as costas e começou a caminhar lentamente para longe, saindo dos limites da propriedade até sumir de vista...

- "Merda." - Eu não abaixei a guarda ainda.

Podia se tratar de um assalto, ele podia não estar sozinho, ele podia estar observando a casa e procurando pontos fracos ou podia ser alguém tentando nos assustar, independentemente não era boa coisa, por isso me adiantei a subir com Sombra e os bolinhos até o ateliê, Matt precisava saber disso.

Atrás do quadro imponente de duas pessoas que já não pareciam mais tão majestosas para mim, o cheiro delicioso de chá doce e tinta me envolveu e acalmou um pouco.

Sombra foi correndo na frente, todo animado, e assim que ocultei a entrada da porta por segurança entre também procurando pelo alfa loiro que encontrei deitado no divã, ao lado da janela, dormindo como um anjo.

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