Prólogo

358 38 13
                                    


A primeira vez que Sampo o conheceu estava vivendo uma semana de glória. Seus planos estavam dando certo e o dinheiro chegando em suas mãos. Naquele dia, próximo ao final de semana, estava com expectativa de jantar um banquete em comemoração a sua genialidade – conforme o próprio diria.

Estava ainda escondido entre as montanhas, distraído com as notas verdinhas que recebeu, que não ouviu o chacoalhar de uma capa ao vento, ou mesmo o barulho dos passos sobre a neve. Sampo estava mais preocupado em decidir onde iria comer naquela noite.

Foi pelo canto de olho que reparou na aproximação e todos seus pelos se eriçaram pelo reconhecimento do uniforme da Guarda Crinalva. Já havia corrido para tantos lugares por conta daqueles inconvenientes que nem acreditava que poderia ser encontrado ali. Quase ninguém passava por ali, era deserto, mas ali estava um guarda e ele precisava correr.

Aproximou-se de sua saída, onde ironicamente o guarda havia passado, e observou os lados em busca da certeza que não era visto e monitorado. Mas a surpresa que Sampo teria naquele dia seria efetivo por toda sua vida.

O guarda estava parado, com uma roupa mais extravagante do que todos os outros com os quais Sampo teve o desprazer de esbarrar, e levantava uma mão desprotegida do frio quase ao nível do rosto observando a delicadeza da neve que caia. Não apenas, como tinha a cabeça levemente levantada, mirando os céus, e recebendo o frescor da baixa temperatura em sua fase. Pelo tempo, a neve começava a querer se acumular nos cabelos loiros enquanto os olhos tão claros quanto o céu permaneciam observando aquela paisagem monótona e branca.

Sampo, por sua vez, estava envergonhado por pensar que assistia uma beldade brincando com a neve. Aquele homem era tão lindo que Sampo não conseguia desviar os olhos. Era quase tentador ir chamá-lo, mesmo sabendo que seria sua sentença de prisão se fosse reconhecido.

Entretanto, ele não era conhecido por sua prudência e estava se preparando para cumprimentar o outro e, se tivesse sorte, quem sabe poderia paquerar antes de ser algemado.

Antes que o fizesse, contudo, viu a sombra de outro guarda se aproximar obrigando-o a rapidamente voltar a se esconder, mesmo que de forma que pudesse observar a cena.

— Capitão — cumprimentou oficialmente. — Averiguamos a área e não encontramos anormalidades. Mas tenho o relatório de uma área próxima com risco de desabamento.

— Certo — respondeu o "guarda loiro". — Quero verificar o lugar. Tomaremos as medidas de prevenção.

Tão rápido quanto apareceu o guarda se foi, levando consigo o rapaz loiro por qual Sampo ficou tão encantado. E havia um problema, obviamente, pois Sampo tinha certeza que ouviu o guarda chamar o outro de "capitão". Sabia que não era uma pessoa de muita sorte quando se tratava de amor, mas se maravilhar com o Capitão da Guarda Crinalva era o cúmulo da idiotice. O quão irônico seria ele, procurado por seus delitos, flertar com o Capitão? Talvez tivesse querendo pegar prisão perpétua.

Mas talvez Sampo se aquieta-se se o visse só mais uma vez.

Como um Anjo | CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora