Capítulo I

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A neve era deformada pelo pisotear bruto dos guardas. Era possível ouvir o barulho dos trajes e armaduras há metros de distância como se eles estivessem do seu lado. Poderia até causar arrepios se os temessem. Sampo admitia que não era música para seus ouvidos, mas nem sempre era sinal de uma má premissa, não depois dele ter conhecido o Capitão da Guarda Silvermane.

— Vasculhem a área! — gritou sua ordem. — Ele não foi muito longe.

Maldito sexto sentido. Sampo havia corrido tanto que tinha certeza de que estaria livre, mas aquele capitão era sagaz e parecia sempre saber onde encontrá-lo. Poderia até tentar romantizar dizendo que eram como imãs um para o outro, mas sabia que Gepard tinha algumas intenções diferentes, como deixá-lo preso.

Sampo estava um pouco tenso. Conseguiu se esconder em uma abertura estreita nas paredes montanhosas que tanto conhecia. Ali era escuro e extremamente desconfortável, como se ele respirasse já fosse o suficiente para ocupar o restante do espaço. Ele odiava se submeter a tanto, mas era isso ou correr o risco de ser pego enquanto escalava. Ao menos a neve fazia um ótimo trabalho em escondê-lo.

Quando pareceram desistir da busca, seguiram mais adiante, dando abertura para Sampo sair de seu esconderijo e dar meia volta, escapando pelo caminho já percorrido. Esperou tempo suficiente para que o pelotão estivesse pequeno aos olhos, e então saiu, não conseguindo avançar cem metros sem dar de cara com o Capitão.

— Eu sabia que estava escondido por aqui.

Como imãs, pesou Sampo, divertido.

— Estava esperando por mim? Você me lisonjeia — Colocou uma mão no peito teatralmente.

— Está confundindo as coisas — disse Gepard, firmemente. — Estou aqui para te prender.

Quando Gepard fez o primeiro movimento para prendê-lo, Sampo fez o possível para se esquivar, quase não conseguindo. Ele levantou os braços para cima enquanto sorria como uma criança atentada.

— Você me seduz querendo tanto tocar em mim — cantarolou, saboreando a visão do outro vermelho de vergonha. Ou raiva, também não tinha problema. — Talvez possamos ir para um lugar mais íntimo para que eu retribua.

— Como pode falar tanta asneira? — exaltou-se. — Você é procurado pela Guarda Crinalva! Mais uma vez trazendo problemas para os moradores de Belobog.

— Já disse, antes de começar a me perseguir, que cumpri com meu contrato!

— Além de você ter roubado um artefato para aquele senhor, vendeu informações dele para uns malfeitores.

— Então... Cumpri dois contratos — deu de ombros. — Por que não foi atrás daqueles ladrões de meia tigela?

— Estou prestes a capturar um agora mesmo.

Mesmo com sua experiência, Gepard tinha dificuldade para capturar Sampo que era ágil e flexível. O rapaz realmente se destacava nesses quesitos e parecia escorregar como sabão de seus dedos.

Gepard conseguiu encurralá-lo na parede rochosa e já se preparava para pegar suas algemas quando ouviu o barulho de pequenas bombinhas explodindo acima de sua cabeça. Bastou um rápido olhar para entender que uma pequena avalanche vinha em sua direção. Ele pulou para o lado bem a tempo, surpreso pelo acontecido, que só então percebeu que Sampo fugiu mais uma vez.

Ficou furioso por mais uma tentativa fracassada, tendo para si que iria pegá-lo logo. E não haveria perdão.

Sua falha estragou todo seu humor, e pelo resto do dia, lhe condenou a uma carranca injuriada. Tanto que sua irmã, Serval, estava adorando imitar seu semblante apenas por provocação.

Como um Anjo | CONCLUÍDOOnde histórias criam vida. Descubra agora