𝟏𝟒 .

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Point of view Marília.

' Depois da tempestade, vem a avalanche. '


- Lu, me perdoe pelo atraso, tive uma noite horrível! - Já adentrei a sala de minha chefe me justificando. Marcavam quase 10h da manhã, eu havia esperado a médica liberar Maraisa para sair tranquila daquele hospital. No meio de tanta loucura, acabei me esquecendo de ligar para Lu avisando que me atrasaria.

- Relaxa, Mali. Simone me ligou hoje bem cedo e me contou resumidamente o que ocorreu e avisou que você certamente se atrasaria. - Ela sorriu gentilmente. Relaxei os ombros e me sentei em sua cadeira. Simone salvadora da pátria! - Está tudo bem com sua amiga? - Perguntou referindo-se à Maraisa.

- Está sim, mas foi por muito pouco.

- É, eu fiquei sabendo. Ela aparenta ser uma pessoa
boa, mas também aparenta estar bem perdida no mundo.

- Ela é uma pessoa incrível, você adoraria conhece-la.

- Mas você à conheceu na entrevista, como tem
tantas afirmações assim sobre ela?

- Quando você disse 'Carla Henrique', eu não reconheci, mas quando ela chegou naquela cafeteria, percebi que a Carla não passava da Maraisa que eu conheci há anos atrás, quando ainda trabalhava no bar.

- Mentira? Que coincidência, hein! - Riu. - Mas não sabia que o nome dela era esse.

- Ela se chama Carla Maraisa e usa o Carla como nome artístico. - Expliquei.

- Uma semana depois -


Pilhas e mais pilhas de folhas sobre a mesa, canetas para todos os lados e minha mente mais vazia que meu estômago, que roncava alto. Nenhuma ideia brotava, estava tão sonolenta, que mal conseguia manter os olhos abertos. Noite passada tive uma briga daquelas com Murilo e acabei não conseguindo pregar os olhos. Por que nós brigamos? Porque Murilo insiste na ideia de querer que nós nos mudemos para Alemanha. Senti o ar pesar só de lembrar de estar repetindo a mesma discussão há meses. Soltei meus cabelos e balancei lentamente minha cabeça, deixando que os fios caíssem sobre minhas costas, recostei na cadeira e inclinei minha cabeça para trás, encostando a mesma no descaço da cadeira. Cada músculo do meu corpo reclamava e implorava por descanso.

"A escritora Carla Henrique anunciou hoje que seu novo livro está muito próximo de ser lançado e os fãs já aguardam com ansiedade".

A voz da repórter se reproduziu vindo da TV que estava ligada. Fiquei orgulhosa por saber que Maraisa havia terminado seu trabalho e que logo teríamos acesso à ele, e isso me fez lembrar que há uma semana nós não nos falávamos, nem nos víamos. Ela estava enrolada em trabalhar e se recuperar do acidente. Minha vida também estava uma loucura, muito trabalho e pouco tempo. Ergui meu corpo para fitar meu celular pousado sobre minha agenda. "Ligar ou não ligar?" era a pergunta que girava em meus pensamentos. Peguei o aparelho e abri o número de Maraisa, meu dedo deslizou pelo botão de chamar sem meu consentimento.

- Alô? – ela atendeu no segundo toque emitindo sua voz rouca por meus tímpanos.

- A senhorita escritora gostaria de tomar um café comigo hoje? Faz tempo que não nos vemos. Sinto sua falta. – Falei rapidamente e ri ao final.

- Oi, Lila, quanto tempo! – Deu pra ouvir sua risada abafada.

- Lila? – Mordi meu lábio inferior mesmo sabendo que ela não veria. – Já disse que adorei o apelido?

- Não, Lila, mas é ótimo saber que gostou. – Enquanto ela dizia, ouvi umas risadas no fundo e as vozes de Izzie e Mai se misturando dizendo algumas coisas como "Olha só, ela está vermelha!", "Que gay, Maraisa!". Tentei não rir, mas acabei soltando uma gargalhada.

- Mas e o café? Está de pé? – Ela gargalhava e que risada gostosa... Passaria o resto do dia ouvindo.

– Claro, ás quatro?

– Perfeito!

- Até mais!

- Até! - Ela desligou e eu fiquei por alguns minutos assimilando toda a situação. "Lila" a voz dela repetiu na minha mente fazendo eco e eu ri feito boba.

Ao contrário de algumas pessoas, Maraisa era sempre um doce comigo. Apesar de ser atormentada por tantos problemas, ela nunca deixava que aquilo respingasse nos outros, então, tratava as pessoas com imensa doçura e simpatia.

Me assustava as pessoas chamarem ela de arrogante só pelo fato dela ter aquela carranca séria e aquele olhar de superioridade. Soltei uma lufada de ar pesada quando me peguei comparando o comportamento de Maraisa com o de Murilo. Maraisa sempre tão doce, sempre tão atenciosa, enquanto Murilo era um grosso que só era gentil quando queria transar.

- Aonde esteve pela manhã inteira? Te liguei feito um louco!

A voz do meu noivo saia alta e grosseira pelo alto-falante do celular. Respirei fundo, enchendo meus pulmões de ar e minha mente de paciência, pois não queria brigar.

- Eu madruguei no hospital e depois vim para o jornal, acabei mergulhando no meu trabalho e esqueci do meu celular.

- Hospital? O que houve? Você está bem?

- Não foi nada comigo, amor, estou bem. Foi só um problema com a Maraisa, mas ela já está bem.

- Antes eu nunca tinha escutado o nome dela, agora é só ele que ouço. - Murilo soltou um riso carregado de deboche.

- Murilo, menos...

- Quer almoçar comigo? - Desconversou.

- Não, vou ir visitar a Maraisa.

- Viu só? - Novamente o riso debochado de repetiu, seguido de um bufar irritado.

- Não seja idiota, por favor!

- Hahaha! - Forjou aquele riso, pois sabia que aquilo me irritava. - Ok, Marília. Nos vemos de noite ou vai passar a noite com a Maraisa também?

- Nos vemos a noite Murilo Huff. - Respondi com grosseria e desliguei.

Enchi os pulmões de ar e soltei pesadamente. Após aquele dia, nossas brigas haviam se tornado mais frequentes ainda. Ele não podia ver o nome da Maraisa ou ver algo sobre ela que ficava extremamente irritado e eu não entendia isso. Murilo não era um idiota antes, mas ultimamente, seu comportamento estava o transformando em um e eu não entendia o motivo. De repente, ele havia se transformado numa pessoa obsessiva, queria sempre saber aonde eu estava, com quem, o que estava fazendo, era grosseiro, passava horas no telefone e desligava assim que notava minha aproximação.

- Mali? - Gaby apareceu na minha porta e me tirou dos pensamentos que estava me perdendo. Fiz sinal para que ela entrasse e assim ela o fez. Gaby estava com o semblante estranho, parecia preocupada, nervosa.

- Aconteceu alguma coisa? - Perguntei preocupada.

- Não sei... - Ela se sentou na cadeira a minha frente e ficou encarando o chão. Parecia estar tomando coragem para me falar algo.

- Gaby, você está me deixando aflita.

A loira me olhou nos olhos e sorriu de forma forçada.

- Vamos dar uma volta? - Ela sugeriu e eu aceitei, me achando sua atitude estranha.

Nós saímos do jornal e fomos comer. Gaby disse que estava faminta, mas não tocou em um grão sequer de seu prato, ela estava desconexa, aérea e passava longos minutos me olhando com pânico. Eu não insisti em descobrir o que era, afinal, uma hora ela iria falar.

- Tenho que ir. - Falei me pondo de pé.

- Mas já? - Ela parecia ter acordado de um transe, me olhou mas seu olhar era vago.

- Gaby, estamos aqui há três horas. - Ela arregalou os olhos. - Vou ir me encontrar com a Maraisa. - O sorriso escapou de meus lábios sem meu consentimento, Gaby semicerrou seus olhos e arqueou uma sobrancelha.

- Entendi... - Disse espremendo suas pálpebras.

The last coffee - Adaptação malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora