Point of view: Marília.
' Thank you. '
Maraisa me pousou na cama com imensa delicadeza e deitou por cima de mim, ficando suspensa por seus braços, que estava um em cada lado de minha cabeça. Olhava-me atentamente como se buscasse entender o que me havia feito cessar os beijos e as provocações. Logo ela descobriria.
- Deita aqui do meu lado... - Pedi, batendo com a mão no espaço vazio na cama, e mesmo confusa ela obedeceu, deitando-se de lado, de frente para mim.
- Estou um pouco confusa, Lila..
- Por que? - Perguntei mesmo já sabendo a resposta.
- Você disse que... Você sabe.
Ela falou um pouco tímida e aos poucos seu rosto foi sendo tomado pela coloração avermelhada da vergonha. Levei minha mão em direção ao seu rosto e toquei sua bochecha, deslizando minha pele pela sua. Impressionante como até nossas texturas combinavam.
- Eu sei bem o que eu disse. - Falei olhando em seus olhos, contemplando aquele mar verde que se estendia diante meus olhos. - Mas quem disse que precisamos transar para nos amar?
- Ei, não vale! Você comeu toda a pipoca! – Resmunguei fazendo um leve bico para Maraisa, que não hesitou em rir.
- Me desculpe, é que ela estava realmente muito boa... Mas se quiser, eu posso fazer mais, já que você sempre deixa elas queimarem... – Sua gargalhada era realmente o som ao qual eu não me cansaria de ouvir, mesmo ela tendo a ver comigo.
- Tudo bem, então... Não esqueça do sal! – Gritei e Maraisa assentiu da soleira da porta da cozinha.
Meu coração vibrava sempre ela sorria e eu me perguntava o porquê.
Nossa ligação sempre seria um total mistério para mim. De fato, não havia médicos, psicólogos, psicanalistas e até cientistas capazes de explicar como Maraisa e eu éramos conectadas, tanto nos olhares e nas conversas, quanto no sexo. Apesar de ser algo totalmente novo para mim, já que nunca estive tão envolvida com uma mulher antes, o sexo com ela havia sido maravilhoso. Ela me fez sentir puramente amada como nunca havia me sentido com homem nenhum e eu tinha uma breve certeza de que seria assim para sempre, caso ela quisesse.
Me sentindo só, resolvi me juntar à ela na cozinha, na tentativa de preparar, talvez, um chocolate quente. Foi tudo em vão. Primeiro porque estava frio e segundo porque o seu cheiro havia me atraído.
Senti necessidade de abraçá-la por trás e encostar minha cabeça em seu ombro. Maraisa não se afastou. Pelo contrário, ela entrelaçou meus dedos que estavam sobre sua barriga, fazendo um carinho gostoso.
- Desse jeito, você vai me fazer esquecer a pipoca e deixá-la queimar... – Maraisa se virou para mim e me fitou nos olhos profundamente. Eles, de alguma forma, sempre prendiam a minha atenção e eu não ousei desviar. Encarei-a com a mesma intensidade.
- Essa é a intenção... – Sussurrei próxima à seus lábios para que entendesse o que eu queria. Sem demora, selei meus lábios nos seus em um selinho demorado e fui me distanciando dela, deixando-a completamente confusa. Ciente de que Maraisa me seguiria, cheguei na sala de estar e me deitei no carpete felpudo e macio, esperando pela sua presença. E ela o fez.
Chegou como quem queria respostas e se deitou ao meu lado. Ficamos um tempo em silêncio, de barriga para cima. Eu olhava o teto enquanto sentia a sua imensidão castanha pairando sobre mim.
Quando finalmente a encarei, meu órgão pulsante estava acelerado demais, quase saindo pela boca.
Era sempre assim toda vez que nossos olhares se conectavam. E de repente, nenhuma palavra precisava ser dita.
- Lila?
Meus olhos voltaram ao foco que eram os olhos de Maraisa. Eu estava mergulhada naquele mar castanho e acabara desligando-me da realidade, mas era inevitável, as ondas de seus olhos sempre me puxavam para o mais fundo e eu sempre me rendia. Maraisa levou sua mão até meu rosto e deslizou a ponta dos dedos de meu maxilar, passando por meu queixo, traçando desenhos sem forma.
- Está tudo bem? - Perguntou ela, fitando-me com cautela. Sorri sem mostrar os dentes.
- Está tudo tão bem que temo ser apenas um sonho. - Suspirei, virando-me na cama para fitar o teto. Ela permaneceu imóvel.
- Não é um sonho, se quiser, posso te beliscar para comprovar. - Acabei rindo com sua brincadeira. O som de nossas risadas misturadas tornou-se minha melodia favorita.
- Não quero voltar para a realidade... - Resmunguei.
Num ato rápido, Maraisa me puxou pelo braço e me fez virar para ela. Foi como se uma descarga elétrica percorresse o meu corpo enquanto nossos olhares se fixavam. Sem a menor espera e aviso, ela uniu nossos lábios em um beijo urgente.
(...)
As horas se passavam lentamente. O céu que antes estava totalmente coberto pelas nuvens brancas, agora fora tomado por uma tonalidade rosa alaranjado. Olhando para o relógio preso na parede acima da lareira, pude constatar de que eram 5:00 da tarde. Maraisa e eu já havíamos almoçado, tomado um banho e nada melhor que um belo pôr do sol para encerrar aquele dia maravilhoso. Então, tomei a liberdade de preparar um café forte e a convidei para ir à um lugar onde costumava brincar quando era criança.
Point of view: Maraisa.
Chegamos em um cais, onde havia um banco de madeira que dava de frente ao belo pôr do sol daquela tarde. A vista era magnífica, digna de um pintura. Marília seguia na frente com uma garrafa térmica cheia de café enquanto eu segurava as xícaras logo atrás. Após nos sentarmos, a latina serviu as duas xícaras do líquido quente, tomando-a para suas mãos e provando. Enquanto eu... Olhava cada movimento seu como minha mais nova admiração. Nunca encontraria explicação para tamanha perfeição. A fim de quebrar o silêncio que se instalará sobre nós, Camila começou se pronunciando.
- Quando eu tinha 8 anos, gostava de vir aqui e admirar a natureza... – Ela disse sem me olhar nos olhos e eu a fitava prestando atenção em cada vírgula – E então, quando completei meus 15, vinha aqui para colocar a cabeça em ordem...- E agora, qual é o motivo da sua vinda? – Perguntei sem realmente pensar se ela responderia. E ela respondeu.
- Você.
- Eu? - Apontei para mim.
- Sim, você. - Ela disse visando o horizonte. - Ontem eu não tinha respostas, hoje eu tenho tantas que me faltam perguntas para todas.
- O que quer dizer? - Assoprei o café de minha xícara e bebi um gole curto. Marília uniu suas pernas e as abraçou.
- Eu acho que... - A latina congelou, ficou vermelha e abaixou a cabeça exibindo um sorriso tímido, em seguida mordeu o lábio inferior.
- Acha que...?
- Acho que eu realmente gosto de você...
Foi nessa hora que eu olhei para Marília. Os raios alaranjados do sol que estava a se pôr, iluminavam seu rosto, e o brilho de seus olhos iluminavam minhas trevas. Caco por caco eu sentia-me sendo colada. Minha alma parecia ter sido substituída por outra totalmente nova. Os medos perderam o sentido. Não restavam mais mágoas. Um recomeço para mim se iniciava.
- Obrigada... - Eu disse.
- Por que? - Ao perguntar, ela encostou sua cabeça em meu ombro. Respirar o perfume de seus cabelos me fez inclinar o olhar aos céus e mentalmente agradecer ao criador pelo presente.
- Por me resgatar, por me fazer sentir prazer em respirar, por me fazer orar todas as manhãs pedindo à Deus que estenda minha estadia na terra. Obrigada por tornar-se o sol que ilumina minhas manhãs, obrigada por ser a lua da minha noite. Obrigada por dominar meus pensamentos, obrigada por me roubar o fôlego a cada vez que sorri. Obrigada por colorir minha vida preto e branco. Você me ensinou a viver novamente. Obrigada, Marília.
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The last coffee - Adaptação malila.
RomanceEla era uma escritora no auge de seu fracasso, não vendia mais livros, nem escrevia mais poemas, ainda não havia aprendido o quão bela era a poesia de um coração em desordem. Enquanto isso, do outro lado de um balcão, esperando-a com mais um café qu...