𝟐𝟒 .

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Point of view: Marília


A lentidão daquele beijo foi tornando-se desesperadora para os corpos que desejavam se unir. Nossos lábios começaram a se movimentar um sobre os outros com urgência. O calor que saia da união dos nossos corpos só deixavam a prévia do quão devastador seria quando a união total acontecesse. Os lábios macios de Maraisa se separaram dos meus e foram deslizando em uma trilha de beijos percorrendo por meu maxilar até chegar na carne do meu pescoço, onde os beijos não foram suficientes e deram lugar a mordidas e chupões que fizeram meu corpo se arrepiar.

Enquanto suas mãos subiam e desciam por minhas pernas em uma carícia quente, Maraisa afastou sua boca quente da minha pele por alguns segundos e me olhou. Sua íris que antes era de castanho claro, agora me apresentavam um novo tom de castanho tão escuro quanto a noite. Seus olhos transbordaram os sentimentos que sua boca não ousava falar. Maraisa me olhava como se eu fosse seu próximo pecado a ser cometido, que ela cometeria com orgulho e ainda repetiria a dose por puro prazer. As chamas da luxúria estavam apenas se ascendendo. Ainda eram pequenas faíscas, mas daquelas faíscas surgiria um incêndio de corpos, toques e prazeres.

Eu fechei os olhos sentindo os lábios macios de Maraisa colidirem contra os meus novamente, beijando-me com gana. Meu rosto estava formigando, avisando de que eu não deveria ter bebido tanto, mas se não fosse meu nível de álcool elevando, certamente não teria coragem de fazer o estava fazendo.

- Acho que esse sofá é muito pequeno para nós, vamos para o quarto? - Eu sussurrei perto de seu ouvido e mordisquei o lóbulo de sua orelha, fazendo-a se arrepiar. O perfume de Maraisa estava me deixando embriagada, que mulher cheirosa, céus! O aroma forte, amadeirado, misturava-se com o frescor da menta que emanava de seu hálito e aquela mistura, combinava perfeitamente com ela, desejei ter aquele perfume impregnado em mim.

Maraisa me lançou um olhar profundo e meneou com a cabeça negando minha sugestão.

- Eu tenho uma ideia melhor.. - Sua voz se arrastou em meio a rouquidão de seu timbre e por Deus, aquilo iria me enlouquecer. Maraisa espalmou as mãos em minhas coxas e segurou com firmeza, para logo depois se levantar comigo em seu colo e me deitar no tapete de camurça em frente à lareira.

Seu olhar veio subindo por minhas pernas ainda cobertas pela calça de moletom, até chegar em meu rosto. O choque violento do encontro de nossas íris me arrepiou por inteiro. Ao mesmo tempo que tudo tendia a ser puramente carnal, nossos corpos mudavam as reações e ações, transformando qualquer toque, qualquer olhar, em apenas um complemento para os sentimentos se unirem.

Maraisa deslizou as costas de sua mão sobre a maçã de meu rosto em uma carícia lenta e suave. A mudança do castanho escuro para o claro foi rápida, como se naquela mudança, ela voltasse a ser o anjo luminoso de antes e abandonasse o demônio que insistia em possuí-la com sua luxúria.

A luxúria teria sua vez, mas aquele ainda não era o momento.

- Você tem certeza? - Perguntou. Nos seus olhos era possível ver sua real preocupação. Estávamos um pouco altas pelo vinho, tudo ainda era muito recente e ambas estavam um pouco carentes. Mas, apesar do álcool, eu tinha a plena certeza do que estava fazendo. Existiam perguntas girando na minha cabeça que só aquele ato poderia responder, e existiam sensações em mim que só ela poderia conter. Eu nada falei, minha resposta veio a seguir, quando puxei-a pela gola da blusa, unindo nossos lábios em um beijo calmo, mas avassalador.

Senti a frieza da pele de Maraisa tocar a região quente de minha barriga, suas mãos seguraram a barra da minha regata e começaram a subir a mesma, nossos lábios foram separados apenas para que a blusa passasse pela minha cabeça e logo depois a união voltou a acontecer. Era impossível manter-me longe daqueles lábios. Eles clamavam por mim. Eu estava hipnotizada por aquele deslizar delicioso e macio de nossas bocas. Eu estava em um vício extasiante movido pelo sabor mentolado de seu hálito. Meu corpo implorava por mais e mais a cada instante que eu sentia sua língua deslizar pela minha. Tomei a liberdade de me desfazer de sua blusa também e assim que o fiz, abri os olhos para contemplar a visão e foi como se eu estivesse vendo uma versão mais aprimorada de Afrodite. Seu corpo de pele alva, tinha como impacto o sutiã preto de renda, que apertava seus seios. A barriga lisinha e perfeitamente desenhada, a cintura exibia a curvatura perfeita para que eu me perdesse.

Aquela mulher diante de mim era muito mais que Afrodite, muito mais sensual que Vênus, ela era a Maraisa.

Ela percebeu que eu estava a devorar seu corpo com os olhos e sorriu magnificamente, causando reboliço em minhas entranhas. Aquele era só o começo. A mulher inclinou-se para beijar meu pescoço. Mordeu e chupou a região. Suas mãos iniciaram um passeio livre e torturante por minhas coxas. Aquelas mãos delicadas mostravam-me que a delicadeza era apenas uma máscara, seus toques reais eram ousados e sua pegada era firme. Os beijos de Maraisa foram descendo do por meu ombro, até que chegaram ao vale entre meus seios.

Nesse instante ela me olhou como se precisasse de minha permissão para continuar e eu concedi abrindo um leve sorriso. Com bastante destreza, ela abriu o fecho do meu sutiã que era na frente e delicadamente foi afastando o tecido da minha carne e quando ela finalmente livrou-se totalmente da peça, vi seus olhos enegreceram de novo e ela arfar, deixando uma lufada de ar escapar por seus lábios, mantendo-os entreabertos.

- Deixe-me gravar essa imagem na cabeça. – Ela falou com um sorriso um tanto cafajeste e em seguida mordeu os lábios. Num ato desesperado de não saber o que fazer com as mãos, puxei Maraisa e juntei nossos lábios num selinho desajeitado, em seguida ela desviou-se de meus lábios e direcionou sua atenção ao meu pescoço, no qual chupou, mordeu e lambeu de forma excitante e intensa, fazendo-me arfar.

- Espero que me perdoe se não gostar, mas é a primeira vez que faço...amor com alguém. - Eu estremeci, me arrepiei, tremi, tudo isso apenas ouvindo aquela frase vinda de seu timbre rouco. O tempo parou, as chamas que subiam e desciam na lareira pararam de se movimentar, a chuva parou de cair e tudo tornou-se o silêncio de nossas respirações. Era isso. Eu ia me entregar para Maraisa. A partir daquela noite, eu seria inteiramente dela.

Nos livramos do excesso de roupas que ainda nos cobria e ficamos completamente nuas. Nossos lábios recusavam a se separar e minhas mãos percorriam por seu corpo como se buscassem decorar a textura de cada pedacinho. Seus lábios quentes de separaram dos meus e foram à um encontro direto com meu seio esquerdo. Mantendo o olhar fixo ao meu, ela rodeou o mamilo com sua língua e eu gemi ao sentir sua boca envolve-los graciosamente, em lambidas lentas e provocantes, enquanto sua outra mão massageava o que estava ao lado.

- Céus, Maraisa... - Gemi entrelaçando alguns fios de seu cabelo por entre meus dedos e a impulsionei contra minha pele. Aquilo pareceu o estopim para Maraisa, que chupou com toda vontade e gana, rodeando o mamilo com a língua sem parar um instante, deixando-os sensíveis. Sua mão foi de encontro a meu sexo, massageando a carne molhada sem parar. Eu já estava zonza com seus toques, sentia-a me em chamas e ao mesmo tempo flutuando, os gemidos manhosos escapavam de minha garganta sem minha permissão.

- Maraisa, por favor, faça mais... - Implorei em meio ao êxtase de meu prazer.

- O que, Mendonça? - A rouquidão de sua voz sussurrada me arrepiou por inteiro. - Me diga. Eu quero saber o que você quer...

Eu puxei-a pelo ombro e colei meus lábios em seu ouvido.

- Eu quero sentir seu toque, eu quero nos sentir juntas...

Eu segurava o ombro de Maraisa enquanto sussurrava e pude sentir sua pele se arrepiar. Ela acatou minha súplica depositando beijos castos em meus lábios, depois beijou o vale entre meus seios, passando por meu abdômen onde mordeu devagar, descendo mais até onde eu me derramava de prazer. Com delicadeza, ela afastou minhas pernas e deslizou sua língua de meu centro pulsante até minha entrada, provando do liquido quente que dali emanava.

- Isso, Maraisa! – Gemi e num ato desesperado por maior contato, segurei em seus cabelos e pressionei seu rosto contra minha carne.

- Você tem um gosto maravilhoso, Mendonça... - Ela falou quase gemendo e aquele 'Mendonça' se repetiu em minha cabeça, por Deus, eu poderia gozar apenas ouvindo ela me chamar daquela maneira.

Curvei-me para vê-la e se a cena poderia ficar mais excitante, eu aguardava o momento. Maraisa estava feito uma felina dengosa, lambendo lentamente meu sexo. Eu podia ver em seu olhar os desejos enegrecidos pela íris escura, misturando-se ao mar castanho e brilhante. A paixão misturando-se a luxúria. O sexo carnal transformando-se em amor.

A lentidão de seus movimentos foi transformando-se na pior das torturas e não havia força que a fizesse mudar seu ritmo. Meus gemidos foram tornando-se mais desesperados e ela pareceu entender meu desespero, pois sua língua começou a se mover freneticamente em meu ponto de prazer, pressionando o mesmo da maneira que eu mais ansiava e para ajudar, comecei a mover meu quadril rebolando deliciosamente em seus lábios. O prazer foi tornando-se devastador em mim, tentei fechar minhas pernas e amenizar o quão grande era o que estava sentindo, mas ela tratou de segurá-las com força e continuou seu trabalho movendo sua língua com maestria.

- Isso, amor... Não pare! – Gemi ofegante, apertando minhas pálpebras. Eu podia ouvir a sucção de sua boca faminta em meu sexo e aquele som em conjunto com os nossos gemidos era enlouquecedor. Com a ponta da língua Maraisa rodeava o clitóris sem parar, e para aumentar mais ainda a intensidade, eu senti dois de seus dedos me penetrarem sem o menor aviso. Eu quis gemer, mas a voz não saiu de minhas cordas vocais. Eu levei a mão aos seus cabelos, apertando-os com força, obrigando a mulher a intensificar o que estava fazendo. Eu sentia minhas pernas tremerem com aquele toque ousado de língua e seus dedos. O orgasmo se iniciou feroz em meu ventre, e Maraisa parecia saber disso. Ela estava incansável em seu vai e vem constante, e chupava-me com gana e urgência. E a sensação que antes estava em construção, foi se espalhando avassaladora por meu corpo. Minhas pernas tremeram, meu corpo estremeceu inteiramente. O orgasmo que me domou foi mais forte do que eu poderia imaginar. Eu fiquei sem forças, a respiração travou em meus pulmões e a única coisa que eu conseguia fazer era gemer seu nome.

Maraisa sugou todo meu gozo até não restar mais nada. Eu remexi meu corpo devagar, sentindo seus dedos saírem de dentro de mim. Eu queria falar algo, mas não conseguia falar. E naquele instante, nada precisava ser dito. Tudo estava consumado.


Point of view: Maraisa.



Estava andando pela casa, as luzes estavam apagadas, seu perfume havia se alastrado pelas paredes, o seu casaco de moletom estava jogado no sofá. Ela não estava na sala, mas ainda podia ouvir seu gemido ecoando sobre o local, ainda tinha seu calor ali. Fazia tempo que não me sentia assim, transbordando uma cascata de sentimentos transparentes e intensos. Uma cachoeira a se derramar livre, fazendo alarde e respirando para todos os lados. Eu, que nunca soube sentir meios, estava sentindo inteiramente a paixão correr por minhas veias.

- Você está perdida, Maraisa... - Aquilo foi dito para mim mesma e ali sozinha, ri de minha própria situação. Não que fosse ruim, mas era boa demais para acontecer comigo. Para alguém que vivia de tragédias, traições e abandonos, algo tão bom acontecer era estarrecedor. Marília havia chegado em minha vida como a visita de um anjo e eu ainda não sabia lidar com isso. Sempre que estávamos juntas, ela libertava o mal que havia em mim e isso ainda me era estranho.

Me sentei no sofá e encarei o tapete de camurça, logo as cenas ainda quentes invadiram minhas lembranças e me iluminam os pensamentos como uma vela me meio ao apagão. As horas anteriores e seus acontecimentos se repetiram em meus pensamentos e causaram-me arrepios. De repente, a paixão foi tão forte em mim, que constrangeu toda a mágoa. As feridas cicatrizaram e pela primeira vez, desde os meus cinco anos, eu me senti livre. Pude sentir os primeiros raios de sol, brilhando, aquecendo. Seria a primavera estancando o inverno rigoroso dentro de mim? As paredes de gelo foram escorrendo aos poucos, já era possível ver as veias e a carne viva. O som dos batimentos se rebatia por minhas paredes ósseas. Meu coração voltara a pulsar forte, quebrando as cortes que o prendiam.

Havia uma primeira pequena rosa brotando no jardim, ouvi o primeiro cantar do rouxinol que regressou. O inverno realmente cessou.

- Amor? - Sua voz sonolenta e manhosa surgiu por trás de mim fazendo subir um arrepio pela espinha e libertando as borboletas em meu estômago. Era assustador como som de um simples "amor" dito por ela tinha poder avassalador em mim. Me virei para olhar a mulher que estava parada em frente a escada. Ela tinha cabelos bagunçados, rosto amassado e estava enrolada na coberta, me olhando.

A beleza de Marília me fazia acreditar na existência de um Deus. Eu olhava para os traços perfeitamente desenhados de seu rosto e me pegava pensando em quantas horas o criador passou planejando e medindo milimetricamente cada risco que formaria seu rosto. Quando olhava seu corpo, eu percebia que a criação de Marília havia sido uma trégua entre Deus e o Diabo. Eu conseguia imaginar os dois trabalhando juntos naquela obra única. Podia ver os toques delicados da mão de Deus em seus finos traços femininos, o perfeccionismo que ressaltava seus lábios bem desenhados, a dedicação depositada na coloração rosada dos mesmos. Os dois trabalhos se uniam nos olhos castanhos, que em momentos de ternura, tinham um tom claríssimo, castanho puxando para o mel. Mas, quando a criatura era tomada pela luxúria, a pureza era expulsa como Adão e Eva do paraíso. O castanho claro transformava-se em escuridão. Do tecido que cobria o corpo, surgiam as curvas esculpidas pelo demônio. As sinuosas curvas daquela pele branca tinham a capacidade de inebriar qualquer um. Qualquer desavisado que tivesse a sorte de contemplar aquela obra de arte, ficaria embriagado, viciado e se jogaria aos pés daquela mulher, submisso ao seus desejos.

- O que foi, meu anjo? - Perguntei. Me levantei do sofá e caminhei até a mulher, que abriu os braços para me receber e me abraçou, cobrindo-me com a coberta.

- Senti sua falta na cama... - Ela disse sussurrando, sorri involuntariamente contra a pele de seu pescoço. Eu havia morrido e estava no céu? Era isso?

- Então vamos voltar para lá, está frio. - Depositei um beijo casto em seu rosto e ela sorriu docemente para mim. 

The last coffee - Adaptação malila.Onde histórias criam vida. Descubra agora