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Lívia Vázquez15 de Janeiro de 2022- nas nuvens -

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Lívia Vázquez
15 de Janeiro de 2022
- nas nuvens -

Começar uma vida nova não é nada fácil, muito menos longe de quem você ama, da sua cidade, da sua zona de conforto, do seu habitat, deixar suas amizades. Só que é isso que eu estou fazendo agora, mesmo com uma angústia que aperta meu peito e um nó do tamanho do mundo na garganta, eu tomei a decisão de deixar tudo pra trás para começar a minha vida. Eu sei que ainda vai doer, mas eu vou ter que aprender a conviver com essa dor.

O primeiro passo era conseguir a transferência do meu curso para o polo de outra cidade em outro estado, e eu consegui, demorou um pouco mas deu tudo certo. É difícil eles aceitarem um pedido desses, ainda mais nos últimos semestres de curso, maaaass com uma ajudinha daqui, umas ligações ali, o acordo foi fechado e agora eu já estou matriculada no outro polo. Ansiosa para conhecer tudo. Com medo de não me adaptar ao ambiente novo, pessoas novas.

Calma Lívia, sem sofrer por antecedência, respira!

Nossa. Curitiba parece minúscula daqui de cima, será que eu consigo achar meu bairro? É óbvio que não, mas vai saber, sempre fui muito boa em geografia. Tenho uma ótima noção geográfica.

- Licença, a senhorita gostaria de beber ou comer alguma coisa? - A voz aveludada da aeromoça me faz desviar a atenção da janelinha.

- Ah, não, grata. Estou bem assim por enquanto!

- Certo! Qualquer coisa é só me chamar! - Ela sorri graciosa e sai com o carrinho fazendo a mesma pergunta aos outros passageiros.

Olho em volta e percebo que o vôo está quase cheio, poucos assentos vazios. Engraçado que justo a fileira que segue ao meu lado esquerdo está completamente vazia, não tem ninguém ao meu lado, nem nas três do meio e nem uma mosquinha nas outras lá do outro lado. Sozinha. Como sempre.

Sempre eu por mim mesma.

Um dos motivos de eu ter decidido ir embora foi esse, estar sozinha. Mesmo tendo uma família aparentemente unida e amorosa, aquela tradicional onde as pessoas acham o máximo seus pais ainda serem casados, como uma família feliz de comercial de margarina, a minha não é assim de uns tempos pra cá. Brigas, discussões, bate bocas desnecessárias, por coisas inúteis, que já estavam afetando até o meu rendimento acadêmico. Meus dias já não eram mais os mesmos, minha casa já não era mais a mesma, voltar pra casa já não era mais sinônimo de felicidade, o meu lar já não existia mais, a minha família... caramba esse vôo é longo né?!

- Eu amo vocês, pra sempre vou amar - Uma lágrima teimosa insiste em cair - É por isso que eu preciso ir - Fecho a janelinha e coloco meus fones de ouvido me ajeitando na poltrona. Uma hora e cinco de viagem pela frente e só faz dez minutos que decolamos.

A última coisa que vejo é a mensagem de tia Lúcia avisando que a chave do apartamento está na portaria com o Sr Mathias, o porteiro de confiança dela. Respondo um 'obrigada tia Lu', envio e bloqueio a tela.

PERDIÇÃO | RICHARD RÍOS (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora