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Lívia VázquezAlgumas horas depoisAeroporto de Guarulhos– do lado dele –

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Lívia Vázquez
Algumas horas depois
Aeroporto de Guarulhos
– do lado dele –

Mais um tempo sentada e minhas pernas iam de arrasta pra cima, de verdade. Não bastou dormir a viagem toda, tinha que ficar toda torta na poltrona e com as pernas encolhidas, isso que eu nem sou tão alta. Me espreguiço no mínimo espaço que me resta enquanto as comissárias conduzem os outros passageiros à saída. Tem um pessoal da comissão ainda dormindo e quem já acordou começa a se arrumar pra sair.

Na poltrona da frente Zé tá encostado na janela e pela tranquilidade só pode estar dormindo também.

– Bom dia, cria!

– Credo José – Levo a mão ao peito e ele acha graça da situação – Quer me matar do coração? Pensei que tu tava dormindo homem!

– Claro que não dramática… era só pra ver se ‘cê tava ligada.

– Tenho cara de bico de luz pra estar ligada? – O barbudo ri – Palhaço.

– Não tem, mas tá acesa igual uma lâmpada vermelha aí ó – Zé aponta pro meu rosto – Até o pescoço – Levanto o dedo do meio pra ele que faz o mesmo para mim, e continua rindo quando puxa o capuz sobre a cabeça. O mais velho gira no lugar e encara a pista pela janelinha.

Mais na frente Joaco se espreguiça e bate as mãos no bagageiro, o que faz ele olhar ao redor para ver se alguém estava olhando. Meu olhar encontra o dele e não consigo segurar a risada quando ele também sorri envergonhado com aquela cara de besta amassada.

Me sento de novo esperando a deixa para desembarcar quando meu celular começa a vibrar com notificações. A maioria são de tia Lu, as outras são de apps e… da minha mãe. É sério? Depois de um ano sem nem me mandar um oi ? Lembrou que tem filha?

Um nó difícil de engolir para no meio da minha garganta e de repente parece que tem ar demais nos meus pulmões. O ar não sai, nem entra, o desespero começa a bater e eu preciso me controlar para não dar na cara que uma crise resolveu me dominar logo agora. Tenho que me distrair com algo, sei lá, não deixar que me percebam nesse estado, detesto parecer frágil diante dos outros.

Meus dedos tremem quando toco o cursor da jaqueta do uniforme. Começo a subir e descer o mesmo, abrindo e fechando algumas vezes até o barulhinho dele correndo nos dentes do fecho ser a única coisa que consigo ouvir. Meus olhos estão fechados mas sinto bem a umidade nos cílios, passo o indicador ali secando um pouquinho e pisco várias vezes antes de sentir a claridade incomodar. Quando olho em volta o pessoal da comissão já começa a formar fila no corredor para descer, sinto alguns olhares curiosos sobre mim mas finjo que não são nada demais. Pego minha mochila ajeitando no ombro para me juntar a eles.

A manhã mal começou e já piorou. Adivinha de quem a mala foi extraviada? É amigas agora eu preciso de um uniforme reserva novo, porque o outro foi parar sabe-se lá aonde. A companhia aérea deu certeza que até o final da manhã já teriam a localização da mala e que provavelmente até amanhã já iriam conseguir resgatar a bendita. Aham, confia.

PERDIÇÃO | RICHARD RÍOS (PAUSADA)Onde histórias criam vida. Descubra agora