Capítulo 3

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Desde que me lembro, não sou fã de aniversários, especialmente do meu próprio. Todo outono, a mesma rotina e as mesmas celebrações que nunca parecem trazer mudanças insignificativas à minha vida.

Naquela manhã, momentos antes de descer para a aula particular, meu pai bateu suavemente na porta do meu quarto.

- Toc, toc! Posso entrar? - Perguntou com um sorriso carinhoso.

- Claro, Sr. Winchester.

Ele se sentou à beira da minha cama, segurando uma caixa rosa bebê, com bolinhas brancas e um lacinho azul no topo.

- Feliz aniversário, querida.

- Oh, pai, obrigada... - Agradeci emocionada ao receber o presente. Com cuidado, abri o embrulho e me encantei com todas as pequenas surpresas dentro da caixa: um par de brincos de rubi, água-de-colônia, um par de meias cor da pele, sais de banho, livros, três presilhas e, no fundo da caixa, um longo vestido verde pastel e musgo. - Eu amei tudo. Muito obrigada novamente, pai!

O abracei.

- Fico feliz que tenha gostado, querida. Espero que use o vestido hoje à noite.

- Hoje à noite? - Fiquei surpresa com a ideia.

- Claro! Você sabe que jamais deixaria seu aniversário passar em branco. Hoje você completa dezoito anos, e como filha de um banqueiro e prefeito tão importante como eu, é necessário se portar como uma verdadeira dama. Ah, o povo ficará alvoroçado como porcos no chiqueiro... - Ele ria como se tivesse feito a piada mais engraçada do mundo, mas para mim, era uma situação bem desconfortável. - Bem, agora devo ir. Se apresse, pois em breve terá aula. Até mais, querida.

Ele partiu, não me deixando a mínima chance de responder. Fiquei parada no meio do quarto, com pensamentos inquietos. Não queria uma festa, e a forma como ele falava me incomodava profundamente. Entristecida, olhei o vestido jogado sobre a cama. Então, pude prever
que a noite seria beeem longa.

Mais tarde me espreguiço na banheira e por lá fico, sem vontade alguma de me levantar e vestir uma roupa. Minha cabeça continuava a mil. Eu não queria uma festa essa noite, só queria descansar. Só queria descansar no meu próprio aniversário.

Depois de tanto enrolar, eu saí da banheira, e Judite me ajudava a vestir o espartilho enquanto eu olhava para o vestido pendurado no armário.

- Judite... Sabe quantas pessoas... - a cada apertada que ela dava naquele nó, eu sentia meu diafragma falhar. Por que espartilhos são tão apertados? - ...que papai vai convidar? - Perguntei, quase que ofegante.

- Oh querida, pelo que eu conheço seu pai, o andar de baixo ficará cheio.

Eu preferi vestir o vestido atrás do biombo, e logo voltei para me exibir para Judite. O seu queixo caiu e ela tocou as bochechas, a velha expressão de admiração que me fazia sorrir.

- Está linda! Parece uma verdadeira princesa.

Uma princesa tragicamente triste.

Lá de cima, já conseguia ouvir a música clássica, as pessoas conversando e a voz de papai, que aos poucos, se aproximava de mim, até que as batidinhas na porta se fizeram presentes.

- Querida, está pronta? - Ele perguntou, adentrando ao quarto.

Coloquei o par de brincos enquanto retocava o batom, queria fingir um interesse.

- Quase...

Ele se aproximou, colocou as mãos nos meus ombros e me olhou pelo espelho.

- Prometo que vai amar a comemoração desta noite. Anime-se, os dezoito anos de uma garota é sempre único. E o seu será mais do que isso dependendo de mim.

- Obrigada, pai.

Eu nem sabia o que estava agradecendo. Forcei um sorriso e ele foi até a porta.

- Vamos? Estão todos à sua espera.

Papai me guiou até a escada, e descemos como se eu fosse um diamante que ele encontrou. Haviam pessoas de todas as caras possíveis, mas de maneiras e vestes muito semelhantes. Todos bateram palmas e quando me juntei aos convidados, não me faltavam parabenizações.
Em meio a festa, me pediram para tocar piano. Toquei 'Clair de Lune' de Claude Debussy e em seguida, papai me chamou para tomar uma taça de vinho.

- Querida, preciso te apresentar uma pessoa importante. - Disse ele.

Curiosa, o segui até o escritório.

Lá estavam dois homens e uma mulher sentados, dois velhos e um jovem adulto. Ambos tomando vinho.

- Thomas, Nora e Eric. Essa é minha filha, Ágatha. Ágatha, esses são os Astor. Grandes amigos da família.
Eles se levantaram. A mulher logo pegou minhas mãos com uma expressão admirada.

- Tão bonita... Me surpreende, Edgar. Ela é muito parecida com Margot quando era jovem.

- Obrigada. Conhecia minha mãe?

- Claro. Minha falecida amiga, Margot. Deus a tenha...

- Santa paciência, Nora! Deixe a jovem respirar. - Disse o marido da mulher, a afastando e estendendo sua mão para me cumprimentar. - É um prazer, senhorita. És realmente muito bonita.

- Agradecida.

Quando ele saiu de minha visão, pude ver o filho do casal, um homem alto e de pele clara, de terno preto e postura elegante. Se pôs na minha frente, pegou minha mão e beijou-a.

- Estou encantado, Ágatha. - Me mantive em silêncio. - Sou Eric Astor.

Assenti em automático com a cabeça. Comparando nossa altura, pude reparar em como ele era alto, onde minha nuca batia em seu peito. Seus olhos castanhos e profundos eram misteriosos, e ele era dono de um sorriso malicioso, o que me causou uma mistura de desconforto com estranheza.

- Bom, já que se conheceram, vamos para o salão? - Sugeriu papai.

O Sr. e a Sra. Astor foram dançar. Papai se juntou a uma partida de truco. Eu continuei caminhando para que Eric não me seguisse. Seu olhar insistente não me deixava em paz, sempre tentando me acompanhar.

- Srta. Winchester? - Ouvi sua voz grave. Virei-me e o encarei.

- Olá, Sr. Astor.

- Não quer dançar?

- Ah, eu adoraria. - Menti. Estava desconfortável, mas deixei que ele me guiasse.

Ele até que dançava bem, mas eu não fazia a menor questão de me igualar a ele

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Ele até que dançava bem, mas eu não fazia a menor questão de me igualar a ele. Tentava evitar contato visual a todo custo durante toda a valsa, visando os outros casais por cima do ombro dele.
À medida que a música ficava mais intensa, a tensão se fez presente ao ar, ele estava se aproximando. Durante um movimento, senti-o suas mãos firmes apertarem minha cintura com força, tentando nos colar. Impulsivamente, o empurrei e saí correndo dali.
Subi as escadas e entrei no meu quarto, fechando a porta e respirando fundo. Me senti sufocada, então dirigi-me à sacada para pegar um pouco de ar. Sentindo o vento em meus cabelos, pude me permitir o choro entalado na garganta.

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