Capítulo 8

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Mais cedo pude ver Dave dentro da estufa pela sacada. Ele me parece extremamente empenhado no que faz: Vai para o jardim, retorna para a estufa, depois volta para o jardim novamente... Parece feliz fazendo aquilo, e não me parece ter medo algum de se sujar.
Faltavam dez minutos para a aula de ballet, então resolvi dar uma passadinha lá no jardim.

- Boa tarde, senhor... Dave - Fui até ele, tentando ser educada.

- Boa tarde, senhorita... Ágatha - Respondeu ele, com um sorriso.

Ele estava concentrado plantando uma mudinha do que parecia ser uma Jasmim.

- É uma Jasmim? - Perguntei, apreciando a beleza da planta.

- Sim, é - Ele deu uns acabamentos na terra com batidinhas leves, se levantou e tirou o excesso de sujeira de sua própria roupa. - Gosta delas?

- Com toda certeza, são umas das mais lindas e doces... - Vi o rapaz pegar um regador. Ele tentou utilizá-lo, mas estava sem água. - Quer que eu vá buscar água?

Ele me deu um olhar engraçado, parecia desconfiar mas ao mesmo tempo gostar do meu gesto.

- Aceito, aproveito e te mostro suas rosas.

Na estufa, havia uma longa e fina mangueira azul, enrolada em círculos em um apoio de metal. Fui até a fonte de água da mangueira, a torneira. Tentei e tentei ligar, mas sem sucesso, até que resolvi usar da minha força bruta: Com toda força, girei o volante da torneira e ela estourou. No desespero, olhei para trás e vi Dave todo molhado.

- Oh céus! - Fui até ele em choque, com a palma da mão na boca. Ele só sabia rir. - Me desculpe, me desculpe... Como fui idiota.

- Não se preocupe... pode ir ali nas minhas tralhas, onde tem minha bolsa, e pegar uma roupa nova?

- Claro, claro.

Ainda desesperada, procurei onde ele havia indicado, mas não encontrei roupa alguma. Até que senti algo frio nas minhas costas: ele tinha acabado de se vingar me molhando diretamente com a mangueira.

- AAH! - Gritei. - Pare com isso!

Ele desligou a mangueira e soltou o longo cano dobrável no chão. Assim que tive oportunidade, peguei e o molhei novamente. Quando menos percebi, lá estávamos nós com uma guerra de água pelo quintal.

- Volte aqui, você não me escapa! - Sorridente, ele dizia, e eu estava caindo na risada junto dele

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- Volte aqui, você não me escapa! - Sorridente, ele dizia, e eu estava caindo na risada junto dele.

Parecíamos dois bobões...

Duas crianças...

Dois jovens normais.

Uma hora, acabei caindo na grama verde do jardim. Ele desligou a mangueira e foi até mim.

- Está bem? - Perguntou ele, com uma face preocupada. Para criar um drama, me mantive de olhos fechados. Depois, me despertei inesperadamente para lhe causar um susto, e o empurrei na grama comigo.

- HÁ! - Gritei, ainda aos risos.

De repente, surgiu um silêncio, onde ambos estávamos olhando para o céu. Quando fui olhar para ele, deparei com o mesmo já me observando há um tempo.

- Tem lama nesse seu nariz empinado - Disse ele, logo limpando com o dedo.

- Eu deveria... - suspirei. - Bom, eu queria te pedir desculpas.

- Eu perguntaria o motivo do pedido, mas eu sei qual é - Ele retornou seu olhar para o céu, com as mãos atrás da nuca. - Vá em frente.

- Eu não queria parecer uma pessoa mesquinha, sinto muito por ter te tratado mal... - Ele não respondeu. Mas continuei: - Você deve me achar uma mimada, não é?

- Quer sinceridade?

- Claro. - Eu não queria.

- Não acho. Na verdade, um dos motivos pelo qual eu resolvi vir aqui foi para provar que você não era essa pessoa ignorante como todos dizem.
Todos dizem? Naquele momento me senti imóvel e surpresa. Uma dúvida que já existe em mim há anos, só se fortaleceu: O que as pessoas de fora acham de mim? Elas veem e sabem muito pouco da minha vida: sou a filha de Edgar Winchester e ponto. Nada mais.
Eu não queria acreditar, mas as palavras de Dave me pareceram tão sinceras que logo fui convencida.

- Você não me acha ignorante? - Perguntei.

- Você só é muito julgadora.

- Nunca me vi assim.

- Se você diz... - Logo eu, que odeio receber o julgamento velho e cansativo das pessoas ao meu redor. Não poderia ser uma julgadora. - Você estava toda arrumada, ia para algum lugar?

Porcaria. Tinha esquecido da aula de ballet.

Cheguei no teatro dez minutos atrasada; afinal, tive que tomar outra ducha e me arrumar outra vez pela bagunça

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Cheguei no teatro dez minutos atrasada; afinal, tive que tomar outra ducha e me arrumar outra vez pela bagunça. Como punição, a Srta. Leroy me fez praticar exercícios para todas as outras alunas assistirem.
Com o antebraço levemente encostado à barra, me alonguei. Fiz as cinco posições e, em seguida, ela pediu que eu fizesse um Grand Battement: consiste em ficar com o tronco reto e, aos poucos, esticar uma das pernas até o topo de sua cabeça. Fiz isso quatro vezes em cada lado, como mandado por ela.
Finalizei com um espargata, também de ambos os lados, quatro vezes em sequência.

- Ok, perfeito. - As meninas bateram palmas e me levantei. Logo me encontrei com aqueles olhos frios, azuis e sérios da Srta. Leroy na minha frente. - Não se atrase novamente. - Assim disse ela, com ordem.

Naquele dia, não consegui me concentrar nos passos; estava muito pensativa com o que tinha acontecido no quintal mais cedo. Eu reparei quando estava deitada na grama molhada com Dave que, além de um cara bonito, ele era lindamente gentil e humano, e isso com certeza me fez gostar mais dele. Fiquei com a imagem do seu rosto na cabeça, era impossível não pensar nele e na diversão que aquele momento me proporcionou.

- Sério, já estou cansada de repetir tantos pliés... - Reclamou Mady aos sussurros. Como eu estava no mundo da lua, ela me cutucou. - Ei, você está me ouvindo?!

- Hã? O que?

- Nossa senhora, tava pensando no quê?

- Ah não, nada... Apenas cansaço. - Menti. Uma hora falaria sobre Dave para Mady, só que não seria desta vez.

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