Fora dos trilhos

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Lana entrou na casa como uma tempestade, encharcada dos pés à cabeça, com os cabelos desgrenhados e molhados caindo em seu rosto. Cada passo deixava um rastro de água no chão de madeira, ecoando pela casa silenciosa. A umidade saturava o ambiente, denunciando sua passagem turbulenta.

No corredor, ela esbarrou em Isabel, sua amiga, que, ao vê-la naquele estado deplorável, ficou paralisada, com a boca aberta em um misto de surpresa e preocupação. Isabel quis perguntar o que havia acontecido, mas antes que pudesse articular qualquer palavra, Lana passou por ela apressadamente. O olhar determinado e a expressão fechada deixavam claro que ela não estava disposta a dar explicações naquele momento.

Lana se refugiou em seu quarto, fechando a porta com um movimento brusco. Sentou-se no chão, abraçando as pernas, como se buscasse algum consolo na própria solidão. A raiva queimava dentro dela, sua mente fervilhava de pensamentos confusos e ressentidos. Havia jurado a si mesma evitar qualquer contato com Edward nos próximos dias. Além disso, estava decidida a fazer o possível para que Camila se casasse o mais cedo possível, acreditando que assim todos encontrariam a felicidade que tanto buscavam.

Enquanto permanecia ali, no silêncio de seu quarto, a única testemunha de sua angústia, Lana refletia sobre os eventos recentes. A discussão com Edward havia sido intensa, carregada de palavras duras e mágoas antigas, diferente do beijo que partilharam. Agora, tudo o que queria era distância, tempo para se recompor e reorganizar seus sentimentos. As paredes do quarto pareciam cerrar-se ao seu redor, oferecendo um refúgio temporário, mas a promessa de mudanças iminentes pairava no ar, como uma sombra sobre seu futuro incerto.

O tempo passou lentamente e Lana permanecia no mesmo lugar do chão frio e escuro de seu quarto. Os minutos se arrastavam enquanto ela processava suas emoções e pensava no futuro. A fúria inicial havia se dissipado, deixando um cansaço melancólico em seu lugar.

De repente, batidas suaves na porta quebraram o silêncio. Uma voz preocupada se fez ouvir do outro lado.

- Sou eu, Isabel. Deixe-me entrar, Lana - disse Isabel, com um tom de preocupação que transparecia a urgência de seu pedido.

Lana hesitou por um momento, mas então se levantou lentamente e abriu a porta. Isabel entrou e, ao vê-la ainda toda molhada, seu semblante se tornou ainda mais apreensivo. Sem dizer uma palavra, Isabel ofereceu uma toalha a Lana, que a pegou com um suspiro de resignação.

- Você precisa se secar e se trocar. Vai acabar pegando um resfriado desse jeito. Já viu que o sol já se pôs? - disse Isabel, enquanto olhava com carinho e preocupação para a amiga.

Lana, sem forças para discutir, apenas assentiu e começou a secar-se. Isabel permaneceu ali, esperando pacientemente e transmitindo uma presença reconfortante. A tensão no ar começou a diminuir, e Lana sentiu uma leve sensação de alívio ao ter alguém ao seu lado, mesmo que não estivesse pronta para compartilhar tudo o que se passava em sua mente.

(...)

- O que aconteceu?- resolveu Isabel questionar após Lana estar de banho tomado

- Já te falei que nada aconteceu! - Lana reafirmou, com uma ponta de exasperação.

- Você chegou encharcada, como se fosse o animal mais veloz do mundo correndo até seu quarto! Não sou boba e... - Isabel diminuiu a voz, como se tivesse mais informações, o que preocupou instantaneamente Lana.

- E o que, Isabel? - Lana inclinou-se para frente, esperando ansiosa por uma resposta.

- Fiquei sabendo que o Visconde chegou pisando fundo e todo molhado, assim como você.

- Ele estava bravo? - Lana perguntou, tentando disfarçar o interesse, mas falhando miseravelmente.

- Eu sabia! - Isabel apontou um dedo acusador para Lana, que afundou o rosto no pote de biscoitos, tomada pelo sofrimento.

O Desafio dos Corações OcultosOnde histórias criam vida. Descubra agora