2.2. Abaixo à tirania

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Vamos ao desfecho!
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Era uma noite fria e silenciosa. Estava tarde e as ruas estavam quase desertas. Ao sul de Lombardia, o La Costé estava de portas abertas e era possível observar um fluxo médio de pessoas lá dentro. O grande espaço interno em tons diferentes de vermelho dava ao ambiente um clima íntimo e luxurioso. Revestido de madeira do piso ao teto, o bordel dispunha de mesas cobertas por uma toalha branca por toda uma lateral do espaço com alguns pequenos sofás vermelhos em seus arredores. Do lado oposto era possível observar um grande balcão de madeira com copos, taças e garrafas em cima e uma grande prateleira  na parede com os mais diversos tipos de líquidos e recipientes. Parte das paredes eram cobertas por desenhos em formatos repetidos em um outro tom e alguns quadros e luminárias completavam o visual. No teto, três grandes lustres, em fileira e de cor laranja, iluminavam em cima do balcão. Além desse espaço central, havia uma outra área com mais um balcão e bancos e outros pequenos espaços.

“Se soubessem da sua presença aqui, certeza que não retornaria para o castelo”, a senhorita Daroit disse sentando à mesa acompanhada por uma taça cheia em uma de suas mãos.

A rainha escolhera aquela noite para entorpecer-se. Já se sentia bem melhor do ferimento, mas, honestamente, ainda que não se sentisse teria optado por estar ali. Estava se sentindo sufocada pelos muros do castelo. Poucos dias se passaram desde que Lombardia estava tomada pela ira e a rainha ainda não havia feito nada para reverter a situação que seu tio a colocara. Estava entre revogar o decreto e expor a todos o verdadeiro mentor desse projeto ou deixar tudo como estava. Sentia-se confusa porque, há um tempo atrás, provavelmente não teria se importado com o quanto isso afetaria aos demais. Contudo, agora as coisas haviam mudado e a rainha teve a plena certeza disso quando observou as figuras das irmãs Montibeller entrarem pela porta principal do Lá Costé. 

A rainha pensava se algum dia seria possível encontrar a mulher de olhos verdes menos do que bela. Estava em um vestido longo verde musgo soltinho. Seu cabelo estava preso em uma trança colocada por sobre um ombro que, junto à alça fina do vestido, deixava amostra aquela parte tão atrativa de seu corpo.

“É ela, não é?”, olhou para a senhorita Daroit piscando os olhos rapidamente para sair do estado de torpor que entrara. “É ela a mulher”, afirmou. 

A rainha respirou longa e profundamente. Não entendia o que significava a afirmação da mulher, mas, sim, precisava concordar que era ela. Com um sorriso curto no rosto, levantou da cadeira depois de beber do copo que a mulher segurava e pediu licença ao se afastar. Deslocou-se para a parte mais escura e calma do ambiente, poucas pessoas circulavam por ali. Sentou no banco alto em frente ao balcão e fez sinal para uma moça servi-la. Percebeu-se enganada ao achar que ficaria sozinha, pois logo o banco ao seu lado fora ocupado.

“Como foi capaz?”

Bebeu mais um gole do líquido que continha em seu copo olhando na direção na qual a bela moça se encontrava. Mais uma vez havia fúria em seus olhos. 

“Essa capa não está mais cumprindo com a função dela”, a senhorita Montibeller respondeu ante à expressão confusa e curiosa da rainha.

“Preciso desculpar-me”, a rainha foi direta. “Eu realmente não sabia sobre.”

“Quer que eu acredite nisso?”

“Apenas se a senhorita achar que deve.” 

“É muita inocência achar que eu poderia acreditar”, a mulher falou contrariada negando com a cabeça. 

“Senhorita Montibeller, é livre para pensar o que quiser. Apenas saiba que quando digo que não, é não”, a rainha afirmou séria e categórica.

One Shots | ROSATTAZOnde histórias criam vida. Descubra agora