Capítulo 31 - Momento perfeito

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"Tell the world that we finally got it all right
I choose you
I will become yours and you will become mine!"

P E P P E R

Quando descobri a gestação não era bem essa a sensação que imaginava. Pensei que os enjoos eram esporádicos, que os desejos seriam algo sem muita importância e que as dores de cabeça fossem semelhantes àquelas que eu já experienciei com a enxaqueca. Mas, me surpreendi de uma forma não tão agradável. Segundo a médica, os incômodos que eu vinha sentindo poderiam ser bem comuns por se tratarem de uma gestação gemelar, e apenas em último caso, se os sintomas não passassem iriamos entrar com medicações mais fortes e cogitar até mesmo uma internação. Eu não queria aquilo, de forma alguma, por isso, quando Tony sugeriu a viagem para que pudéssemos nos distrair de tudo, aceitei sem hesitar.

Enquanto seguimos em direção ao destino planejado, observo a paisagem em constante transformação através do vidro do carro. Nesse momento de tranquilidade, reflito sobre o quanto minha vida passou por mudanças significativas ao longo do último ano. Normalmente, eu jamais consideraria uma viagem de final de semana, tendo em vista a quantidade de trabalho que me aguarda na cidade, mas aqui estou eu, cedendo aos encantos da jornada, pois minhas filhas, mesmo antes de nascerem, já estão me ensinando valiosas lições sobre a vida. Filhas... Sim, muita coisa realmente mudou. Desde a mudança de cidade até um novo emprego, passando por um caso extraconjugal, separação e, agora, a gravidez... Uau.

— Você está em silêncio há tempo demais, linda. -Tony murmura, trazendo a mão direita do volante direto para minha coxa, apertando suavemente. — No que está pensando?

— Só no quanto as coisas mudaram nesse último ano. -Respondo, me virando para ele, que desvia o olhar rapidamente em minha direção.

— É surreal o que um único esbarrão causou, né? -Ele brinca.

— Eu nunca seria capaz de prever que terminaríamos aqui. De todos os meus palpites, esse seria o mais improvável.

— Você se arrepende? -Questiona um pouco mais sério.

— De nós? -Não entendo o motivo da pergunta.

— De tudo. -Dá de ombros.

— Não. Eu não me orgulho disso, mas acho que as coisas são como elas são, e talvez se fizéssemos algo diferente, o resultado também seria. -Sou honesta. — É claro que eu gostaria que os desdobramentos fossem melhores, como por exemplo a sua situação com a Lilly ou que não tivéssemos machucados tantas pessoas com o nosso caso, mas não consigo me arrepender de escolher você. É meio contraditório...

— Mas faz todo o sentido. -Ele completa.

— Quando as nossas filhas crescerem e perguntarem sobre como nos conhecemos, não quero que elas achem que foi certo como tudo começou, porque agimos errados, independente do quanto nos amamos, a traição não é justificável. Não é algo que quero normalizar para elas. -Continuo. — Mas também, não vou poder negar o quanto tudo pareceu estar desenhado nas estrelas. É a nossa história, e perfeita ou não, ela é nossa. -Levo um instante para absorver o peso das minhas próprias palavras, então penso no porquê da conversa ter surgido em primeiro lugar. — Você se arrepende? -Sei que já falamos sobre isso antes, mas parece que a cada vez que retomamos este assunto, a maturidade fala mais alto.

— Nem um pouco. -Ele é enfático. — Penso da mesma forma que você, às vezes eu gostaria que as coisas fossem mais fáceis, que tivéssemos nos conhecido anos atrás, quando ainda éramos jovens e solteiros, que tivéssemos um desses romances de sessão da tarde que você tanto ama, mas no final do dia, a nossa história é perfeita por ser nossa, por ser única e do jeito que ela é. Pode ser errado, mas se eu tivesse a chance, faria tudo de novo.

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