Capítulo 1 - Será um longo semestre

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"Some say I've got a bad attitude
But that don't change the way I feel about you
And if you think this might be bringing me down
Look again 'cause I ain't wearing no frown!"

New York é apenas um local em algum lugar do mundo, talvez seja bem parecido com seu mundo, talvez não se pareça em nada. Mas se olhar de perto, poderá ver alguém como você. Alguém tentando encontrar seu caminho, alguém tentando encontrar seu lugar, alguém tentando encontrar a si mesmo. Às vezes é mais fácil se sentir como se fosse o único no mundo que está lutando, que está frustrado, insatisfeito, que mal está conseguindo. Esse sentimento é uma mentira. E se puder apenas aguentar, apenas encontrar a coragem para encarar tudo isso por mais um dia, alguém ou algo, irá te encontrar e fazer com que tudo fique bem. Porque todos precisamos de um pouco de ajuda às vezes, alguém para nos ajudar a escutar a música do mundo, para nos lembrar que nem sempre será assim. Esse alguém está por aí. E esse alguém irá te encontrar.

[...]

Era Setembro e as férias tinham se encerrado há alguns dias. Spring intake era o marco para o início do segundo semestre letivo em todo país, e em Columbia não poderia ser diferente. Depois de um recesso longo as aulas finalmente tinham voltado e com elas, uma nova rotina era demandada não só para os novos alunos, mas também para os professores. As vinte escolas que compunham a instituição pareciam mais cheias do que nunca. O Campus estava cheio de vida e energia com a retomada, haviam grupos de calouros sorridentes explorando os espaços, mestres andando às pressas pelos corredores para chegar no horário em suas respectivas salas, o cheiro de café vindo da lanchonete no salão central.

Certa vez Piaget disse que o principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram. Esse era o lema que guiava a Profa. de História da Arte. Ela sabia que só se podia mudar o mundo através da educação, e tentava o fazer da forma mais amável possível, queria ensinar sobre a antiguidade e primórdios do mundo artístico motivando seus alunos a criarem o novo. Naquela semana, assumiria a regência da turma 3057A, e enquanto seu horário não iniciava formalmente, precisava lidar com as burocracias que compunham o âmbito docente por trás das salas de aula. Por ser novata, não queria chegar atrasada logo de cara para não causar uma má impressão, mas passar por todo aquele trânsito na Broadway Street às 17h parecia ser uma missão impossível.

Quando finalmente conseguiu entrar no estacionamento, parou o carro na vaga reservada à ela e desceu do veículo com sua bolsa de materiais. A mulher atravessou todo o gramado que circundava a universidade até entrar no interior das instalações. Columbia tinha grandes pilares de sustentação que lembravam a arquitetura grega, seus mais de 11.000m² continham salas imensas, salões luxuosos, auditórios e laboratórios onde a mulher jamais imaginou trabalhar.

Havia passado no processo seletivo para professores no início do ano e depois do longo trâmite de contração, começaria a atuar em sua área. Contudo, ao contrário do que imaginava, ainda não possuiria sua própria sala, uma vez que o prédio de Artes e Humanidades se encontrava em reforma. Como as aulas não poderiam ser atrasadas, a solução foi que os cursos componentes do departamento migrassem para os prédios de cursos diferentes, ocupando as salas reservas. Assim, precisava descobrir qual foi cedida para as aulas de história da arte, por isso se encaminhou para a sala dos professores antes de qualquer coisa.

P E P P E R

Se tem algo que você precisa saber sobre mim, podemos começar com o mais importante de todos os fatos: odeio chegar atrasada. Claro, existem ainda pontos como não saber bater papo-furado e ser louca por filmes antigos, mas não cumprir com o horário, isso me causa urticária só de imaginar. Gostaria de dizer que tal característica não tem relação com o fato de eu ser um pouco controladora, mas considerando que tenho minha vida inteira planejada desde os 13 anos, acho que seria uma mentira. Então, quando checo o relógio preso no meu pulso esquerdo pela milionésima vez em um intervalo de 5 segundos, apresso ainda mais os passos. Estou revirando minha bolsa em busca de uma barrinha de cereal para substituir todas as refeições que pulei desde o café da manhã quando bato em um muro de... Bem, pura gostosura, por falta de uma expressão melhor.

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