Benício
Entro em minha sala batendo a porta, cada reunião que preciso olhar para a cara daquele arrogante é um verdadeiro exercício de paciência.
Com a morte do senhor Duarte, os planos para fusão da Farmacom e a empresa da família Castellani, a CastellFarma foram cancelados. Era a nossa chance de retomar um acordo que foi cancelado quando a Barbara se apaixonou. A CastellFarma, domina o mercado asiático e divide espaço com a Farmacom no Brasil, que por sua vez domina o mercado europeu e norte americano, a fusão das duas nos lançará ao topo da indústria farmacêutica. Esse sempre foi o objetivo do meu avô quando sugeriu o primeiro acordo.
Quando a Barbara ainda era uma criança, já estava noiva de mim. Eu estava de partida para estudar fora do país, não tivemos nenhum contato pessoalmente, apenas aceitei e continuei com meus estudos, pois sabia que o objetivo era unir as duas empresas, mas o senhor Duarte foi coração mole e atendeu ao pedido da sua neta para namorar com o Bruno, Barbara não sabia que tinha um compromisso comigo e com a minha família, seu avô nunca falou a respeito com ela. Ele não diria não a sua preciosa neta.
Por sua promessa ter sido quebrada e o noivado desfeito, o que culminou no cancelamento da fusão, ficamos quietos e seguimos nossas vidas, o meu avô me pediu paciência e disse que resolveria tudo. Essa renúncia me fez perceber o quanto essa fusão era importante.
Antes da morte do senhor Duarte estive em uma reunião com ele, iriamos retomar a fusão das empresas em troca ele me pediu para ficar de olho em sua neta, ele estava preocupado com o fato do Bruno estar com um interesse exacerbado na cadeira de CEO.
É de conhecimento geral que a Barbara não quer assumir a posição, ela vai seguir com a carreira, seu avô nunca a pressionou sobre isso, mas ele confidenciou ao meu avô, seu amigo de anos, que não estava confiante em deixar sua neta se casar com o Bruno.
Só de pensar nele me deixa com raiva. Sua arrogância, seu ego inflado por estar em uma posição de poder, mostra a imaturidade dele.
Primeiro ele me tirou a chance de casar e conseguir a fusão da empresa, agora ele se recusa a analisar a proposta de fusão alegando que a Farmacom não precisa se fundir conosco, pude sentir o desdém em sua voz.
— Se não fosse por ele, o casamento que irá acontecer em breve seria o meu.
Me jogo na cadeira me virando para olhar pela vidraça alta que separa o prédio do agito da cidade logo abaixo.
Minha mente me leva para a primeira vez que vi a Barbara pessoalmente.
Com o anúncio do noivado da Barbara eu voltei para passar férias, e fazer surpresa para minha irmã Lara, fui ao ensaio de balé, eu sabia que ela estaria com a Barbara, as duas fazem balé juntas desde criança. Era aniversário da Lara de 18 anos, entrei no auditório que ela estava praticando e me sentei ao fundo para esperá-la, ao seu lado estava ela, minha ex noiva.
Eu já com 30 anos, achei ela ainda uma menina, uma menina linda, com um sorriso doce que conseguiu me prender mesmo que eu estivesse longe, na hora pensei que não seria um grande sacrifício se fossemos mesmo nos casar.
Então o seu noivo entrou no recinto.
Bruno Cavalcante, um homem negro, alto com um carisma e uma imagem que poderia facilmente fazer sucesso como modelo. Sua família com certeza tem planos melhores para ele, já que foram aceitos como acionistas e membros do conselho da Farmacom, empresa da sua noiva. Investiguei superficialmente todos eles, não achei nada demais, no entanto não consigo deixar de lado a desconfiança que me cerca em relação a eles.
Ele adentra o espaço e vai em direção ao palco, com o fim do ensaio a Barbara corre e se joga nos braços dele, é nítido o quanto ela está apaixonada por ele.
Lara me vê e acena, entendo que ela irá se trocar e saio para esperá-la do lado de fora.
Uma batida na porta me liberta desses pensamentos e autorizo a entrada.
Deixando esse assunto de lado e focando no trabalho.
****
Me sento à mesa do jantar e somos servidos ao sinal do meu avô.
Não moro com ele, após passar anos morando fora sozinho, não achei pertinete voltar para cá. Lara ainda mora na mansão ela acha mais prático, eu acho que ela só permanece aqui por ser muito mimada pelo nosso avô.
— Você está atrasado. — Lara diz me fuzilando com os olhos, — estou morrendo de fome esperando por você.
— Avisei que poderiam começar sem mim, fiquei preso com uma urgência no trabalho.
— Eu pedi que você viesse para saber como foi na Farmacom. — O vovô interrompe nosso breve duelo.
— O Bruno não está interessado na fusão, já convenceu alguns acionistas a não aprovarem. — Minha voz sai dura com a menção ao desastre que foi a reunião de hoje.
— Precisamos descobrir uma forma de conseguir essa fusão Benício, vai fortalecer não só os negócios, também vai nos dar uma desculpa para ficar mais perto da Barbara. — Ele diz se referindo ao pedido do seu amigo.
— O Bruno a enfeitiçou com seus encantos, — meu avô fala o mesmo que seu amigo dizia.
Para ele sua neta foi enfeitiçada pelo charme do Bruno, ela orbita em volta dele, e faz tudo do jeito que ele quer. Por isso ele estava preocupado com ela, por esse motivo me pediu para ficar de olho.
— Ela confia muito na Jessica também, como ela não gosta de mim a Barbara acaba indo de acordo com o que ela diz. — Lara toma um gole de suco antes de continuar — já tem um tempo que ela não vai à academia.
Ela ainda deve estar sofrendo com a morte do avô, sozinha naquela mansão após a perda do único membro restante da sua família.
— O que podemos fazer é ficar de olho e tentar mais uma vez conversar com os acionistas sobre a fusão, tenho certeza de que eles irão apoiar ao verem os benefícios que isso trará para todos.
Continuamos o jantar em silêncio, o vovô dispensa a sobremesa e ficamos apenas eu e minha irmã à mesa, decidimos mudar de local e vamos para a área da piscina. A cidade está com o clima abafado e quente hoje, passar um tempo do lado de fora e desfrutar de um copo de uísque vai aliviar um pouco do estresse do dia.
Lara me acompanha, mas ao invés de uísque ela bebe uma taça de vinho.
— Tudo seria diferente se vocês ainda estivessem noivos, — ela diz olhando para o céu estrelado, coisa rara de se ver em São Paulo, — eu teria uma cunhada, e consequentemente uma amiga.
— Você gosta mesmo dela, não é? — suavizo minha voz ao perguntar isso.
— Temos uma história de vida parecida, amamos o balé, escutamos as mesmas músicas, gostamos dos mesmos livros, — ela suspira alto e se volta para mim — ela me transmite confiança, quando bati o olho nela sabia que poderíamos ser amigas, mas o destino não foi favorável a isso.
Lara foi uma criança muito reclusa após a morte dos nossos pais, as amigas que tinha foram se afastando e falavam pelas suas costas, o que fez com que a confiança dela nas pessoas ficasse abalada.
Quando ela soube que eu estava noivo da Barbara vibrou como se tivesse ganhado um sorteio, também ficou triste na mesma proporção com o cancelamento. Lara achava que poderia ter a chance de ser amiga dela, quando ela passasse mais tempo com a gente do que com a Jessica.
— Estou planejando fazer a festa do meu aniversário, meus 22 anos precisam ser comemorados. — Ela muda de assunto e o ar de tristeza se dissipa do seu olhar.
— O que quer fazer?
— Quero fazer na Goldenrod, a boate do seu amigo, acha que ele topa?
— Vou verificar e te aviso.
Ela se deita na espreguiçadeira e coloca uma música no celular para tocar, cada um bebendo o que escolheu, ela com o vinho eu no uísque.
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Um Acordo de Vingança com o CEO
RomansaBarbara, ao descobrir a traição de seu noivo Bruno com sua melhor amiga, fica arrasada. Em um ato de revanche, ela opta por se casar com Benicio, não apenas como uma forma de punição pelas mentiras e infidelidade de Bruno, mas também como uma estra...