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Emma

Convenci a Jenna a participar do grupo de apoio. Depois da crise dela ontem, fiquei mais atenta.

Estávamos de mãos dadas assim que entramos no grande salão, as luzes meio baixas, tinha um tapete enorme no meio do salão. Algumas pessoas sentadas em cima do tapete, outras em cadeiras.

Assim que notaram nossa presença, um homem disse algo ao pessoalmente do grupo e em seguida caminhou até nós.

- Boa noite. - Ele falou simpático.

- Qualquer pessoa pode participar do grupo de apoio? - Perguntei meio tímida.

- Sim, claro. Deixe-me apresentar.- Ele estendeu a mão e nos cumprimentou. - Sou Javier, o fundador do grupo.

- Eu sou Emma Myers, e essa é a Jenna, ahn... minha namorada?! - Falei meio confusa olhando para a Jenna.

- Bom, querem participar?

- Vim trazer ela, não quero incomodar vocês. Creio que é algo íntimo de vocês.

- Não vai não, fica aqui comigo. - Jenna pediu.

- Não tem problema, as duas podem ficar. - O homem não parava de olhar pra Jenna. - Desculpa, mas parece que te conheço de algum lugar.

- Não sei... - Jenna estava meio acanhada.

- Desculpe novamente, mas venham, vamos apresentar vocês para o grupo.

Caminhamos, até as pessoas, Javier entregou cadeiras pra gente, mas preferimos nos sentar no chão.

- Pessoal, essas são a Jenna e a Emma. Emma veio apoiar a namorada dela durante esse processo. - Javier disse calmo.

- Queria muito ter um apoio. - Uma garota disse meio triste.

Na verdade, todos ali pareciam tristes, outros em abstinência, claramente dava para notas os olhos vibrantes, as mãos tremendo, e a agitação no corpo.

- Estamos aqui para apoiar vocês. Alguém quer começar hoje? - Javier comentou.

- Pode ser eu. - Um rapaz levantou do lugar dele e se sentou de frente olhando para todos.

- Boa noite, eu sou o Léo. Sou dependente químico, tenho 25 anos. Estou a 6 meses limpo. - Ele dava pausas para respirar e olhava todos. - Com 15 anos me descobrir homossexual, meus pais fingiam que não notavam, me ignoravam dentro de casa, então comecei a usar maconha com meus amigos da escola. Com o passar do tempo, as coisas foram ficando piores dentro de casa, meu pai não me aceitava e me maltrava de todas as formas, e minha mãe só aceitava as coisas que aquele homem dizia. Para passar aquela dor da rejeição, eu fui fazendo uso das drogas. Primeiro foi a bebida alcoólica, depois maconha, passei para a Heroína, daí em diante não parei, só não provei crack. Meu pai me expulsou de casa, o que piorou ainda mais minha situação. Comecei a me prostituir para conseguir bacar meu vício. - O rapaz parou de falar.

- Como está se sentindo, estando 6 meses limpo? - Javier perguntou.

- Estou me sentindo vivo, tentando viver um dia de cada vez. Estou namorando, e meu namorado me apoia e me ajuda, estamos construindo um futuro juntos.

- Obrigado por compartilhar um pouco da sua história conosco, Léo. Estamos caminhando com você, meu amigo. - Javier disse a frase final e todos repetiram a frase dele. - Jenna, quer compartilhar hoje?

Jenna só sacudiu a cabeça dizendo que não.

- Emma?

Fiquei meio envergonhada, eu sou uma pessoa dependente, mas não de drogas. Mas pela Jenna eu posso fazer isso, ela precisa sentir que estou aqui pra tudo.

- Tudo bem. - Me levantei e fiquei de frente para todos. - Eu sou Emma, tenho 23 anos. Não sou dependente química, mas estou dependente de dessa garota aqui.

Apontei para a Jenna e ela ficou envergonhada, fora que as pessoas ficou fazendo coraçãozinho pra ela.

- Eu encontrei a Jenna em uma boate, e quando a vi naquele momento, sabia que era o amor da minha vida. O amigo dela me disse que ela tinha um certo vício, e bom, voltei os outros dias na boate por ela, não deixei ninguém se aproveitar, e sempre que podia e conseguia, arrastava para o meu apartamento. - Olhei para o rostinho perfeito da Jenna que estava vermelho. - Cuidei dela durante as noites conturbadas, nunca julguei os vícios, e nem vou. Só ela sabe os traumas e as dores que carrega. Hoje eu vim para apoiá-la e mostrar que sempre vou estar ao lado dela, que vou ajudar em cada barreira necessária, porque é isso que a gente faz quando ama alguém realmente.

- Eu te amo. - Jenna disse baixinho quase inaudível.

Meu coração bateu tão rápido, ela está dizendo que me ama também.

- Eu amo essa garota, e se precisar vir 300 vezes com ela nesse grupo, eu vou vir. Espero que tudo isso ajude ela nesse processo difícil.

Quando terminei de falar, todos ficaram de pé e olharam para Jenna.

- Estamos caminhando com você, Jenna.

- Obrigada.

Voltei a me sentar ao lado dela.

Vi o Javier se sentar de frente para nós, ele cruzou as pernas na forma de "índio".

- Bom, pra quem não me conhece sou Javier, tenho 47 anos, já fui dependente químico. Estou limpo a 19 anos. Não digo que estou curado, pois isso é um processo eterno, sempre vivendo um dia de cada vez. - Javier engoliu seco. - Eu comecei a usar drogas com 17 anos, perdi meus pais muito cedo, fui cuidado pela minha avó, a dor de ter perdido meus pais me influenciou a usar, mas sei que o único culpado foi eu. A decisão de usar a droga pela primeira vez foi minha, então o culpado sou eu. Com 24 anos conheci o amor da minha vida, linda, eu chamava ela de Nath. Essa mulher foi tudo na minha vida, ela tentou me ajudar de todas formas, tentou me internar, foi a grupos de apoio, ela foi a mulher mais incrível do mundo, foi impossível não me apaixonar.
Nath lutou comigo até não aguentar mais, chegou um momento que ela não conseguiu mais suportar tudo aquilo que eu tava vivendo.
Eu não tinha dinheiro, cheguei a roubar para comprar drogas, eu agredi ela e minha avó, me arrependo muito.
Nath sumiu, só soube que ela se casou novamente e engravidou, depois disso ela só ficou na minha lembrança.
Depois de 21 anos, estou aqui, sem nenhum traço das drogas, mas cheio de arrependimentos. Eu queria ter apenas uma chance de olhar nos olhos da Nath mais uma vez e dizer que ela foi o grande amor da minha vida, que até hoje não esqueci, e que se estou aqui vivo e sem nenhum vício, é graças a ela. Mas acredito que um dia ainda vou reencontra lá.

- Só espero que o marido dela não fique bravo com o senhor. - Léo falou brincando e Javier deu uma risada.

Olhei para Jenna, e ela também sorria. Fiquei até aliviada, ver meu amor ali, mais tranquila e calma.

- Calma, meu jovem.- Javier falou dando risada. - Eu não vou roubar ela do marido, só quero agradece lá por ter ficado ao meu lado quando ninguém mais quis.

- Estamos caminhando com você, Javier.

E assim a noite foi se estendendo, a Jenna ouvia todos os depoimentos com atenção, senti que ela estava mais aliviada.
Quando chegamos no meu apartamento, eu só senti meu coração aquecer ainda mais

Jenna me abraçou, disse que ama, e agradeceu por eu não desistir dela...


✌🏽

Abstinência De VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora