17:30

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O pôr do sol vai absorvendo a luz do dia até que fique parcialmente escuro, e tudo ao redor vai se amenizando. o contraste e a saturação não delimitam mais com precisão as formas, e apenas uma luz neutra é o que ainda me dá a capacidade de enxergar.

Enxergar, mas não distinguir. É ali que eu vejo o existir no seu significado mais despido de todas as nuances que lhe afetam. As cores dos quadros são discretas, mas não me impedem de sentir a sua presença. Apesar da pouca iluminação, nessas horas eu vejo com muita clareza, tomada pela sinceridade das coisas a medida que tudo vai se extinguindo de luz e me preenchendo de melancolia.

Não a melancolia meio cega, aquela enviesada pelo nosso querer e não poder, poder e não querer, mas uma mais serena, de ser singela.
É ali, às 17:30, que meu coração sabe que está em casa. É quando ele sabe que pouco importa o que acontece do lado de fora, tanto através da porta, quanto através do tempo. não me apego em passados e não me cobro de futuros. Já aguei as mudas, que vão crescer no ritmo dos meus cabelos, coloquei comida para os bichos e tomei café, ouvi a música que queria e andei a pé.

Tudo que eu posso está ao meu alcance, são as poucas coisas que realmente importam se você se despir de toda a vaidade e ambição que o mundo te impõe desde o dia que nasceu. Todas as coisas que possam ser desejadas no momento, já são minhas por direito. Um pouco de água nas plantas, um pouco de vida fora das telas, comida que alimenta também a alma, um pouco do silêncio profundo tão necessário e um pouco de afeto.

validaria ali algum desejo meu, apenas se fosse de, talvez, quem sabe, alguém me esperando no fim do dia para compartilhar esse momento, que apesar do acalento, é cheio de euforia.

(13/07/2023).

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