é preciso manter os espinhos afiados

9 0 0
                                    

Eu me traio todos os dias pensando em ser uma pessoa melhor,
rezo para que os nós dos meus dedos não se apertem tanto com o ódio que afastei rápido demais, sem saber que eu residia dentro dele e acabei me repelindo junto.
Ser macia e doce como a luz do sol me liquefez e eu escorri feito suor e partículas de gás.

O perdão não me liberta quando prefiro acreditar tão facilmente em meias palavras e egoísmos solenes.
atos que não combinam com mentiras contadas,
enganam sob a perspectiva de um amor tortuoso, enquanto me desarmo e me atiro de volta a correnteza,
tudo pra ser vista como a garota dos olhos de mel, mornos e doces.

Como desacreditar de mim mesma e daquilo que faz parte da humanidade como munição e escudo de prata?
Como querer ser despida da ruindade? Se até a mais bela rosa precisa de espinhos pra repor sua imunidade.
Coragem pra aquilo que de mim faz parte, e que a liberdade de ser a maldade prevaleça em meio a esse alarde.

Quero acolher em mim todas as bactérias e fazer uma colônia das feridas velhas que foram provocadas,
deixa-las abertas pra que não surja nenhuma outra ressalva
e que eu não me traia novamente na ilusão de ser diferente,
quando tudo o que somos são meias partes das quais nos foram tiradas.

Precisamos acreditar na força do amor que nos foi arrancada, sem falsamente e equivocadamente tentar preenche-la de moralidade.
Por que querer tanto ser amada por aqueles que atearam fogo nas nossas partes, se no fim o que nos restam são as cinzas das nossas partes mortas?

26/03/2024

Despejos entre coxias e constelações próprias Onde histórias criam vida. Descubra agora