Resquícios de um esquema pútrido e esgoto da minha escória

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Passei pela cozinha e o estalo alto do estépido estúpido das chinelas de alguém bateu na sola do pé e reverberou dentro do meu peito. Engraçado como os mais frágeis frêmitos parecem um terremoto quando nossa casa já está em destroços.

Tinha ajeitado tudo, aberto meu peito, mergulhado lenços nos fluidos da minha alma e espalhado por cada canto da casa, mas não adiantava, os móveis só ficavam lustrosos quando você chegava.
Cada superfície empoeirada que você decorava, eram as palavras que você despejava sem pudor. Me alimentava, me preenchia de alegria, e eu te amava e desejava sem temor.

Por fim, depois de vagar pelos corredores frios arrastando os pés, eu me vi de frente pro quadro. Fragmentos falhos dos restos e frangalhos gélidos dos nossos atos. A fogueira que você pintou no centro ainda ardia, só que agora com a frieza da qual você se liquefez. Você, que nunca soube atenuar suas próprias dores e lidar com seus desamores, derramou tudo de uma vez, inundando o quarto e afogando minhas flores. Eu choro vendo coisas bonitas, estúpidos pedaços de fita, que agora remendam meus tremores.

O silêncio presente era tão alto que fazia um ruído surdo, a cena era de um pós guerra sem aviso prévio. Explodiu logo a bomba sem um plano de ataque que me deixou sem defesa. me desfiz dos meus eus pra você me fazer de presa, depois não encontrei nenhum deles nas trincheiras.

Eu, que achava que aquele seria o último poema que eu escarrava, me relia nos que você me escreveu. E a cada cômodo que entrava e pedaços de você encontrava, sofria pelo seu ensaiado adeus. desensaio enlutado de sonhos meus.

Agora, a casa se encontra sóbria, sem as sombras do sentimento, que em cada momento você evocou. Ando contendo os castigos, ensaiando sorrisos, procurando motivos pra chorar as ruínas que você provocou.

(03/03/2024).

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