13. Um passado que desconheço.

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━━ Upper Yard, Jardim Superior de Skypiea ; Memórias...
ᘡElisabette, Anjo da Morte. ❪O ponto de vista Dela❫

Era um dia comum como qualquer outro; eu estava sozinha como sempre, descansando o corpo em uma nuvem densa enquanto olhava para o céu em silêncio, observando alguns pássaros voando e sentindo o calor do sol esquentar minha pele, deixando-a vermelha. A brisa da manhã refrescava meu corpo, apesar do leve calor que eu sentia. Eu ainda gostava de deitar e aproveitar o silêncio de um dia tranquilo e pacífico, o que há poucos anos havia se tornado frequente desde que meu pai havia tomado o Templo Sagrado para si.

Os únicos sons que eu podia escutar em momentos como aquele eram os que vinham de Upper Yard: os animais que habitavam ali, como lobos, south birds, insetos gigantes e as ondas do mar branco. Eram sons que se tornaram familiares para mim tão rapidamente que me era estranho pensar que, em determinado momento da minha vida, eu não tinha o costume de ouvi-los.

O conforto que eu sentia ao ficar sozinha em dias em que podia desfrutar um pouco do sossego e da minha própria companhia era suave, tão suave que eu poderia optar por ficar assim para sempre. Embora houvesse horas em que odiava isso, odiava a solidão e a falta de alguém para segurar na mão e passear, deitar no colo e ser consolada ou consolar, sentar ao seu lado e apenas conversar sobre o mundo em que vivemos. Conversar sobre o porquê das coisas, por que o céu é azul ou por que letras formam palavras e quais palavras elas formam nos livros e nas escrituras nas paredes dos escombros de Jaya.

Sempre que me pegava pensando nessas coisas, suspiros escapavam pelos meus lábios e um pouco da minha paz também. Escapava sempre, simples assim. Escorregava dos meus dedos sem que eu pudesse agarrá-la e nem o meu maior apelo a faria ficar, igual à minha mãe, que sequer conseguia lembrar como era seu rosto, sua voz ou nossa relação, se ela era uma boa mãe e se eu era uma boa filha. Depois que a perdi, minhas lembranças sobre ela antes do dia de sua morte simplesmente foram ofuscadas da minha memória, restando apenas fragmentos do que um dia fomos. Tudo que lembro é quando ela caiu de costas em meu colo, com uma espada atravessando seu peito e um borrão no rosto distorcido pela minha própria mente.

Eu sentia sua falta, é claro que sentia. Ela era minha mãe, e em algum momento da minha vida foi ela quem me pegou no colo e se tornou meu porto seguro. Em algum momento da minha infância, foi ela quem acalmou meu pranto e enxugou minhas lágrimas.

Agora, anos após sua morte, nem seu rosto eu conseguia lembrar. Não conseguia formular sua voz, o formato de sua face, o tamanho de seus olhos, a cor de seus lábios ou como ela andava e falava. Me via presa por horas pensando nela, no quanto a queria e no tanto que necessitava do seu colo, do seu abraço, de suas carícias. Estava atordoada com o quão desesperada estava pelo conforto do amor materno, mesmo que me visse na obrigação de reprimir e esconder o que sentia, do luto que ainda me consumia.

Entretanto, no fim, eu ainda tinha Enel, apesar de tudo eu ainda o tinha ao meu lado e por mais cruel que ele costumasse ser, ele ainda era o meu pai, o meu Deus. Sempre o terei, afinal de contas. Sempre seremos eu e ele, sempre poderei contar com ele porque... ele é Deus. Ele sempre, sempre, sempre me garantiu que, quando preciso, quando eu percebesse que não poderia lidar, eu poderia clamar por ele, que ele viria ao meu encontro, que ele iria me salvar, que ele iria me proteger e me acolher.

No entanto, é comum reconhecermos a veracidade das situações, não é mesmo? Sempre temos essa percepção. Identificar uma mentira não é uma tarefa complicada, pois enquanto a boca articula falsidades, os olhos e nossas ações revelam a verdade.

Em passos lentos, eu caminhava de volta para o templo ao anoitecer, com meu Mantra desativado e minhas asas descansando, permitindo-me sentir o solo sob meus pés. Refletia sobre minha vida, meu dia, sobre tudo, sem expressar nem metade do que gostaria. Quase sempre permanecia quieta e observadora, olhando ao redor, escutando tudo e todos, mas raramente sendo escutada.

˚𖦹 𖥻 𝐂𝐀𝐋𝐋 𝐎𝐅 𝐒𝐈𝐋𝐄𝐍𝐂𝐄 | 𝐓𝐫𝐚𝐟𝐚𝐥𝐠𝐚𝐫 𝐋𝐚𝐰¸♡ 🫀 ୬Onde histórias criam vida. Descubra agora