PRÓLOGO :harsh winter

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Delicados flocos de neve pairavam no ar,uma brisa gélida soprava mas nada que não fosse suportável. Era uma imagem linda,toda aquela imensidão branca e imaculada.Na infância costumava temer a neve,o gelo e tudo que os remetesse. Na minha opinião o inverno era a personificação dos meus maiores pesadelos, só que ao crescer minha opinião mudou, o inverno se tornou minha estação do ano preferida.

Após semanas longe de casa eu finalmente estava retornando, as temperaturas ainda não haviam baixado muito por ser início da estação, estava acostumada de mais com essa época para saber que isso poderia mudar drasticamente em questão de horas, e se não quisesse correr o risco de enfrentar uma nevasca deveria me apressar.

Todo meu corpo paralisa quando noto um pouco mais a frente um rastro vermelho, sabia que era sangue e que não era de nenhum animal. Pego a adaga presa em minha bota e sigo cautelosamente o rastro,não demora muito para avistar um garotinho arrastando um corpo maior que o dele.

A criança parece notar minha presença pois ergue o olhar em minha direção, seus rosto estava coberto de ematomas em uma tonalidade que mesclava entre o verde e o azul,seus enormes olhos negros estavam um pouco inchados devido ao choro e grossas lágrimas corriam livre pelas bochechas gordinhas. Havia puro terror em seus olhos, o noto soltar o corpo na neve e apertar a barra da camisa grande de mais que usava, só então noto que suas roupas estavam rasgadas e não eram apropriadas para o clima,meu sangue gela  quando vejo um seu pulso uma tatuagem que parecia  galhos cujos espinhos cravavam na pele, ao voltar meu olhar para seu rosto noto como ele encarava a arma em minha mão com medo e aos poucos seu olhar se tornar sem emoção alguma,não consigo não associar a imagem desse garotinho com a minha mesma nessa idade, por experiência própria sabia como era ter suas esperanças arrancadas de si.

— Você está bem? — pergunto guardando lentamente a adaga,sabia que qualquer movimento precipitado poderia causar ainda mais medo na criança. — Precisa de ajuda? —falo novamente quando percebo que ele não ia me responder.

— O...o.. Ni...ko não acorda... — sua voz treme quando fala,não posso dizer se é medo ou frio,embora aposte na segunda opção. 

— Estou procurando um lugar seguro.—ao notar que não tento me aproximar o mesmo se abaixa e começa a puxar o braço da pessoa que agora sei que se chama Niko.

— Vocês estão machucados,porquê não me deixa ajudá-lo? — mantenho meu tom de voz baixo e dou um curto passo para mais próximo do menino, ao ouvir minha voz o vejo erguer novamente o olhar,não posso deixar de notar quão belo são os olhos do mesmo.

— O Az diz que não devo confiar em estranhos, — o menininho diz após um breve silêncio, embora houvesse desconfiança em seus olhos, também era possível notar um brilho de esperança e desespero no mesmo. — mas... se você me disser seu nome... não será mais uma estranha. — aos poucos seu tom de voz se torna quase um sussurro.

— Meu nome é Maely. —digo dando mais um passo.

— Me chamo Mael. — ele diz se afastando um pouco,considero seu afastamento, ainda que mínimo, como um sinal que eu poderia me aproximar. Não perco tempo e corto a pouca distância que nos separava.

O corpo que Mael arrastava era de um menino que aparentava ter uns quinze anos, assim como a criança o rosto era coberto por ematomas e havia sangue seco grudado nos cabelos loiros, me abaixo para analisar melhor e logo identifico um corte profundo no abdômen e o mesmo aparentava está a ponto de ter um hipotermia, tal fato me faz voltar o olhar em direção ao Mael, seus lábios estavam começando a arroxear  e ele tremia um pouco.

— Mael,minha casa não é muito longe daqui, se você quiser pode ficar lá com seu amigo. — tento da  sorriso para tranquilizar a criança, porém tudo que consigo é fazer uma careta. Mesmo com a ausência de um sorriso algo nas minhas palavras parece ter dado certo,já que o mesmo abre um sorriso e confirma com a cabeça. — Certo,nós ainda iremos caminhar um pouquinho, mas prometo que quando chegarmos haverá um chá quentinho para você.  — enquanto falo tiro o casaco que usava e coloco sobre os ombros da criança, a temperatura não me afetaria muito e de toda forma eu ainda usava um sueter de lã por baixo.

Para não correr o risco de andar muito a frente da criança rasgo uma tira de tecido da camisa que o mesmo usava e amarro nossos pulsos juntos,ao notar minhas ações ele fica um pouco alarmado mas depois parece se acalmar um pouco quando me vê colocar o tal Niko em minhas costas. Quando tenho certeza que estamos prontos para seguir viagem começo a caminhar,algo me dizia que esse inverno seria como nenhum outro jamais foi.

Muitas coisas na minha vida haviam feito eu desistir da bondade humana,só que ainda assim eu era incapaz de virar as costas para uma criança, principalmente quando ela mostrava ter começado a passar pelo mesmo que passei quando tinha a mesma idade. Enquanto caminhamos em silêncio, prometo a mim mesma fazer tudo que estivesse ao meu alcance para que esse garotinho não sofresse mais nenhum trauma. Eu  queimaria o mundo antes que isso ocorresse.

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