Capítulo 25

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(Heitor)

Me viro na cama e tento sentir o cheiro remanescente dela no travesseiro, mas depois de dois dias quase não consigo mais sentir o aroma único dela. Não troquei a roupa de cama nem mexi em nada que ela tocou desde a última vez que estivemos aqui juntos, mas não consigo mais notar a presença dela perto de mim e isso está me deixando louco. Depois que ela foi embora sem nem me lançar um último olhar, eu me arrastei do meu escritório até ao meu carro e não me lembro muito bem do caminho até ao apartamento. Nem de como cheguei até a nossa cama, mas desde então tenho estado aqui deitado totalmente escondido do resto do mundo. Só levanto para pegar mais uma garrafa de qualquer bebida que esteja mais próximo a mim ou para tentar ligar para ela. Claro que ela não me atende ou retorna minhas mensagens, a esse ponto já tenho certeza que ela me bloqueou.

Consegui falar com a mãe dela depois de tentar algumas vezes, precisava pelo menos saber se a Luísa estava bem, e acho que por pena ela me atendeu. Ela não contou nada para a mãe sobre o motivo de ter ido embora fugida do Rio, e quando a Lúcia me perguntou não tive coragem também de contar, só disse que tinha sido um mal entendido mas que ia resolver tudo. A mãe dela não acreditou muito em mim, e me deu o típico sermão que uma mãe daria para o homem que fez a filha dela sofrer. Mas enfim, acho que teve simpatia por mim e me disse que estava tudo bem com a Luísa mas que ela não saía do quarto e nem queria falar com ninguém. Me deu um pouco de esperança saber que ela está tão arrasada como eu, e sei que isso me faz ser um filho da puta maior do que eu já sou.

Escuto meu telefone tocar, e novamente vou correndo ver quem é com a esperança de ser a Luísa, mas é o Fernando tentando entrar em contato comigo pela centésima vez. Desde quinta, quando fui embora sem avisar ninguém, ele me liga incessantemente para saber o que aconteceu. Minha avó também tentou me ligar algumas vezes, e minha irmã depois de tentar umas vinte vezes, me mandou uma mensagem dizendo que só queria saber como eu estava. Também não a respondi.

Respirando fundo, jogo o celular na bancada da cozinha e pego outra garrafa de vodka do congelador. A abro e volto para o quarto onde bebo sozinho no escuro, sentado encostado na cabeceira da cama. Eu nunca estive tão no fundo do poço como estou agora, não consigo ter forças para nada, parece que a Luísa levou toda minha vontade de viver com ela. Pego o anel que mandei fazer especialmente para ela do bolso da minha calça de moletom, e fico encarando o diamante rosa envolto de ouro pensando como achei que era uma jóia perfeita para a minha princesa. É absurdo, mas encomendei esse anel uma semana depois de conhecer a Luísa, eu sabia desde o primeiro momento em que a vi que ela era o fim do jogo para mim. E quando ela aceitou se casar comigo, ver meu anel no dedo dela foi o maior orgulho da minha vida, nada se comparou a isso, e acreditei que ela nunca mais tiraria ele do dedo.

E se eu não tivesse sido tão burro, esse anel ainda estaria no dedo da minha futura esposa. Se eu não tivesse agido com tanta prepotência em me achar mais esperto que todo mundo, a Luísa ainda estaria aqui me amando e não em outro Estado ignorando a minha existência. Confesso que a pior parte da nossa última conversa foi ver ela tirando o anel e me devolvendo, sei que ela não queria me ferir, mas se ela tivesse me dado um soco teria doído muito menos.

Guardo o anel no meu bolso novamente e dou mais um longo gole na vodka, que desce queimando na minha garganta. Parece besteira, mas deixo o anel da Luísa colado em mim, como se a qualquer momento eu fosse colocar de novo no dedo dela. Eu preciso acreditar que isso vai acontecer para continuar respirando, mas por enquanto, prossigo com meu projeto de passar meus dias completamente bêbado.

O barulho da porta da sala se abrindo e fechando me deixa imediatamente exasperado, e sinceramente desejo que seja um assassino de aluguel que veio para me dar um tiro no meio da testa. Mas é muito pior, da sala escuto Fernando me chamando e por um momento penso em me esconder.

Minha (revisando)Onde histórias criam vida. Descubra agora