Minha (revisando)

Capítulo 43

(Luísa)

Já fazem três dias desde que visitamos a casa nova e eu vomitei tudo o que tinha dentro de mim. Três dias que eu passei mal todos os dias de manhã, e consegui de algum jeito convencer o Heitor que só estou indisposta e não preciso de um médico. Hoje acho que foi a gota d'água para ele, porque Heitor disse que vamos ao médico de qualquer jeito mais tarde, e estou muito perto de ter um ataque de pânico.

A verdade é que quando ele me perguntou se eu estava grávida, de repente me veio na cabeça todas as vezes que perdi meu remédio e tomei com um ou dois dias de atraso. Por exemplo, quando terminamos tinha perdido a cartela um dia antes, e quando voltei para Minas, demorei mais dois para comprar outra. Quando voltamos para Angra, também já estava sem minha nova cartela que devo ter esquecido no apartamento do Rio. Não sei por que continuo fazendo isso, era para eu ser bem mais responsável e sei que fui muito burra, mas simplesmente acabei me enrolando. Posso tentar culpar minha irresponsabilidade em tudo o que aconteceu e como isso me deixou em um estado emocional abalado, mas a verdade é que já estava deixando de tomar meu remédio bem antes de ter terminado com o Heitor.

E agora estou completamente apavorada com a ideia de estar grávida. Não sei como o Heitor vai reagir a isso, ele sempre fala sobre casamento e parece obcecado nessa ideia, mas nunca conversamos sobre ter filhos. Pelo jeito que ele me indagou lá na casa, parece que não seria algo tão chocante, mas não quer dizer que ele ficaria feliz também. Isso tudo está me pondo em uma pilha de nervos, e agora a pressão do Heitor para irmos ao médico me fez chegar no meu limite e precisei dividir isso com as minhas amigas.

- Finalmente! - exclamo ansiosa quando Sara e Manu entram no meu quarto - Vocês demoraram tanto que achei que o Heitor sairia da reunião dele antes de vocês chegarem.

- Fomos correndo, você que está muito nervosa, amiga. - Sara me dá o pacote com o teste e eu nem discuto indo direto para o banheiro.

- Quando acabar saí logo para podermos ver o resultado juntas! - Manu grita animada do outro lado da porta.

Leio por cima as instruções do teste e faço xixi no palitinho com minhas mãos tremendo. Quando acabo, coloco ele em cima do gabinete do banheiro enquanto eu lavo minhas mãos e rezo não sei ao certo para qual resultado. Isso não pode mesmo estar acontecendo, quão burra eu tenho que ser? Já vejo minha mãe falando, em como eu não me casei ainda, como corro o risco de acabar igual a ela sozinha com um bebê. Sei que ela tem muito medo que aconteça o mesmo comigo, mas Heitor jamais me abandonaria, ainda mais com um filho. Eu só preferia que isso não acontecesse agora, quando ainda estamos construindo nosso relacionamento.

- E ai? O que deu? - Sara bate palmas me olhando nervosa quando saio do banheiro e tenho que admitir que é bom não passar por isso sozinha.

- Calma, no rótulo disse entre três e cinco minutos, - olho para meu celular e faço as contas - não se passaram nem dois ainda.

- Isso é tão excitante! - Manu dá pulinhos mal contendo sua alegria - Um bebêzinho ao nosso redor! Certeza que será perfeito, e eu vou ser a melhor tia de todas.

- Ei, - Sara faz um biquinho e dá um tapa de leve no braço da Manu - é injusto que você possa ser a tia só porque tem relação sanguínea com o nosso bebê. Lu, para ficar justo eu tenho que ser a madrinha!

- Não! - Manu a olha com uma careta - Você não pode pegar o lugar de madrinha assim! Eu poderia ser a tia e a madrinha, nada impede!

- Porra, Manu, mas aí você vai ser tudo e eu nada! A Lu não vai deixar isso acontecer, além de ser uma sacanagem...

Paro de escutar a discussão acalorada das duas, porque é claro que nesse momento de tensão minhas amigas estariam brigando pelo lugar mais próximo a um bebê que nem sei se existe ainda. Olho para baixo e vejo começar a surgir um sinal de mais no visor do teste, meu coração começa a pular no meu peito e fecho meus olhos com força. Quando os abro, não só há um sinal positivo, como a palavra grávida escrita claramente para mim. Puta merda! Não tem mais como eu mentir para mim mesma, estou grávida.