41. Descanso

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Pérola


Dor. Dor. Dor. Muita dor. Era tudo que eu sentia por todo o meu corpo.
Acordei com alguém segurando a minha mão.
Era minha mãe.
-Querida, como se sente? -Ela perguntou acariciando minha mão.
-Estou com dor, mãe. -Falei.
-O médico passou aqui e colocou medicamentos no soro. Logo vai amenizar a sua dor. -Ela disse.
-Obrigada. -Falei.
-De nada, minha filha. Estou aqui com você.
-Me perdoe, mãe. Não deveria ter ido embora.
-Filha, eu compreendo o que você sentiu mediante tanta pressão, mas nunca mais se afaste de nós.  Somos uma família, se um dia você quiser partir, precisamos tomar essa decisão juntas. Seu pai sempre falou sobre o quanto é importante compartilhar as nossas dores. -Ela explicou.
-Sim, mãe. Eu não pensei direito, eu amo Hézeq, eu só me senti culpada. -Expliquei olhando para as minhas mãos.
-A culpa não foi sua. Você foi vítima da maldade do general e Christian também. É difícil ouvir a voz de Deus quando estamos cegos pela culpa.
-Sim...Me perdoe. Amo você. -Falei abraçando ela.
-Eu nunca vou te julgar, meu amor. Sou sua mãe, só quero estar ao seu lado. -Ela disse afagando os meus cabelos.
Eu olhei ela nos olhos e sorri.
-Obrigada!
Então, Kiara entrou no quarto com uma expressão preocupada.
-O que houve? -Perguntei.
-O povo de Hézeq se rebelou e estavam reivindicando a execução dos seus amigos conquerianos. -Ela disse.
-Meu Deus! Eu preciso falar com eles! -Eu disse tentando me levantar.
-Não, Pérola! Christian resolveu a situação! -Ela disse na tentativa de me acalmar.
-Maya está bem? E Aegon? Christian? -Perguntei.
-Estão todos bem. Christian está instalando eles em um lugar mais reservado. -Kiara explicou.
-Preciso vê-los. -Pedi.
-Estou aqui. -Christian disse encostado no batente da porta.
-Christian! Como você está? -Perguntei analisando o rosto dele. Carregava uma expressão de cansaço.
Ele sorriu e se aproximou de nós.
-Você que está ferida e pergunta como estou? -Ele disse. -Você não existe mesmo. -Ele sorriu.
-Eu soube o que aconteceu...Como posso ajudar? Eu...
-Pérola. -Ele disse segurando a minha mão. Fiquei em silêncio. -Confie em mim, não quero que se preocupe.
-Não, não quero que guarde  todos os problemas para si. -Falei.
-Mãe, vamos? Pelo visto essa conversa será longa. -Kiara disse tentando conter uma risada.
-Sim, sim. -Minha mãe afirmou. -Venho vê-la mais tarde. -Disse depositando um beijo na minha bochecha. -E não briguem. -Ela advertiu.
Christian assentiu e elas partiram.
-Me sinto presa aqui e não posso ajudar fazendo nada lá fora. Pelo menos compartilhe comigo. -Pedi.
-Impossível esconder qualquer coisa de você, senhorita Pérola. -Christian disse segurando a minha mão.
Meu coração errou uma batida. Como era bom estar ao lado dele.
-O Conselho é contra o acolhimento de Maya e Aegon. Acredito que terei mais problemas em breve e me preocupo com uma retaliação de Conquer. -Ele desabafou. -O povo estava enfurecido, mas Maya conseguiu acalmá-los com tanta gentileza e carinho. Ela é uma menina muito madura.
-Eu não imagino os problemas que esteja enfrentando por causa disso. Gostaria que houvesse uma solução pacífica.
-Já reparou que nada que envolva você e eu tem a ver com calmaria? -Ele brincou.
-Como consegue brincar em um momento como esse, seu bobo? -Perguntei dando um tapinha na mão dele.
-É que por mais que tudo esteja um caos, consigo ver a mão de Deus em cada detalhe. É por causa Dele que você voltou para mim. -Ele disse.
-Christian... -Eu comecei.
-Olha, sei que estamos passando por momentos difíceis e não quero pressioná-la quanto ao nosso futuro relacionamento.  Eu só peço que fique perto de mim, aonde eu posso protegê-la. -Ele pediu olhando nos meus olhos. -Nunca mais vou deixar ninguém machucá-la. -Ele disse com os olhos carregados de dor.
Segurei sua mão para passar confiança e afeto.
-Obrigada por tanto cuidado comigo, Christian. -Falei. -Meu pai não poderia ter confiado em alguém melhor para cuidar de mim e da minha família. -Acrescentei.
Vi um relance de alegria em seu olhar e ele sorriu.
-Consegui arrancar um  sorriso de você  no meio dessa confusão? -Perguntei surpresa.
-Eu guardo meus sorrisos para você. -Ele disse.
Eu senti minhas bochechas queimarem com aquela afirmação. Cobri o rosto com a vergonha. E ouvi uma gargalhada.
-Eu amo quando você fica sem jeito! -Ele confessou.
-Ah, seu bobo! Não é elegante deixar uma dama sem palavras!
-O que posso fazer? Quando estou com você, eu fico mais leve e tranquilo. Lá fora tenho que assumir uma postura mais rígida e isso é cansativo. -Ele disse convencido.
-Christian, você já teve alguma namorada antes? -Perguntei curiosa.
-Não, mas eu já gostei de algumas meninas quando era mais jovem. Paixão de adolescente. -Ele confessou. -Mas nunca deu em nada, pareciam ter mais interesse financeiro do que em mim. E nesse ambiente hostil em que eu vivia com meu pai era difícil pensar nesse assunto. -Falou.
-Entendo...-Comentei.
-E a senhorita? -Perguntou crispando os olhos.
-Bom...Eu tive um romance -Disse e ele ficou boquiaberto.
-Me conte essa história, Pérola. -Pediu curioso.
-Não deveria resolver assuntos importantes do reino? -Brinquei.
-Sim, estou fazendo isso agora. Investigando o passado da futura rainha de Hézeq. Que tipo de homem foi capaz de roubar seu coração? -Perguntou de forma dramática.
Eu gargalhei. Era uma situação cômica.
-quando eu tinha 13 anos. Só andávamos de mãos dadas, pois ele morria de medo do meu pai. Quando ele descobriu, deu um susto tão grande no menino que ele nunca mais falou comigo. -Tentei conter a risada.
Christian também riu.
-Seu pai agiu certo! -Ele disse aliviado. -Mas duvido que não tenha recebido outras declarações por aí.
-Chega de investigar, rei Christian. -Brinquei.
-Não se surpreenda se eu descobrir e mandar prender alguns jovens apaixonados. -Disse dando uma piscadela.
-Pérola? -Maya chamou baixinho no batente da porta.
-Oi, Maya. Pode entrar! -Permiti.
Ela entrou, olhou para Christian e para mim e sorriu com um olhar travesso.
-Por quê não se casam logo? -Perguntou de forma natural.
Eu arregalei os olhos e me ajeitei na cama. Christian sorriu.
-Eu também não sei, Maya. -Ele respondeu.
-Mamãe dizia que não podemos deixar o amor passar. É como passarinho que pousa em um lugar e vai embora se não encontrar lar. Papai dizia  que quando encontrou a mamãe, não deixou ela escapar. -Ela disse.
Refleti um pouco sobre aquelas palavras. Christian também ficou em silêncio. Maya não parecia ser tão jovem, pois suas palavras eram sempre sábias.
Eu gostava de Christian,  mas mediante tantos problemas no Reino, eu pensava se estava pronta para ser uma rainha e se era isso que Deus havia sonhado para a minha vida.
Não era apenas sobre casar com Christian ou não. Era sobre todos os aspectos da minha vida. Sobre um cargo que faria parte de quem sou.
Eu poderia ser rainha? Eu queria ser rainha? Eu via um futuro ao lado de Christian por toda a vida?
Olhei para ele. Ele me olhou de uma forma tão cheia de carinho, que palavras não são capazes de expressar.
E tive medo.
Medo de todos os sentimentos que ele aquele olhar era capaz de despertar.
Eu estava em apuros.
-Alteza. -Uma serva fez uma reverência. -O senhor Álvaro pediu para chamá-lo. -Ela disse.
Ele respirou fundo e se colocou de pé. Parecia relutante em ir embora.
-Senhoritas, o dever me chama. -Ele disse.
-Obrigada pela visita. -Sorri.
-Voltarei assim que possível. -Ele disse segurando a minha mão. -Maya, não deixe que Pérola levante dessa cama, ok? -Ele pediu.
-Claro, vou ficar de olho nela. -Maya disse animada.

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