Eu não sei ao certo quanto tempo demorei para acordar. Sei que passou mais de um dia. Quando abri meus olhos, vi apenas o escuro da noite. A lua iluminava um pouco do quarto. A janela estava aberta, balançando as cortinas e dando passagem ao vento gélido da noite. Sentia meus pulsos arderem pela pressão feita por cordas, algemas... Seja lá com o que ele tenha me amarrado, conseguiu me machucar. Mas não doía mais do que minha coxa; queimava como brasa.
Se era de provas que eu precisava, ótimo. Eu consegui. Ele existe e isso é assustador.
Com dificuldade, me sentei sobre a cama. Guiei minha mão até o canto da minha escrivaninha e acendi a luminária. A luz laranja assumiu o tom principal do quarto. Estava na minha cama. Parecia ser madrugada. Nem um sinal dele. Pude reparar que os lençóis da cama haviam sido trocados por outros limpos, assim como as faixas que cobriam minha ferida.
Olhei para meus pulsos. Estavam em um tom escuro, quase roxo. Depois, retirei minha calça. Olhei para a faixa na minha perna que jazia quase vermelha por completo.
Abri a faixa com cuidado, retirando em seguida. O corte era fundo. Estava limpo e não parecia ter índices de infecção.
Toquei com cuidado minha ferida, dedilhando a marca com a ponta dos dedos. Um S. Uma marca. Uma assinatura.
Posse.
Indicava posse.
Me encolhi, senti algo doer dentro de mim. Meus olhos ardiam em medo e nojo. Em pouco tempo, estava abraçada aos meus joelhos, sentindo o calor das lágrimas escorrendo sobre minha face. Chorei como uma criança perdida, sem saber o que fazer e sem saber para quem correr.
Senti minha perna escorrer. Guiei meus olhos até lá. Estava sangrando em necessidade de contenção.
Com dificuldade, me levantei. Caminhei até o banheiro. Com cuidado, retirei o que me restava de roupa e entrei na banheira.
A água quente cobria meu corpo, trazendo o conforto mais cobiçado de toda minha vida, mesmo que fizesse minha ferida arder, ainda era relaxante. Me encolhi sobre a água, me afundando ali até o topo da cabeça.
Ele iria voltar. Samael. Ele fazia parte do meu cotidiano, das minhas nadrugadas, e isso não parecia ser negociável. A mera imaginação de vê-lo novamente hoje me fez tremer. Precisava beber algo forte. Não apenas uma dose ou duas. Garrafas.
Sai da banheira. Me sequei e me vesti. Busquei algumas faixas e enrolei na ferida que, agora, sangrava menos. Usava uma camisola quando saí do quarto em direção a cozinha. Fui até um armário cinza, no canto da cozinha, e peguei uma garrafas de 51. Manca, caminhei até a mesa e me sentei ali. Bebi um longo gole da bebida direto do gargalo. Não queria ficar sóbria. O gosto quente da 51 desceu rasgando minha garganta. Estralei a língua após distanciar a garrafa. Sacudi minha cabeça tentando espantar o ardor.
Já fazia algum tempo que eu não bebia pra valer. Tive problemas com álcool quando completei dezoito. Todo dia eu bebia. E quando perdi minha mãe, tudo piorou. Logo em seguida, perdi meu emprego. Me afundei no álcool até que, como um anjo, ele, Kyle, apareceu.
Dou um risada amarga. Como eu o enxerguei tão bem naquela época? Ele me machucou.
Estralei a língua antes de tomar mais um longo gole. Fiz uma careta ao sentir minha cabeça latejar momentaneamente. Era satisfaria beber e ver que em tão pouco tempo já mostrava índices do início de uma embriaguez. Kyle odiava quando eu bebia.
De Kyle para Samael. A vida é uma merda mesmo.
Eu devo ter dormido quanto tempo? Quando Samael apareceu, era madrugada. No mínimo, um dia. Soa estranho pensar que ninguém notou ou ligou para o meu sumiço. Dei uma risada nasal. Tomei mais um longo gole da bebida. Aliás... Cadê meu celular?
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝕯𝖊𝖒𝖔𝖓í𝖆𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (CANCELADO)
HorrorO que você faria se acordasse de madrugada, imóvel, com um belo homem te encarando? Ágatha decidiu acreditar fielmente que isso era apenas um sonho e, eventualmente, ignorou - ou tentou ignorar - suas aparições. Mas isso se tornou impossível quando...