Olhei para ele, desacreditada. Ele retribuiu com um olhar firme autoritário, típico. No fundo de sua íris, vi o brilho oceânico. Como de costume, tive medo. Desviei o olhar, baixando o rosto. Vi quando ele tirou a camisa e tive certeza do que ele faria comigo.
Nos meus joelhos, eu via o sangue de Beverly assim como em minhas mãos e o sentia seco em minha face.. Se eu olhasse para as mãos dele, eu também veria as manchas. Já seria doloroso fazer isso após a morte dela e, com seu sangue no meu corpo, parecia ser pior. Claro, sem contar que eu sequer queria fazer isso, ainda mais com ele.
— Eu posso... Ir me limpar antes? — pedi em um murmuro.
— Seja rápida.
Assim, me enfiei no banheiro. Primeiro, encostei na parede quando senti as forças das minhas pernas se esvair em pavor. Cobri meu rosto, fraca. Iniciei um choro silencioso. Senti quando minhas lágrimas se misturaram ao sangue de Beverly.
Depois de algum tempo chorando, eu retirei as minhas roupas e entrei na banheira. Vi quando a água se tornou um tom de rosé fraco. Senti a água quente envolta do meu corpo, tentando relaxar meus músculos, porém falhando. Eu estava tão rígida quanto uma tábua. Se um canibal me encontrasse, me matasse, me fritasse e comesse, ele veria o tanto que minha carne estaria horrível. Dura. O estresse endurece a carne. Eu seria um péssimo filé.
Ri com a ideia. Um canibal me encontra agora seria ótimo. Se ele fosse um pouco anti higiênico, poderia fazer uma sopa com minha carne e a água do meu banho. Seria péssimo para qualquer um, mas, para o canibal da minha mente, seria ótimo. E melhor ainda para mim. Preferia morrer do que ver Samael de novo.
Abracei os meus joelhos e afundei meu rosto ali. Até parece... Samael nunca me abandonaria. Eu só deveria aceitar isso o mais rápido possível. Não existia nenhum canibal anti higiênico para me salvar.
Depois de algum tempo me lamentando, eu terminei meu banho. Sai da banheira já limpa, enrolada na toalha, e caminhei até a pia. Peguei a escova de dentes e comecei minha higiene bocal. No espelho eu vi uma garota triste, com olheiras, olhos vermelhos e o rosto inchado. A tempos atrás, eu me confundiria com a Beverly de quando eu a chutei de minha vida, porém, não. Essa sou eu.
Depois de escovar os dentes, sai do banheiro, enrolada na toalha. À minha frente, vi Samael sentado na poltrona perto da minha escrivaninha. Ele estava sem camisa e fumava. Na mão livre, possuía uma garrafa de cerveja. Ele parecia mais calmo, quase sereno. Pude reparar que ele também havia limpado o sangue de seu corpo.
Olhei para ele e tive vontade — quase como se fosse instinto — de sair correndo de volta para o banheiro e me trancar lá dentro, porém, tudo que fiz foi agarrar com mais força o nó que segurava minha toalha.
Samael voltou sua atenção para mim. Com a mão livre, ele deu alguns tapinhas em sua coxa, indicando que eu deveria me sentar em seu colo. Não movi um músculo. Algo em seu olhar me assustava... Tinha algo quase predatório lá.
— Vem. Eu não vou te morder.
Murmurei um palavrão. Com passos curtos e trêmulos, eu caminhei até Samael. Me virei de costas e sentei no colo dele. Meu corpo estava rígido e eu estava tentando evitar de tocar em Samael — embora fosse impossível ali.
Senti quando as mãos de Samael grudaram na minha cintura e me puxaram contra si. Minhas costas encostaram no peito dele enquanto eu sentia seu pau rente a minha virilha ainda coberta. Fechei os olhos e implorei em silêncio.
Uma das mãos de Samael soltou minha cintura e correu pelo meu corpo, chegando até meu pescoço e o segurando firmemente. Prendi a respiração automaticamente. Samael o empurrou, até que estivesse deitado sob o ombro dele. Senti a respiração de Samael ao lado da minha orelha e isso me trouxe calafrios. Suspirei baixinho.
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𝕯𝖊𝖒𝖔𝖓í𝖆𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (CANCELADO)
HorrorO que você faria se acordasse de madrugada, imóvel, com um belo homem te encarando? Ágatha decidiu acreditar fielmente que isso era apenas um sonho e, eventualmente, ignorou - ou tentou ignorar - suas aparições. Mas isso se tornou impossível quando...