09 - Cigarros

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Não consegui dormir. Passei a manhã, o dia, a tarde, a noite e a madrugada pensando em matar Samael. Conclui que usaria o maldito canivete mesmo não acreditando fielmente na ideia de que Beliel me ajudaria. Eu precisava arriscar.

No fim, minha vida continuava com Samael ou sem ele e, assim, eu me levantei e fui para a faculdade. Damon não foi, Chloe estava morta e Bev havia sido expulsa da minha vida. Passei o dia só.

O dia estava bonito; o céu estava brilhante e sem nuvem alguma. Um ótimo dia para chorar. Mas eu não choraria.

Não fui trabalhar. Não aguentava mais ficar sóbria. Corri para um bar próximo, evitando passar perto daquele boteco desgraçado onde vi Beliel. Fui para um boteco qualquer próximo a faculdade. O lugar tinha cheiro de velho e cerveja; o melhor lugar para mim. Eu iria encher a cara e esquecer Samael, Beliel, Chloe, Beverly e tudo. Tudo e todos.

Fui até o balcão — todos sabemos que o melhor lugar para bêbados moribundos e tristes é no balcão — e me sentei em uma das cadeiras, esperando que o garçom que, dessa vez, não era um homem nem ruivo com sardas. A mulher era um pouco musculosa, com braços grandes e o rosto marcado. Sua pele era negra e seu cabelo era afro. Era uma mulher bonita, mas tinha cara de poucos amigos.

— Me dá o que tiver de mais forte — pedi.

A mulher assentiu e colocou uma dose para mim. Peguei e bebi. Aquela merda desceu rasgando, esquentando e queimando onde passava. Agradeci o ardor e pedi mais um.

Ainda estava pensando.

Samael faria algo contra Beliel? Beliel parecia tão seguro de si; me tocando, me possuindo e me incitando a matar Samael. Me pergunto se ele ficaria irritado com o fato de Beliel ter me dado um canivete ou se cortaria a mão que me tocou. Talvez, cortasse a língua de Beliel por falar demais. Talvez, não fizesse nada. Talvez, Samael fosse mais fraco que Beliel e, talvez, tivesse medo dele. Talvez, Samael sequer ligasse para o que Beliel dizia a mim ou deixava de dizer. Talvez, não importasse.

Balancei a cabeça. Ainda estava pensando. Pedi mais uma dose e bebi. A mulher musculosa já trouxera a garrafa, a deixando ao lado do meu copo, prevendo que eu beberia bastante.

Samael estava fodendo minha cabeça. Isso era péssimo.

Dei uma risada fraca. Se fosse só minha cabeça... Balancei a cabeça em negação. Estava cansada disso. Bebi mais uma dose.

Ele pensava que eu gostava de tudo aquilo, era óbvio. Ele mesmo disse algo sobre eu "fingir" que sinto nojo dele quando o que mais sinto é repúdio. Odeio quando aparece pois eu já sei que terei de abandonar algo de mim. Aos poucos, tudo seria Samael. O cheiro que sinto na minha casa é de Samael. O gosto que sinto na minha língua é de Samael. O pesadelo que tenho toda noite é Samael. O conforto, o medo, a angústia, o prazer, a dor, tudo, é Samael. Sempre é Samael.

Mais uma dose. Senti minha cabeça girar, mas me mantive estável.

Samael matou Chloe. Ele a matou porque eu transei com ela. Ele mataria Bev se eu ainda tivesse contato com ela.

Coloquei os cotovelos na mesa e apoiei minha cabeça nas mãos. Eu preciso parar de pensar.

Como vai ficar o desaparecimento de Chloe? Afinal, a última pessoa que viu ela foi eu. Ela estava comigo na noite em que ela sumiu. Eu vi Chloe na escola. Falamos sobre o encontro que teríamos e eu enho certeza que Damon ouviu. Ele sabia que a gente ia para casa dela. Sabia que ficaríamos só nós duas. Certeza que ela falou mais para Damon no celular. E eles teriam um encontro amanhã. Damon deve estar mandando mensagens para ela agora. Se ela não responder, talvez ele vá atrás dela. Na casa dela... Puta merda, a casa.

𝕯𝖊𝖒𝖔𝖓í𝖆𝖈𝖔 - 𝕯𝖆𝖗𝖐 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 (CANCELADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora