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Primeiro que o dia já acordou errado no momento que eu decidi que seria uma boa ideia contar sobre a noite anterior pra fofoqueira da minha irmã no café da manhã.

Fiquei relembrando da nossa conversa na minha pequena pausa da manhã no trabalho, Vivi também estava no meio.

-EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ NÃO DEU O TELEFONE PRA ELE! SERENA?!- Escutei Seline gritar as 6:40 da manhã depois de uma noite de sono não tão boa no sofá.—Era um sofá relativamente pequeno ocupado por duas adolescentes bem grandes.

-Não tem nada demais Sel- Falei despreocupada fazendo nossos ovos. Com minha visão periférica vejo Vivi pegando o saco de pão e tirando algumas fatias pra gente.

-Claro que tem coisa! Nena, você entende a química que rolou entre vocês? Você literalmente beijou esse tal de Max- Ela fala pegando o requeijão da geladeira, completamente indignada

-E ainda assim eu posso alegar que foi um lapso entre a falta das minhas faculdades mentais devido a descarga da alta adrenalina depois da crise.- Eu termino os ovos e apago a boca do fogão- Fora que depois de ter vomitado toda a minha ansiedade no coitado duvido que ele realmente queira falar comigo de novo.

-Falou bonito Serena- Vivi fala passando o requeijão nas fatias de pão, eu levo os ovos na frigideira pra pequena e redonda mesa e dou um beijinho na têmpora da garota.

-Obrigada Vivi- Pego algumas colheres para elas e as deixo na mesa.- Agora comam, vou terminar de me arrumar e ai levo vocês pra escola ok?

-Ainda assim Nena, o cara perguntou quando podia te ver de novo! Eu claramente fiz lei da atração pra você antes de ir.- Seline cruza os braços me fazendo gargalhar.

-Apenas coma Sel- Beijo o topo da sua cabeça- A vida não é só resumida a um parceiro, eu sou bem feliz com você e a Vivi sabia?

-Eu sei mas você também se mata de trabalhar! Eu só não acho isso equilibrado, além de mim e da Vivi você não sai com ninguém!- Selina fala, dessa vez fazendo bico.

Eu apenas ri e fui pro meu quarto me arrumar pro trabalho. Eu amava minha irmãzinha

Refleti um pouco tomando a xícara do café superfaturado que eu comprei na cantina da Redbull.

Talvez não tenha sido nessa exata conversa que me dei conta de o quão sozinha eu venho sido, mas foi nessa que pela primeira vez eu notei que a minha solitude preocupava a minha irmã.

Isso me assustou um pouco

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Eu estava apoiada na mesa enquanto olhava pra outro problema no desenvolvimento do carro. Eu resolvi o problema dos pistões, mas agora os mecânicos erraram na quantidade de fluido que deveria passar pra poder entrar em estagio de combustão.

Passei a mão nos olhos os coçando por baixo dos óculos pretos e passei uma mecha do meu cabelo por trás da orelha. Suspirei e coloquei os óculos em cima da mesa.

Vejo Cristian passar pela janela da minha sala e entrar pela porta e antes dele falar algo arrumo minha postura e falo:

-Ah Cristian! Bom te ver, quando você ia falar que eu ia virar a estrategista da sua equipe de fórmula 1? Especialmente, no paddock, a única regra que eu exigi no contrato.- Cruzei os braços um pouco zangada.

-Eu queria te convencer primeiro, mas eu realmente fiquei impressionado pela sua estratégia do outro dia Serena. Eu faço questão de triplicar o seu pagamento pra você ir ao paddock.

Eu fico boquiaberta assim que ele fala, é muito dinheiro.

-Eu sei da regra e entendo por que a pediu, mas na próxima temporada a nossa maior rival vai vir com tudo pra cima da gente e nas últimas corridas o ultimo estrategista não estava indo bem.- Ele coloca algumas folhas em cima da mesa- É o contrato pra próxima temporada, se quiser pode ficar apenas como estrategista depois do contrato, mas eu gostaria que ficasse com a parte técnica do carro como agora.

Pego o contrato da mesa e dou uma olhada

-Não precisa assinar agora, na corrida do Bahrein contratamos você como autônoma e se gostar assina.

-E se eu não gostar?- Pergunto incerta

-Se não gostar volta pro escritório e fica apenas no desenvolvimento do carro com o salário atual.- Ele fala e coloca as mãos no bolso.

Eu não deixava Seline passar nenhuma necessidade em casa e sempre tentava mimar ela na medida do possível. Mas é inegável que ganhar três vezes mais do que eu ganho agora seria o suficiente pra sair daquele apartamento, e bancar a faculdade de Seline.

-Eu vou pro Bahrein, vou ler o contrato e te entrego assinado.- Tudo pela minha princesinha.

O rosto de Cristian parece se iluminar com a minha resposta

-Ótimo, mandaremos pro seu e-mail na semana da corrida as passagens e seu paddock pass. Você vai adorar voltar pra lá.- Horner fala e eu dou um sorriso fraco.

-Espero que sim.- Ele fala mais algumas amenidades e sai da sala me deixando sozinha com lousas cheias de cálculos e desenhos variados. Acabo deixando o projeto de lado o resto do dia para ler o contrato.

E ai, sentada na cadeira levemente desconfortável da minha escrivaninha, decidi que era a hora de enfrentar alguns fantasmas pra garantir o futuro da minha menina. Peguei uma caneta preta barata e assinei o contrato.

Suspirei e coloquei ele numa pasta específica da minha mesa e olhei o relógio sem graça pendurado na parede. Marcavam 18 horas, então, arrumei meus pertences principais e fui pra casa, não contaria pra Seline agora sobre a faculdade e o paddock, somente quando o Bahrein se aproximasse mais.

Já em casa fui recebida por Seline apenas que tinha seus materiais escolares espalhados pela mesinha redonda da cozinha. Ela ajeitou seus redondos óculos— Mais grossos e com toda a armação preta— no seu rosto e me deu um abraço.

Nessa noite eu fiz questão de fazer a janta favorita dela e dormir junto com ela na minha cama, pra me lembrar de que eu voltaria pro paddock, e faria de tudo pela minha Seline.

Let it Flood- [M.V]Onde histórias criam vida. Descubra agora